Capítulo dezesseis

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      — Afinal, como funciona nossa ligação mental? — questionei quebrando o silêncio que se instaurou entre mim e Yuuhi a caminho da torre.
      — Eu posso ouvir todos os seus pensamentos, posso ver tudo aquilo que você pensa, só não posso ver suas memórias antigas, a menos que você se lembre delas após a ligação ser formada...
      —  Eu sei que familiares tem o dom de invadir a mente de qualquer um que cruzar seu caminho, mas confesso que fiquei surpresa quando você entrou em minha mente da primeira vez... — comento, logo o vendo suspirar.
      — Não foi nada fácil me comunicar com você, estive tentando desde o início do ano... — aquilo me pegou de surpresa. — Seu escuto mental é absoluto, sua mente está blindada!
      — Como você conseguiu então?
      — Foi no momento que duas defesas se enfraqueceram um pouco... No tempo que te observei pude notar que você estava fechada para o mundo; entretanto, conforme o tempo passava você se sentia cada vez mais acomodada aqui.

       Mas que... Eu não posso deixar isso acontecer, eu fui tão...

       — Você não foi descuidada, é uma reação natural de qualquer ser vivo. Confesso que fico grata a isso agora, caso contrário, não estaria aqui.
       — Parece que eles já foram almoçar... Devo ter demorado contigo na floresta — comento ao notar que não sinto nenhuma fonte de magia vinda da torre de comunicação.

       Assim, o silêncio reinou novamente entre mim e Yuuhi, mas era confortável, de certa forma.

        Ao chegar dentro da torre, tento procurar a pequena cabine com meu nome - todos dentro do território de Estheriam recebem uma aqui - e logo a encontro. Por favor, tio... Respiro fundo antes de finalmente a abrir, e uma chama de esperança surge em meu ser ao ver duas cartas ali. Cuidadosamente as pego, logo virando para ver os remetentes.

         Selene Kastilio e Kristen Darcy. Ao ler o segundo nome um alívio caloroso toma conta de meu peito, e pela primeira vez em muito tempo, pequenas lágrimas escorrem em meu rosto. Graças ao Caos... Graças ao Caos... Graças ao Caos... Agradecia mentalmente enquanto me sentava alí mesmo, no chão. Meu corpo parecia pesado demais para me manter em pé, e eu estava emotiva demais para dar atenção a presença que senti se aproximar ao longe. Calmamente abro a carta de meu tio e começo ler:

“ Minha querida sobrinha, sinto muito por ter passado tanto tempo sem dar notícias a você. Sabe que é muito arriscado que eu saia da mansão Darcy, ainda mais agora que os - creio eu que você já está ciente - Paladinos voltaram a ativa, afinal, pelo bem ou pelo mal, eu sou o último remanescente do clã conhecido. Realmente peço perdão por te preocupar, minha pequena, juro que tentei lhe escrever antes. Quero que saiba que não importa o que acontece, eu olho por você. Sobre suas cartas anteriores, tenho algumas revelações a fazer...
Primeiramente, quero que saiba que eu absurdamente feliz pela sua - BRILHANTE, diga-se de passagem - vitória no primeiro torneio, e já deixo registrado que lhe desejo sorte para a próxima prova. Agora, o que irei lhe revelar a seguir pode por te pegar um pouco de surpresa, já que aquele velho idiota do Nakamura não te contou, mas Peter Vandecor é meu afilhado! Acredita? Existiram pessoas loucas o suficiente para me escolher como padrinho. Desde que consegui fugir do cativeiro em Peridium, ou seja, a dois anos, mantive contato com Peter, mesmo que eu só tenha conseguido o ver poucas vezes, tenho grande afeto por aquele pirralho, por isso te faço um apelo: Tente não o machucar tanto, pequena Kat. Eu entendo seus motivos, e sei que você não pode resumir a missão estúpida de Alastor. Ah, minha sobrinha! Eu queria tanto ter conseguido viver os últimos dezenove anos junto a vocês, vocês teriam crescido como primos... Acho que nunca vou conseguir superar a morte dos pais dele, eram meus melhores amigos, sabe? Pólux e Gyuu era pessoas incríveis, e eu os amava tanto... Eu te contarei tudo quando nos vermos novamente, promessa de Darcy! Bem, não irei estender mais está carta. Para finalizar, quero lhe passar uma informação, e só posso rezar que sua Madrinha não me mate. Chegou ao meu domínio que Selena tem mantido contato direto com a família real de Strix. Faça o que desejar com essa informação.

