VIII

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Dominique acha graça de tudo que não sei.

Explicou o que é pizza_ que por sinal é uma delícia _ mostrou a geladeira,que serve para conservar os alimentos por mais tempo. Já não é mais necessário usar sal ou fumaça para conservar a comida.

Há o fogão que é a gás. Não é mais a lenha. A pia com torneira substitui o jiral. O quarto de banhos é notável,há uma engenhoca chamada chuveiro. Já não é mais necessário carregar baldes e baldes com água para encher uma banheira. A escova de dentes é macia,bem diferente de hastes de bambu que estragavam.

No entanto,o que me deixou admirada foi o o urinol moderno. Ele substitui a casinha. Sem falar que não tem cheiro estranho.

O que dizer do papel higiênico? Substitui o alface,repolho ou sabugo de milho perfeitamente.

Dominique também arranja roupas para mim. Ela diz que depois vai comprar mais.

_ Tô preocupada com o fato de você não saber quase nada_ diz a moça quando retornamos para sala_ Tem certeza que não se lembra de nada?

Eu havia contado para a jovem que não tinha consciência de onde estava e nem quem seriam meus parentes. Nem como vim parar por ali. É uma mentira é claro. Mas dada às circunstâncias,não posso contar que vim de 1790 para os anos 2000.

_ Ainda não,vagamente penso em uma grande plantação. Mas não sei o que significa.

_ Tudo bem _ a jovem senta no sofá _ Mesmo que não se lembre,tenho certeza que logo acharemos sua casa. Isso se já não tiverem procurando por você. Até lá sua memória volta,um surto psicológico não deve afetar tanto o cérebro. É só uma questão de tempo.

Dominique pega um objeto preto e aponta para a grande tábua na parede. Assusto-me com o som que faz. Por todos os deuses,tem pessoas dentro dessa coisa. Como é possível?

_ Srta. Dominique.

_ Sim.

_ Obrigada por tudo.

_ Tranquilo. Agradeça ao Alejandro,pois ele que te achou _ ela está fixa na coisa luminosa que mostra um cachorro mordendo o pé de um rapaz.

_ Ele não parece gostar de mim._ falo a contra gosto.

_ Alej é por lua,amanhã é capaz de dar bom dia e te dá um bombom.

_ O sr. Albuquerque mais parece seu irmão que seu tio.

_ Alej é mais velho que eu 8 anos. Fomos criado juntos _ ela ainda está olhando para a cena na parede,mas está distante _ Minha avó Claudia,teve dois filhos,meu pai Antonio e 15 anos depois teve Alej. Eu nasci e convivi com Alej como irmãos. Sempre brincava com ele. Então uma tragédia aconteceu. Um acidente tirou a vida de meu avô Gusttavo e dos meus pais. Lembro que Alej ficou desolado,mas não derramou uma lágrima. Alguns anos passaram,eu estava no ensino médio e Alej já estava terminando seu curso de veterinária. Um dia depois da sua formatura,vovó morreu. Foi dormir e não mais acordou. E mais uma vez,Alej não chorou. Ele ficou calado,frio e tão distante. Desde então,ele não procurou trabalhar e nem ter qualquer responsabilidade. Vive nos jogos,corridas e lutas clandestinas. E com muitas mulheres.

Ela termina seu discurso tão serena. Fico impressionada com o fato dela se abrir tão fácil para mim. Não por ser uma estranha,mas é que não consigo revelar minhas lembranças ou história tão facilmente para alguém.

_ Eu não parei como Alej fez. Me formei e lutei muito para ser uma arquiteta profissional. Alej comprou a casa em frente e se mudou quando completei 18 anos. Ele é uma boa pessoa,só tem que aprender a relevar suas loucuras.

Aurora _ A Cada Amanhecer Uma Surpresa Onde histórias criam vida. Descubra agora