Capítulo Treze

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     Ainda posso ouvir a voz rouca me chamando entre as árvores, agora mais alto. Estou muito próxima de seja lá o que isso for, talvez seja um espírito da floresta tentando me pregar uma peça, mas até onde sei a escola tem proteção contra as criaturas do mundo exterior.

     " Aqui, Garota Merlin " chamou a voz a minha esquerda, quando entre em uma pequena clareira.

     Não posso negar, fiquei encantada com a criatura em minha frente. Seu porte não era muito grande, pouco maior que um gato comum, sua aparência refletia a de um felino, só que de uma forma difícil de descrever... sua pele, acredito eu, é como fumaça em um estado levemente líquido, que flutua suavemente enquanto o vento fazia com que ela se mexesse com elegância, pude reparar em sua cauda que se enrolava levemente nele, ela era desproporcional ao corpo, sendo bem maior do que o tamanho que uma criatura desse tamanho pediria, e assim como o corpo, parecia ser formada por uma fumaça densa que esvoaçava ao vento... movendo meu olhar, minha visão se encontrou com o da bela criatura ali, se conectando com os olhos verdes brilhantes dela.

     — Quem é você, ou melhor, o que é você? — questiono admirada, mas ainda alerta com a criatura. Um movimento em falso e ela estará morta.
     — Meu nome é Yuuhi, e eu sou um familiar — ele diz com o timbre calmo.
     — E o que você faz aqui? — questiono. Ele ser um familiar esclarece minha dúvida de como ele tinha invadido minha mente, que outrora fora treinada pelo melhor dos ocultores para ser impenetrável, imune a todo tipo de criatura, um familiar entretanto é a quebra dessa proteção, podendo invadir qualquer mente. Um familiar é uma criatura formada de energia mágica e tem como única razão de viver servir ao seu feérico de alma. São extremamente úteis para combate físico e espionagem, sendo esse último que me preocupa, já que ele pode ter sido enviada por um Paladino para espionar Nakamura e a Disputa. Me atento minuciosamente aos movimentos do felino, um passo em falso e ele estará morto.
     — Poupe sua preocupação, Feiticeira — Ele fala sério enquanto agita o gigante rabo atrás de seu corpo com elegância. — Eu não tenho um mestre. Ainda não.
     — Seja claro — exigi perante as falas não concretas da criatura.
     — Estou aqui por sua causa, por isso lhe chamei até aqui — enquanto fala isso, ele desce da pedra na qual repousava e se aproxima um pouco de mim sorrateiramente. — As notícias correm entre os familiares, estamos em todos os cantos das terras feéricas em diferentes tempo-espaços. Não foi difícil pra mim saber de você, Katrina Darcy Merlin, única herdeira da casa de Merlin e também uma dos dois últimos remanescentes do grande clã Darcy, que por décadas regem os feiticeiros, você, jovem criança, criança mágica com poder formidável! criada para ser letal, forjada para ser a mais afiada das armas de Alastor Nakamura e espiã juramentada do mesmo. Eu a escolhi, criança. Basta me dizer se também me escolhe. — ele falava tudo muito rapidamente e solene, parecia ansioso pela minha resposta. Ele sabe muito, e o conhecimento o torna extremamente perigoso. Ele estar se oferecendo como meu familiar me prova que ele realmente não tem um mestre - pelo menos não um vivo - recusar está fora de cogitação, deixando como minhas opções: aceitar ou matar o familiar; contudo, até mesmo isso eu devo considerar, já que o nível de poder dessas criaturas varia muito, e geralmente tem a capacidade de matar qualquer criatura em segundos, então o enfrentar se torna uma decisão severamente arriscada, o aceitando eu teria muito a ganhar, mas também é um risco, afinal, essa raça é conhecida por devorar as almas de seus mestres ao final da vida. É uma troca, não sei dizer se é justa ou não. Anos de servidão a um feérico para devorar sua alma no final da vida. Muitos podem não entender no que isso implica, mas ter a alma devorada é como deixar se existir completamente, você não pode se tornar um fantasma ou reencarnar em outra vida, todas as memórias que existem sobre você são apagadas das mentes dos vivos  e tudo que restará é o eterno vazio.
     — Seja breve em sua escolha, feiticeira. Já deram sua falta — ele me alerta.
     — Eu... — começo exitante. — Eu aceito — mesmo que isso signifique viver essa última vida somente para ser esquecida, com o poder de um familiar terei mais chances de obter sucesso em minha missão, então no final irei sabendo que cumpri meu dever para com meu povo.
     — Ótimo — Ele fala subitamente animado. — Então repita comigo: Eu aceito você, Yuuhi, como meu familiar...
     — Eu aceito você, Yuuhi, como meu familiar...
     — Aceito meu destino, e solenemente juro...
     — Aceito meu destino, e solenemente juro...
     — Que pela casa de Merlin, Darcy e pela própria Hécate... — fico surpresa com a menção do último nome, mas decido que irei perguntar somente depois.
     — Que pela casa de Merlin, Darcy e pela própria Hécate...
     — Meus laços estarão entrelaçados aos seus.
     — Meus laços estarão entrelaçados aos seus — ao final da última fala, um grande fio vermelho aparece um nossa volta, brilhando em meio a um pó dourado enquanto se mexe fervorosamente a nossa volta, meus cabelos e os "pelos" do familiar esvoaçam no ar, e ,no final, uma ponta se amarra em meu dedo mindinho e a outra se amarra a cauda do familiar, sumindo completamente poucos segundos depois.
     — Está feito. Nos veremos em muito breve, Katrina — e sem mais nem menos, ele some em meio as sombras da floresta.
  
