III

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Quatro semanas se passam e finalmente chega o dia do baile.
A casa está um rebuliço,mas tudo está no controle.

As champanhes já chegaram e estão na adega,todos os castiçais já foram colocados em cada canto do salão. Não pode haver sombras,tudo e todos têm que estarem iluminados. A orquestra logo chegará,pois um festim tem que ter muita alegria.

Sem contar que um baile é uma ocasião para se fazer negócios,conhecer novas pessoas e o tão desejado _ ou temido _ matrimônio tem início nos passos de uma valsa.

Estou na cozinha vistoreando,ou melhor,provando as delícias que estão sendo finalizadas. Selia está ao meu lado carrancuda,segundo ela não é adequado se empachar com doces.

_ Preciso saber se tudo está perfeito _ digo,ignorando seus protestos e lambendo os dedos.

_ Senhorita,é deselegante que faça isso!_ ela praticamente grita,mas segura seu tom.

_ Selia,qualquer dia vou mandar esquartejar e cozinhar você. _ falo pegando um quindim. É uma ameaça que nunca vou cumprir.

Ela é minha acompanhante a quase dois anos,desde então vem tentado me transformar em uma dama refinada. Encontrei Selia na capital,Rio de Janeiro. Estava voltando de um sarau, junto com tio Eduardo quando a vi. Andava sozinha como uma trouxa na mão.

Mandei o cocheiro parar,desci e perguntei para onde iria. Ela falou que não sabia. Só precisava de um lugar para passar a noite. O que seria difícil,uma mulher desacompanhada não se hospeda em estalagem,a não ser que pouco importe sua reputação.

Pedi que me acompanhasse,pois não ficaria sozinha. Durante o trajeto insisti que contasse o que houve. Sem hesitar,falou que foi demitida por causa do marido de sua patroa. Ele queria que Selia fosse sua amante. Contou o que estava acontecendo para a esposa dele,mas esta não acreditou. A acusou de ser mentirosa e a expulsou com uma mão na frente e outra atrás.

Ela não foi a primeira e nem seria a última a passar por tal situação.

Sem pensar duas vezes a contratei para ser minha dama de companhia. Selia ficou tão feliz que se ajoelhou agradecendo.

Mas eu dou trabalho. Nem tudo que ela aconselha fazer,faço.

Às vezes esqueço o chapéu quando saio,mas ela sempre tem um me esperando. Uma donzela nunca sai com os cabelos descobertos.

Uma dama não chama um cavalheiro pelo nome de batismo,tem que ser o nome da família. Caso contrário,denota intimidade.

Uma mulher refinada não gargalha,apenas ri suavemente. Não fala alto,é quase um sussurro.

E muitas outras coisas que só a rapariga* da Selia para lembrar.

_ Aurora _ chama Bianca na porta da cozinha.

_ O que foi?_ engulo o quindim devagar.

_ Preciso falar com você.

Dispenso Selia e acompanho minha irmã até seu quarto,que está revirado com tantas fitas,saias e calçados. Bianca para se arrumar leva o dia inteiro. Ainda bem que já são três horas da tarde.

_ O que deseja?

_ Chegou esse bilhete agora pouco _ ela estende um papel.

Pego o bilhete e leio,é de uma pessoa que não virá ao baile. Alguém que muitos julgam errado sua personalidade.

_ Aurora sei que não julga ninguém,mas convidar Violeta é um pouco demais_ ela cruza os braços contrariada.

_ Violeta jamais viria Bianca,apenas convido por educação.

Aurora _ A Cada Amanhecer Uma Surpresa Onde histórias criam vida. Descubra agora