Com muito amor e beleza, do seu amado tio Kristen.

   Obs: Soube que a próxima prova terá algum tipo de labirinto.
     Obs da Obs: Envio acoplado a carta um presentinhos pra compensar meu sumiço! ”

      

     Sorri com o desfecho da carta, eu estava tão procupada...

      — O que aconteceu com ele, exatamente? — Yuuhi questionou curioso. Suspirei então comecei a falar:
      — há dezenove anos, quando os Paladinos atacaram pela primeira vez quase massacrando todo o clã Vandecor, meu tio estava hospedado na casa dos Vandecor, até hoje eu não sabia o porquê, acabei de descobrir junto a você... Continuando, quando o clã dos magos foi atacado meu tio foi poupado da morte e levado como refém, ele sofreu muito nós cativeiros paladinos, e esteve preso lá por longos dezessete anos... Não houve tentativas de resgate, sabe? Os governantes não apoiaram, pois isso poderia ser um estopim pra guerra... Me lembro de ver minha mãe chorar todos os aniversários deles, angustiada por não poder fazer nada pelo próprio irmão... — terminei suspirando. — Gosto de pensar em como as coisas teriam sido caso ele não tivesse sido levado...
     
     Estava falando com Yuuhi, quando vejo ele desaparecer entre as sombras. Rapidamente reparo o porquê, já que aproximadamente trinta e sete segundos após isso Peter Vandecor entra na torre. Ele parecia genuinamente feliz, mas esse sorriso sumiu ao me ver sentada no chão com os olhos levemente avermelhados.

     — Você... está bem? — ele pergunta receioso, mas se repreende logo depois. — Perdão! É claro que você não está, eu sou um idiota por perguntar isso...
    
      Por alguma razão, aquilo me fez sorrir. Sorrir de verdade, sabem? Não era nada grande, era singelo, mas era verdadeiro.
  
      — Está tudo bem, eu estou feliz. Recebi boas notícias de alguém que eu amo muito.
      — Ah! Sim, sim, que bom — ele parecia tropeçar entre as palavras. — É... Algum... Namorado? Ou... Namorada? — ele fica extremamente vermelho ao questionar tal coisa. Era engraçado de se ver, acabei por soltar pequenas risadas, o que o fez me oferecer um olhar abobado. Garoto estranho...
      — Não, nenhum namoro. Era meu tio — respondi explicando, mesmo que não devesse satisfações a ele.
      — Ah! Que bom — ele parecia subitamente aliviado. — Digo, pelas notícias, sabe? Notícia, não sei — ele finalizou embaraçado.
      — Obrigada. O que você faz aqui? Não me diga que veio só para me ver — falo provocando o garoto que ri.
      — Vim enviar a resposta de uma carta que recebi a pouco, te ver é só um bônus! — ele fala e ambos acabamos rindo.
      — Entendi. Deixarei que envie sua carta então — comentei enquanto me levantava e batia a mão em minha calça para tirar qualquer resíduo de poeira. Logo me levantei indo em direção a saída e, consequentemente, passando ao lado do garoto. — Até breve, Peter — falei me aproximando do garoto e deixando um selar no canto da sua boca, o que aparentemente o deixou travado. Não dei atenção e segui meu caminho em direção à saída.

      Começo a caminha, logo sentindo uma presença ao meu lado quando já estava apropriadamente distante de Peter.

       — Eu vi tudinho! — Yuuhi comentou divertido.
       — O que? É minha missão me aproximar dele...
       — Você tá esquecendo que minha mente é conectada com a sua? Pode mentir pra si mesma, pra mim não! — ele falou mostrando a língua pra mim. — Ahh o amor juvenil! Que saudades desse tempo...
       — Yuuhi... — chamei.
       — Diga.
       — Quantos anos você tem? Você fala como se ja fizesse décadas!
       — Ah, décadas não! Milênios, minha cara Katrina.
       — Que? Sério? — perguntei chocada.
       — Sim. Não sei exatamente qual minha idade, mas sei que tenho por volta de sete mil anos feéricos... — ele fala como se não fosse nada.
       — Pelo Caos... Eu tenho tantas perguntas!
       — Ah, pronto... — ele falou emburrado, logo se preparando para enchurrada de questões que a garota faria..
   

     

A Herdeira de MerlinOnde histórias criam vida. Descubra agora