XXXI

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         Pelos olhos de Claudete
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" Era o ano de 1635,Escandinávia. A Europa estava um pandemônio por  causa da perseguição às bruxas ou qualquer pessoa minimamente suspeita. Cheguei até aquele país camuflada,apesar de ter me tornado uma feiticeira com mais conhecimentos,não era tola em deixar que me apanhasse. Uma vez que os inquisidores estavam contando cada vez mais com recursos e com caçadores mais preparados,me manter invisível aos olhos da Santa Sé não foi fácil.

Conheci você,Aurora,que na época se chamava Karin. A vi na rua,junto de vários populares que se aglomeravam  para ver uma senhora maltrapilha que foi condenada à morte por bruxaria. Ela era inocente,como muitas outras pessoas que arderam nas chamas,perderam o fôlego numa forca e a vida nas águas. Você não aceitava a morte para aquela mulher,mas era só mais uma entre tantas vozes que o Alto Clero não ouviria.

Me aproximei de você,sem que me visse. Sua aura continuava a mesma,com a simplicidade e compaixão que sempre lhe foi tão característico. O senso de justiça e indignação estavam estampados no seu semblante.

_ Não é justo o que fazem com essas pessoas. _ ouvi você falar.

_ Mas ela é uma bruxa! _ revidou uma jovem ao seu lado,tão alquebrada quanto a mulher que morreria.

_ Você poderia ser acusada também,por somente ser uma sonâmbula. Mesmo sendo inocente,não haveria absolvição. _ você retrucou contrariada. _ Ainda que essa mulher conhecesse alguma feitiçaria,ela deveria ser entendida e quem sabe ensinar-lhe os princípios cristãos.

_ O que está a insinuar Karin?_ pergunta uma senhora ao lado. _ Que a Igreja não sabe o que faz? Cuidado para não ser vista como herege.

_ Estou afirmando o que muitos esqueceram,que toda pessoa merece uma chance para se redimir,se assim se arrepende. Não vejo essa justiça sendo aplicada no tribunal,ao contrário,só vejo demonstração de poder com punhos de ferro.

_ Suas palavras podem ser sua ruína. _ diz a senhora sem qualquer empatia. _ Esconda seus pensamentos minha jovem,para que não seja você a está naquela fogueira.

As palavras da senhora não lhe preocuparam,sua opinião estava firme. Você acreditava na redenção e isso me acordou uma velha lembrança. Quando Idris abriu mão de sua vida pela libertação da minha alma. Na época,não me importei com o que viria,sua escolha apesar de nobre,a considerei tola.

Lembro claramente,que Mórrigan surgiu das sombras enquanto sua alma e de Cassius rumavam para o plano espiritual. Ela é uma deusa que dá com uma mão e tira com a outra,ampliou meus conhecimentos místicos,mas deu a Idris o dom do encantamento. Mórrigan não revogou sua decisão e assim permitiu que suas palavras se tornassem reais. Naquela noite,nas planícies de Jerusalém com o frio cortante trazido pelo lamuriante vento,vi suas almas tomarem outro destino. Como necromante,o mundo dos mortos é minha casa e ver espíritos vivos e espectros todos os dias é natural. Tanto Idris,quanto Cassius não completaram a passagem e suas auras desapareceram,como se não houvessem morrido e percebi que em algum lugar do mundo,ambos estavam sendo preparados para retornarem.

Ignorei os avisos de Mórrigan,de que meu descenso estava prestes a começar. Deixei a Senhora da Morte e parti para além da velha Canaã,rumei para os recônditos da velha Prússia,onde me tornei uma gutuari  (invocadora)e pelas ruínas da inesquecível Babilônia,aprendi a manipular os espíritos sombrios e roubar suas energias para conservar minha vitalidade. Passei a sentir o poder crescer e o desejo de dominar falou mais alto. Não pensei em inocentes,apenas tirava proveito de tudo e todos. Reis,imperadores e grandes generais caíram aos meus pés,não hesitei em tirar vidas se isso fosse me fazer mais forte ou somente pelo meu prazer. Desafiei grandes magos e sábias feiticeiras,não poupei esforços para me tornar uma grande mágica. Em toda essa busca pelo poder,me deixei levar pela ambição e arrogância.

Aurora _ A Cada Amanhecer Uma Surpresa Onde histórias criam vida. Descubra agora