XXIII

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Estou no quarto de meu primo velando por seu sono. Está com febre e  delirando. Retiro o tecido molhado de sua testa,o molho outra vez e ponho sobre a mesma. Já se faz noite e ainda não descansei.

Duas semanas se passaram desde que falei com Felipe.

Exatamente duas semanas que não colocava os pés em casa.

Catorze dias que vivia no bordel. Violeta,a cortesã,avisou que Felipe estava praticamente morando lá. Com bebidas e mulheres.

Catorze dias que deveria me sentir culpada,mas não sinto remorso. Não cometi crime algum. A imaturidade dele o levou a esse ponto.

Meu tio soube o que aconteceu três horas depois que meu primo saiu desatinado. O chamei para ter uma conversa logo após o almoço.

_ Está certa de sua resposta?_ questionou tio Eduardo quando terminei de relatar.

_ Tão certa quanto meu nome ser Aurora.

Tio Eduardo ficou levemente entristecido,afinal era do seu filho que estávamos falando.

_ Não tive intenção de ferir os sentimentos de Felipe,mas não havia como evitar. Nunca em toda minha existência,dei esperanças de um futuro matrimônio com ele.

_ Compreendo sua posição,mas não posso deixar de sentir por meu filho. Felipe sempre a estimou,e como nunca aceitou casar com cavalheiro algum,teve esperança de que poderia ser seu futuro marido. _ falou com certo pesar.

_ Ter esperanças é normal,mas Felipe sabia que poderia ser mais um dos quais recuso. No entanto,ser rejeitado não é motivo para que denegrisse minha conduta. Perdi o controle e dei-lhe uma bofetada.

Tio Eduardo ficou abismado com essa  revelação.

_ Foi merecido,Felipe sabe que você é uma pessoa honrada e de caráter indubitável. Muito me desagrada que tenha agido de uma forma inaceitável. _ seu tom é de desgosto.

_ Espero que não esteja chateado comigo,o senhor me conhece e sabe  que jamais subiria no altar sem pensar duas vezes. Ponderei sobre a proposta de meu primo,afinal fomos criados juntos. Todavia,não será possível tal enlace.

Meu tio me olhou com serenidade e uma admiração que sempre vi em sua face. Ele é um livro aberto,tão fácil de lê suas emoções.

_ Minha querida,você jamais me deu motivos para tê a mais leve das irritações. Confio na sua decisão,acredito que saiba o que é melhor para si.

_ Agradecida meu tio,seu apoio sempre foi um dos meus alicerces.

Passamos a tarde conversando,e claro que Claudete não ficaria de fora. Meu tio contou que sentia saudades da noiva. A muito custo,segurei minha língua para não contar o que sabia dela. Ainda bem que ele não perguntou nada a respeito de um possível amante que eu poderia ter,como insinuou Felipe. O que me poupou um desgaste emocional.

A noite chegou e meu primo não havia retornado. Tio Eduardo ficou preocupado,mas não foi preciso procurar por ele. Um recado a mando de Violeta aportou contando onde estava esse desatinado. Dessa forma se passou duas semanas,com meu tio preocupado com o filho. Senti pena dele,por essa decepção com Felipe,ao mesmo tempo senti raiva desse idiota por fazer o pai ter um desalento.

Não mais suportando a infantilidade do filho,meu tio foi buscá-lo. Até pensei em ir até o bordel,arrastá-lo pelas orelhas se preciso fosse,para trazê-lo de volta. Mas tio Eduardo enfatizou que não seria adequado me verem em um ambiente promíscuo. O próprio saiu para trazê-lo,junto com alguns lacaios para ajudar. Felipe voltaria nem que fosse à força.

Aurora _ A Cada Amanhecer Uma Surpresa Onde histórias criam vida. Descubra agora