Eu ouço atentamente as gotas d'água que caem do chuveiro ao meu lado baterem no chão, ainda digerindo tudo que tinha acontecido após a declaração de Peter...
" ...levantando sua mão e a colocando sobre minha bochecha direita e a acariciando. - Tenho medo de me machucar, porque eu estou completamente rendido a você, Katrina Merlin. Acho que... que amo você... "Respirei fundo balançando minha cabeça em negação. Preciso esquecer disso. Eu estou sentada em uma placa formada por minha magia no banheiro, estou assim a trinta minutos e vinte e três segundos. Há quase um mês o baile ocorreu, há quase um mês Peter Vandecor disse ter sentimentos por mim, e irá fazer um mês que eu evito o Mago como um duende evita tomar banho. Os duendes não tomam banho. Aquela noite não sai da minha cabeça, o que é péssimo já que a última tarefa é daqui a dois dias. Alastor está furioso comigo, por um momento acreditei que levaria chibatas em minhas costas como castigo, mas ele se limitou a me repreender - com gritos e humilhações -, acredito que por medo de minha madrinha, já que mesmo ele sabendo que ela não saberia por mim, ela ainda sim poderia vir a saber, e então ele estaria em apuros. Minha missão contínua de pé, mas agora estou focada unicamente em Serafin, que também não facilita em nada meu trabalho, já que parece me evitar tanto quando eu evito Peter.
" Eu tinha ido ao lago para espairecer a mente, quando vi os longos cabelos negros de Serafin balançarem ao vento. Pude notar seu olhar fixo na imensidão roxa que era o Lago de Silicios, ele parecia imersa em pensamentos, o que me fez hesitar, mas por fim, a chamar.
— Sef?
— Mais que...Katrina?! — ela disse meio assustada, realmente não tinha notado minha aproximação.
— Vi você aqui sozinha, parecia perdida em pensamentos.
— Eu... Eu só... Estava... — ela parecia pensar em uma resposta, mas não conseguia formar nada. — Olha, não quero conversar, está bem?! — ela disse exaltada, parecia com medo.Ela não me deixou falar nada, e simplesmente saiu apressada de perto de mim. "
Desde então, não consigo manter contato com a garota, que se recusa a trocar mais que cinco palavras comigo e com qualquer outro de seus amigos. Ela só sai de seu quarto para as refeições e em alguns outros momentos obrigatórios, é sempre a última a chegar e a primeira a sair. Os outros estão preocupados com ela, já eu estou mais para intrigada... Já tenho uma grande ideia do que se passa com a garota, e estou me preparando para o que está por vir, e pelo modo como ela age, chegará em breve.
— Kat? Nós temos que ir, já está na hora do jantar — ouço a voz de Aidan abafada do outro lado da porta.
— Podem ir sem mim, estou indisposta hoje — respondi para ele aumentando o tom natural de minha voz, para que ele pudesse ouvir.
— O que você tem? Precisa de remédio? Quer que eu fique com você? Posso ir buscar um cházinho e algo para mim comer e volto logo — sua voz dizia afobada do outro lado, preocupado.
— Aidan, não preci...
— Volto em menos de vinte minutos! Não faça esforço — sua voz dizia enquanto se tornada distante, até que ouvi a porta do nosso quarto se fechar em uma batida.Acabei rindo sozinha da ação de meu amigo. É o Aidan, afinal. Ele sempre é tão preocupado e carinhoso, desde que nós éramos crianças...
" Uma versão mais nova de mim estava sentada ereta no final de uma escada, a escada da casa da família Kastilio. Eu não estava acostumada com aquele ambiente ainda, minha madrinha tinha me tirado da posse de meu padrinho a menos de duas semanas, e a minha adaptação na casa da família está sendo... complicada, principalmente pelo filho de Selene, que era uma criança enérgica que não parava quieto nem por um segundo. Me lembro que naquele momento a ex-herdeira tinha me ordenado para brincar com o garoto do lado de fora - na verdade foi uma sujestão, mas eu não tinha percepção de escolhas próprias e via tudo como ordens a serem seguidas - e eu estava o esperando no pé da escada. Ele não demorou a aparecer no topo dela, ele usava um manto azul, não era longo, mas cobria todo ser corpo até metade de sua coxa, suas pernas eram cobertas por uma calça de tecido escuro, e uma espécie de bota feita de borracha cobria seus pés. Ele desceu correndo as escadas, e logo passou por mim me chamando. Eu prontamente obedeci, e o segui. No lado de fora eu o seguia para onde ele ia, não sabia ao certo o que estávamos fazendo já que só corríamos em círculos em volta da mansão, mas ele parecia feliz com aquilo. Em determinado ponto, o corpo do garoto começou a se cansar, mas ele não parava, pelo contrário, parecia aumentar a velocidade. Eu por outro lado o acompanhava sem dificuldade, fui treinada para ser excepcional, no final das contas. Foi quando eu vi o garoto tropeçar nos próprios pés, em um ato rápido peguei em sua mão, o impedindo de cair com a cabeça bem em uma pedra que cruzaria nosso caminho, porém com o esforça de levantar o corpo exausto do mesmo, meu corpo proporcionalmente menor não suportou a força aplicada, e perdeu o equilíbrio no momento exato que o garoto recuperou o do seu. Ele não caiu, mas eu fui em direção ao chão relando minhas mãos no cascalho que cercava a casa.
