XXXXIX

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Os dias passam  e os enjoos vêem. Fico míope,sono que não acaba mais e por qualquer coisa choro. Alejandro explica que são hormônios de gestação. Não tenho paciência para tricotar e quem está cuidando do enxoval do bebê é Bianca. No início achei que seria errado deixar que fizesse isso,a julgar pelo que houve,porém insistiu tanto que cedi. Vejo que está mais que satisfeita em fazê-lo e isso me basta.

Dias viram semanas e com elas os desejos surgem. Desperto de madrugada com mais uma dessas vontades exóticas. Acordo Alejandro,que abre os olhos rapidamente e mais lesto que um coelho se ergue.

_ O que foi? Sente alguma coisa?_ desde que falei que estou prenhe,meu marido vive em constante alerta.

_ Sinto,mas não é nada ruim. É só um desejo. _ é evidente que fica aliviado. _ Quero comer coxinhas de rã com três gotinhas de limão.

_ Rã?_ repete confuso,quase não acreditando. _ Nosso filho exige cada coisa. _ joga os lençóis para o lado, desce da cama e procura por suas vestes. _ Mas vou atrás,não quero que nasça parecendo um sapo.

_ Não sabia disso. É verdade mesmo? Que pode nascer com aparência de rã?_ me parece absurdo,porém não duvido.

_ É o que ouvi dizer. _ põe a última peça e se aproxima de mim. _ Só que não vou arriscar,desejo de grávida é uma ordem. _ me beija suavemente e sai correndo do quarto.

Alejandro faz todas as minhas vontades sem pestanejar,o que deixa algumas damas que encontro pela vila,com inveja. Nem todas têm um cônjuge que se preocupe com suas necessidades.

Não fico no aposento,vou para a ala dos empregados e chamo a cozinheira. Explico o que quero e nem se abala com a situação. Na verdade,conta como foi a gestação de seus filhos e dos desejos que teve. Estou tão ansiosa que parece que o relógio não anda. Até que Alejandro surge na cozinha,junto com um dos lacaios;cada qual com um saco na mão e o som evidente de rãs se faz ouvir. Os dois estão estrupiados,as vestes rasgadas,enlameadas e com folhas até nas orelhas. A cozinheira pega os volumes e trata de cuidar dos bichos,junto com o lacaio.

_ Estavam brigando com uma onça?_ pergunto vendo Alejandro se livrar da casaca em estado deplorável.

_ Esses animais são ligeiros,foi um verdadeiro sufoco e ainda fomos atacados por abelhas. _ mostra o pescoço inchado e avermelhado.

Não consigo controlar a gargalhada com toda essa situação. E surpreendentemente Alejandro se diverte junto.

_ Se o primeiro filho causa tudo isso,imagine quando vierem os outros. _ comenta em meio aos risos.

_ Devagar com o andor que o santo é de barro. _ os risos param imediatamente. _ Ter vários filhos pode ser lindo,mas parir dez crianças é pedir demais.

_ Entendo seu posicionamento,pelo que vi até agora nesse século,mulher é vista como um receptáculo cuja obrigação é dá à luz. _ puxa uma cadeira e se senta ao meu lado. _ Dificilmente alguém pensa que a mulher tem uma opinião e que ter filhos não é seu desejo.

_ Por muitas vezes considerada culpada quando não emprenha. Um absurdo que é cultuado firmemente. Conheci uma mulher que foi casada por três anos e não gerou filhos,o marido a acusava de infértil e tudo mais. Até que ficou viúva,passou um tempo,contraiu matrimônio com um homem já viúvo e que tinha vários filhos,portanto,ela ser estéril não importava. Não demorou e logo a família aumentou. Todo ano era um bebê que nascia. O que prova que o primeiro marido tinha problemas e não a esposa.

_ Certamente o finado marido jamais admitiria tal coisa. Até mesmo futuramente,essa arrogância masculina existe.

Continuamos a conversar até que a cozinheira nos interrompe,trazendo uma travessa com as coxas das rãs. Tostadas e com um aroma delicioso. Não perco tempo,ataco uma colocando limão e degustando com maior prazer. Alejandro me observa com o cenho franzido,não o apetece essa iguaria.

Aurora _ A Cada Amanhecer Uma Surpresa Onde histórias criam vida. Descubra agora