Fiquei até altas horas da madrugada escrevendo o que poderia ser classificado como uma "linda carta de amor" para Toni. Dando-me por satisfeita depois de ler duas vezes as páginas preenchidas frente e verso das três folhas arrancadas do meu caderno.
No entanto, escrever e ler é algo completamente diferente de enviar. E só Deus sabe se e quando terei coragem para fazer tal coisa. Porque não consigo pensar em um momento mais constrangedor do que Toni lendo essa "carta" comigo junto.
Pouco antes de dormir, deixei meu iPhone programado para despertar às cinco horas. Algo que só me rendeu duas poucas horas de sono. Porém, algo necessário para que eu pudesse "tirar a ferrugem" e praticar alguns passos de balé antes das aulas de logo mais.
Transferi as músicas do pendrive para o meu iPod antes de descer com as sapatilhas em mãos até a academia onde meu irmão costuma treinar. Para minha surpresa, ele não está aqui no momento o que me deixa mais à vontade. Calço as sapatilhas; coloco os fones no ouvido.
Respiro fundo e fecho os olhos, deixando a melodia guiar meus passos; trazendo da memória todos os movimentos que me foram ensinados há tantos anos e ainda assim, presentes em cada lembrança das aulas de balé.
Encerro o aquecimento com um
último giro terminando em posição croise devant.Um modesto sorriso abre no meu rosto quando eu relaxo a postura e retiro os fones de ouvido. Uma lenta salva de palmas atrai a minha atenção e quando me volto para a entrada da academia, Cadú está parado junto aos primeiros equipamentos de musculação.
"O que está fazendo parado aí me observando?"
"Preciso começar meu dia socando alguma coisa ou vou acabar socando alguém no trabalho", meu irmão responde atravessando seu espaço de treinamento.
"Está tão ruim assim?"
"Você nem faz ideia. E o salário, se é que dá para chamar aquilo de salário, não vale tudo o que eu passo de raiva e frustração", ele responde, calçando as luvas e parando em frente ao saco de areia pendurado em um canto. "O que você estava fazendo aqui tão cedo e para praticar balé? Você sempre odiou dançar!"
"Vou dar aulas de balé para as crianças do instituto que a família do Toni administra", respondo enrolando os fios no iPod.
"Coitadas dessas crianças", Cadú resmunga. "Falando no seu príncipe encantado...", meu irmão diz e eu reviro os olhos. "Você disse que ele te ajudou a conseguir uma bolsa de estudos, certo?"
Balanço a cabeça assentindo.
"E o que tem isso?"
"Acha que ele poderia me ajudar com alguma coisa do tipo?" Cadú pergunta meio sem jeito.
"Está me dizendo que resolveu cursar educação física?" Disparo na direção dele, já prevendo sua resposta.
Quando meu irmão confirma com um breve Uhum resmungado com muito mal humor e eu me lanço na direção dele, envolvendo-o em um afetuoso abraço.
"Estou muito feliz por você!"
"Obrigado, Lisa! De verdade", Cadú diz meio sem jeito interrompendo o abraço. "Mas, não conta nada ainda. Para ninguém", ele me adverte e eu aquiesço. "Você e a Ana são as únicas pessoas que sabem."
"É mesmo... A Ana pelo jeito soube primeiro do que eu!"
Cadú me lança um olhar de advertência do tipo: "Não começa", que geralmente eu lanço a minha melhor amiga.
"Vou conversar com o Toni e ver como ele pode te ajudar", digo e Cadú aquiesce.
"Não esqueça de perguntar o que ele vai querer em troca de me ajudar."
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Um Grito de Liberdade (CONCLUÍDA)
RomanceLisa cresceu acreditando que deveria seguir o modelo de vida imposta por sua família rígida, autoritária e controladora. Até que um dia, algo acontece e Lisa começa a se questionar se as escolhas que a família faz são de fato o melhor para ela. Nem...