XXXIV

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Não sei que horas são,nem se é dia ou se é noite. Se respiro,se vivo...

Toda e qualquer atenção está centrada no homem moribundo na cama. Sua respiração está errática,sua pele viscosa e fria. Um espectro do vigoroso Alejandro que conheço. Desvio o olhar para a mesa ao lado,onde há uma vasilha com água e uma toalha branca que é usada para amenizar a temperatura do seu corpo.

Uma maldita pólvora derrubou meu noivo.

Uma maldita arma disparou o tiro que me deixa infeliz agora.

Um maldito dedo apertou o gatilho que fez toda essa desgraça cair.

Quem foi?

Não estou querendo saber no momento. Apenas meu amado me importa. Não aceito que ele morra,não consigo tolerar tal hipótese. Mesmo que a morte seja nossa antiga companheira,não estou pronta para perdê-lo e nem nunca estarei. A dor que sinto é tão intensa que me rasga,só não é mais forte,porque mantenho o fio da esperança.

Tudo que meu cérebro assimilou,foi que encontraram-no caído as margens da estrada,quando retornava para casa. Dizem que deve ter sido roubo,pois nada de valor fora encontrado. Contudo,não hei de pensar nisso. É demais para mim e não comporto tanta coisa para manter a sanidade.

Seguro a mão de Alejandro,que está gélida,entrelaço os dedos e fico observando seu rosto.

_ Você não vai me deixar,eu não permito,Alejandro. _ falo,desejando que minha vontade de concretize. _ Não veio de tão longe para me abandonar,ainda mais quase no altar. Não é atitude de cavalheiro. Você é um lutador,não pode desistir. Não vá embora...

As palavras faltam,é difícil suportar. Pela primeira vez,sinto o quão é duro ficar de pé quando se está inclinado a cair. Esse é o lado mais doloroso do amor,não importa o quanto já vivi,a dor me atinge como se fosse a primeira vez. Mesmo com toda experiência de outras vidas,nada me preparou para o que estou vivendo. Porque não se espera que uma tragédia bata na porta.

Silenciosamente,as lágrimas descem. Rara são as vezes que as comportas de minha alma se abrem,porém manter a razão é a última coisa que farei.

_ Aurora.

Ouço a voz de Bianca,mas não dou atenção. Sinto sua mão tocar meu ombro e fica acariciando. Ela nada diz,apenas me abraça por trás e relaxo ao seu encontro. Não há necessidade de palavras,nossa conexão é única e ambas nos compreendemos.

_ Sei que não vai adiantar,mas você devia comer alguma coisa ou descansar. Desde ontem que não sai desse quarto. _ diz suavemente.

Um suspiro é apenas a resposta que lhe dou.

_ Não deve carregar esse fardo sozinha. Estou aqui para ajudar,tantas vezes fez o mesmo por mim. Eu lhe amo,o que puder fazer por você,farei.

_ Estou com medo. _ revelo sinceramente,não tenho porque esconder o que sinto para ela.

_ Nunca sentiu medo. _ fala como se fosse antinatural,para alguém como eu,talvez. _ O Sr. Albuquerque vai ficar bem e logo esse momento será uma vaga lembrança.

Quero acreditar no que diz,praticamente obrigo minha mente a aceitar. Contudo,sou sabotada quando vem pensamentos funestos. Bianca ainda fica por tempo que não contei,tentou me convencer a sair,mas é em vão. De jeito maneira deixarei Alejandro,temo ficar longe dele. Racionalmente sei,que posso me esgotar fisicamente,já que emocionalmente estou em frangalhos. Mas não há força no mundo,que me tire daqui por vontade própria e conscientemente.

Não poder fazer algo para que meu amado se recupere,me dilacera. O que me mantém firme,ainda que sinta a fraqueza me roubar,é vê que respira. Nunca me senti tão impotente quanto agora. Porém,tenho que aceitar que não posso controlar tudo a minha volta e isso não melhora em nada a  angústia que me toma. É como se uma pedra esmagasse meu coração.

Aurora _ A Cada Amanhecer Uma Surpresa Onde histórias criam vida. Descubra agora