IX

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Os primeiros raios da aurora já despontam e estou de pé a muitas horas.

Minha mente relembra inúmeras vezes o pesadelo _ não posso chamar de sonho,é triste demais _ e parece que voltei mais ainda.

No tempo.

Certamente era século XV,período feudal,na França.

O convento era o destino de muitas moças. As donzelas _ por serem de famílias abastadas e por isso dadas em matrimônio _ escolhiam o celibato para fugir de casamentos forçados.
Quanto às camponesas, se não casavam com algum lenhador ou camponês, o hábito de freira era o melhor que poderia ter. Isso quando não morriam de fome antes.

A imagem de Marine sendo maltratada pelos populares me entristece.
Morreu por amar demais.
Morreu porque seu amor já não mais vivia.

Senti a dor de Marine,o quanto sua alma se quebrava e seu coração morria.

Senti porque eu era Marine.
Marine amava William.
William era a cópia fiel de Alejandro.

Dou outra volta pelo aposento e passo a mão pelos meus desgrenhados fios. Tive dois sonhos estranhos,em ambos faço parte da história. Neles amei demasiado homens e por amor morri.

Estive em dois períodos diferentes. Como Elizabeth,vivi o século XVI,nas divisas entre Inglaterra e Escócia. Sendo Marine,fiz parte do século XV,na França.

Tenho necessidade de gravar tudo num papel,quem sabe assim possa entender o que não vejo claramente.
Mas já não possuo meu diário de desenhos.

Sem ter o que fazer,pego uma das roupas que Dominique emprestou que estão no armário pequeno,saio do quarto e vou para o banheiro. Já não estranho mais nada e me habituo rapidamente,se demorar mais um pouco,já vou está conduzindo um carro. Coloco as roupas no cesto e penduro a toalha.

Estou terminando de me arrumar quando ouço Dominique bater na porta. Abro e ela entra.

_ Bom dia senhorita _ saúdo.

_ Bom dia _ ela pega sua toalha e me encara _ Nossa Aurora,seu cabelo tá uma juba de leão _ ela vai até um porta-treco na parede,pega um frasco e me entrega _ Usa isso. Vai domar seus cachos.

Abro a tampa e viro o conteúdo. É oleoso e viscoso. Tem um ótimo aroma. Bem diferente de usar banha de porco. Termino de usar e devolvo para a jovem.

_ Vou aguardar lá embaixo _ comento ao abrir a porta.

_ Ok!_ é o que ela responde.

Saio e desço.

Escuto sons na cozinha e sigo para lá. Quem está na casa? Será Alejandro?
Não,não é. A voz é feminina e está cantarolando.

Vejo uma mulher lavando louças na pia. Está de costas.

_ Olá _ falo e ela se vira. É uma mulher bonita,morena,cabelos curtos,olhos escuros e voluptuosa. E usa umas roupas justíssimas _ Quem é a senhorita?_ pergunto e sei que não é casada,pois não tem aliança no dedo.

Ao menos penso que não é.

_ Oi,sou Antonieta. Você é amiga de Nick?_ ela volta para suas louças.

_ Ela está me ajudando _ O que é verdade _ Você é a arrumadeira?

_ Se você quer dizer que sou diarista,então sim. Lavo,passo e limpo. Às vezes,até cozinho quando Nick pede.

_ Não é um muito fazer tanto serviço sem ajuda?_ parece demais uma só fazer o serviço de três ou mais pessoas.

_ Não,já tô acostumada. Trabalho desde cedo. Ainda mais com dois filhos para criar.

Aurora _ A Cada Amanhecer Uma Surpresa Onde histórias criam vida. Descubra agora