XII

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A noite chega devagar,talvez porque eu esteja tentando entender mais um sonho complicado.

Como estou com meu caderno de volta,procuro pela casa qualquer coisa que rabisque. Encontro um cilindro de madeira com ponta de grafite. Fico na sala e relembro do primeiro sonho,seguindo o segundo e por fim o recente.

Dou destaque para os encontros que sempre tenho com Alejandro no sonho.

Eu termino de desenhar e guardo o bloco no quarto. Não quero que a jovem dama veja-o,não agora. Uma vez que o próprio tio alertou sobre como será sua reação. No entanto,sei que não devo enganar a moça por muito tempo.

Estou no quarto quando escuto sons vindo da sala. Olho para janela e vejo que o sol se põe. A jovem chegou tarde do que tinha para resolver. Desço e vejo Dominique jogar sua bolsa sobre uma mesa e deita no sofá. Está cansada,a  julgar pela sua expressão.

_ Olá senhorita!_ falo ao descer o último degrau.

_ Oi _ ela se ajeita no sofá e me observa _ Como passou o dia?

_ Com o sr. Albuquerque _ falo ao me sentar na poltrona.

_ COMO?_ a moça fica perplexa com a notícia e fica sentada com os olhos arregalados _ O que Alej aprontou?_ pergunta desconfiada.

_ Levou-me ao shopping,comprou roupas,calçados e ainda pagou pela comida.

Dominique olha para mim e vê que estou com outra vestimenta.

_ Não acredito que Alej fez isso_ ela está incrédula _ Ele não costuma fazer isso,nem mesmo comigo. O que realmente aconteceu?Não me diga que viraram amigos? Depois da desavença entre vocês?

_ Eu...pedi desculpas pela minha atitude e o sr. Albuquerque aceitou.

_ Aí tem coisa _ a jovem está encafifada,eu também estaria no lugar dela _ Alejandro levou você  na delegacia?

_ Não senhorita.

A jovem fica ligeiramente surpresa.

_ Eu não entendo Alejandro. Ele estava implicando com você  e agora faz compras. Vou ter um papo reto com ele logo mais. Ele fez alguma besteira?

_ Não,foi um um cavalheiro quase perfeito.

A jovem ri do comentário.

_ Cavalheiro? Tem certeza que estamos falando de Alejandro?_ a  jovem não consegue acreditar _ Sinceramente,não sei porque estou surpresa,Alejandro é completamente bipolar. Num minuto é um doce e no outro é amargo _ a jovem se levanta _ Preciso de um banho,isso sim.

Dominique sobe e fico na sala pensando na sua reação. Imagine quando souber da verdade. Vai achar que sou louca ou coisa pior.

Volto meus pensamentos para Alejandro,relembro a manhã que passei em sua companhia. Inevitavelmente,os últimos sonhos me vêm a memória. Embora sejam de  épocas diferentes,têm algo em comum: eu e Alejandro sofremos por amor.

Sempre fui aberta a novas mudanças e sei que as crenças do que é real e do que é ilusão vivem se modificando.

E uma dessas crenças,é a reencarnação.

Sim,estou de fato pensando nisso. Embora seja um assunto inexistente no Brasil do século XVIII,alguns países  da Europa já tinham quem ousasse falar sobre isso. Claro que gerava conflitos,afinal se fala sobre espíritos. O que não era bem visto pelos sacerdotes.

Confesso que é um tema novo para mim,ainda desconheço sua gênese. Mas quando ouvi falar  de reencarnação,fiquei maravilhada e assustada. Voltar outra vez à terra é indescritível.

Aurora _ A Cada Amanhecer Uma Surpresa Onde histórias criam vida. Descubra agora