XXXV

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Não prestei atenção em como voltamos,se foi pelo céu ou inferno. A vida de Alejandro custou a vida de outra pessoa. Não sei como ficar conscientemente tranquila. Tenho a sensação de que matei alguém,embora tenha sido a feiticeira que fez a barganha.

_ Bem vinda de volta!_ a voz da necromante me tira dos meus devaneios.

De fato,estamos em terra firme. Melhor,na terra dos vivos. Nem parece que saímos dali,o aposento continua o mesmo. Volto minha atenção para o leito,onde está meu amado e para lá vou apressada. Toco sua face e me surpreendo por está morna. Sua respiração está ritmada e uma onda de alívio me varre,por um instante esquecendo os últimos acontecimentos.

Lentamente,abre as pálpebras,revelando as negras íris. A alegria é evidente no sorriso que se expande por meus lábios.

_ Alejandro. _ digo seu nome como uma bênção.

O leve erguer do canto de sua boca,insinuando um sorriso, é suficiente para fazer meu coração bater descompassado. Meu rosto está molhado devido às lágrimas,que agora são da mais pura felicidade. Por poucas coisas somos gratos na vida,e ver Alejandro abrir os olhos é exemplo disso.

Porém,tão rápido quanto abriu,os fecha. Não fico angustiada,pois sei que ele está bem,somente cansado.

_ Acredito que agora não haverá mais empecilho. _ ouço a mulher falar,o que me faz levantar-me e ficar frente a ela. _ Não pretendo vê Mórrigan tão cedo. _ rir,embora sua expressão esteja cansada.

_ Obrigada Claudete,você se mostrou uma boa amiga. Jamais vou esquecer sua atitude.

_ Isso é pouco diante de todo mal que já causei.

_ Mas você mudou,isso é o que importa para mim. Se perdoe Claudete. _ tomo sua mão nas minhas.  _ Porque já perdoei-lhe. _ ao proferir tais palavras,sinto-me leve.

A feiticeira me olha com surpresa,abre a boca para falar,mas nada sai. Seus olhos se enchem de lágrimas e no impulso me abraça e retribuo o gesto.

Um abraço que esperou mil setecentos e noventa anos para ser dado.

Um abraço que perdoa.

Um abraço que reúne o que um dia foi separado.

Um abraço que confirma o poder de algo que existe antes do mundo ser criado,antes do Verbo até:o amor.

Nos afastamos,não precisamos de palavras para descrever o que sentimos. Basta saber que estamos felizes com a reconciliação.

Contudo,uma questão me apoquenta.

_ Claudete,quem vai ficar no lugar de Alejandro?

_ Não se preocupe com isso. Cabe a mim lidar com essa barganha.

_ Ainda assim,quero saber quem perderá a vida pela de Alejandro. Ou essa pessoa já morreu?

_ Em breve partirá. Essa pessoa já está com os dias contado há um tempo,só será abreviado. É tudo que vou dizer por enquanto,Aurora. _ sua postura fica séria e não pressiono. _ Você fez uma viagem incomum a pouco,tem Alejandro de volta e precisa descansar também. _ ela dá um passo para trás,mas antes que se vire,parece lembrar de algo. _ O que quer que seja feito com as pessoas que viram Alejandro morrer?

_ Sinceramente,nada. _ de fato,não estou preocupada. Com tudo que vem ocorrendo,esses pormenores são a última coisa que vou dá importância. _ Milagres acontecem.

_ Milagres não se explicam. _ a feiticeira concorda e finalmente se retira.

Retorno para o leito,ajeito os travesseiros sob a cabeça de Alejandro,assim como os lençóis. O ferimento no peito aparenta melhorar,e,observando-o se fechar,uma questão que não havia dado atenção ganha força.

Aurora _ A Cada Amanhecer Uma Surpresa Onde histórias criam vida. Descubra agora