      Decido retornar as pressas para a província em que estou alojada, não querendo deixar Aidan preocupado e os outros curiosos de onde eu estava, principalmente Peter que esteve em outro momento comigo.

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      — Katrina! — Aidan exclama quando me vê entrando na casa, perto dele estava o resto dos descendentes, com exceção da bruxinha que parecia não querer interagir com os outros. Seus cabelos despenteados e olhar aflito mostram sua evidente preocupação. — Onde você estava? Eu fiquei tão preocupado! — ele questiona agitando meus ombros.

       Algo que eu sempre achei engraçado em Aidan é que não importa para ele o quão poderosa eu sou, e que sei me defender, ele sempre se procupa comigo.

     — Nós ficamos! — Arey se pronuncia.
     — Desculpe, as nuvens estavam tão bonitas — ao final da minha frase vejo Aidan ficar atento, seu olhar questionador para mim.  "As nuvens estavam bonitas" é na verdade um código para "Aconteceu algo, precisamos conversar", esses códigos são quase uma tradição entre a família Kastilio, e me foram ensinados pelo Aidan quando passei a morar com eles aos meus dezesseis anos de idade. Muitas coisas mudaram nesses três anos. Eu mudei.
      — Nuvens? Eu quase tive um ataque! — Arey me repreendia severamente. Estranhei a aparente preocupação, mas isso era bom, eles estavam sendo maleáveis e fáceis de manipular, afinal.
     
        Só então meu olhar se encontrou com o de Peter, assim que nossos olhos convergiram as bochechas do mago ficaram levemente a vermelhas, eu sorri tímida para o mesmo, o que fez com que ele desviasse o olhar de um jeito fofo. Calma, oi? Não tive tempo para pensar, pois no segundo seguinte Aidan agarrou meu braço e me arrastou em direção ao nosso quarto.

        — Vem! Você recebeu muitas cartas e presentes de admiradores, o show que você deu roubou o coração de muitos feéricos e feéricas! — Ele fala animado, mas ao fundo eu entendi o que sua voz queria dizer. Ele quer saber o que aconteceu. A impaciência sempre foi o maior defeito de Aidan.

        Ao chegarmos no quarto, me deparo com minha cama completamente coberta de cartas e presentes, que variam desde flores a equipamentos mágicos. Até mesmo alguns pedidos de cortejos eu recebi de alguns feéricos. Onde eu me meti, Caos?

    
     

A Herdeira de MerlinOnde histórias criam vida. Descubra agora