— Pelo Caos! Senhorita Katrina, você está bem? — ele perguntou assustado, seus cabelo brancos, no momento curtos, levemente arrepiados e seus olhos arregalados enquanto seu núcleo ocular ganhou um leve brilho.
Sem falar nada para ele, mostrei minhas mãos que sangravam sutilmente. Eu não falava praticamente nada na época, acho que tinha medo de falar as coisas erradas para aquela família que tinha me acolhido, medo de que eles me mandarem de volta para Nakamura.
— Ah meu deus! Isso é péssimo, terrível! Você está com dor? Eu vou buscar um remédio lá dentro, é muito bom, eu vivo tomando ele pra machucados! Já volto...E assim, ele saiu como um foguete para dentro de sua casa, me deixando lá sentada para esperar por ele. Não doía, na verdade. Depois de minhas sessões de castigo com Nakamura, dores superficiais se tornaram tão insignificantes que meu corpo nem mesmo as reconhecia mais; contudo, por algum motivo que eu ainda não sabia, o ato do garoto deixou meu interior quente. Pouco tempo depois, ele retornou com um frasco em mãos, junto com um pedaço de algodão.
— Me avisa se doer, tudo bem? — ele perguntou, antes de começar a limpar minhas mãos com o líquido avermelhado do remédio.
Ele era gentil, se preocupava em não ter movimentos bruscos e a todo momento me questionava da minha dor. Eu não respondia, mas ele parecia não se importar, e continuava cuidando de mim.
— Prontinho... — ele disse finalizando a limpeza, pude notar que com uma velocidade anormal todos os machucados começaram a de fechar, e logo não tinha mais nenhuma cicatriz. — Doeu? Eu juro que eu tentei ser cuidadoso, mas eu não sou tão bom nisso quanto a minha mãe... — ele disse com as bochechas vermelhas, mas acho que ele não esperava a pergunta que eu faria a seguir, por me olhou verdadeiramente surpreso...
— Por que você se importa? — foi o que saiu de mim, provavelmente eram as primeiras palavras que eu falava diretamente para ele.Ele me olhou por alguns segundos, parecia me analizar, e então ele suspirou se sentando ao meu lado. Eu nunca consegui esquecer as palavras que ele me disse naquele dia.
— Eu fiquei muito feliz quando soube que você viria pra cá, sabe? Eu sempre fui muito sozinho por ser mestiço... — ele dizia olhando para o céu. — Quando você chegou, soube que você era especial, assim que meus olhos pousaram em você eu senti um quentinho aqui — ele falou apontando para o local do coração. — Dizem que madrinha é uma segunda mãe, e se minha mãe, agora é sua mãe, então eu sou deu irmão mais velho! E é meu dever cuidar da minha nova irmãzinha.
Minha eu pequena olhava para ele com lágrimas contidas, desde que seus pais morreram nunca tinham sido tão atenciosos ou cuidadosos com ela, e ela sinceramente acreditou que nunca mais receberia nenhum sinal de gentileza, ela sentia que não merecia. Depois daquele dia, eu comecei a me sentir diferente naquela casa, era como se... ela estivesse virando seu lar, não uma simples moradia, Lar. "
Enquanto me perdia nesses pensamentos, sai do banheiro e já tinha me trocado, e eu nem mesmo tinha reparado na minha ação. Logo a porta foi aberta, e Aidan entrou, mas não estava sozinho.
— Eu comentei com o pessoal que você não estava se sentindo bem, e que eu ia ficar aqui com você, mas... — ele começou a dizer, mas foi interrompido por Arey que vinha logo atrás.
— Nós ficamos preocupados, então a gente quis... — ela ia dizendo, mas foi interrompida por Kol.
— Ficar aqui com você, sabe? Pra gente... — mais uma vez, um interrupção.
— Cuidar de você...
— Se não for atrapalhar. — Kal e Peter finalizaram.Por um tempo eu olhei para eles sem reação, mas logo me recuperei e disse:
— Isso é muito fofo da parte de vocês, mas... vocês ensaiaram?
Soltando pequenas risadas pela minha pergunta, eles começaram a se sentar na minha cama, mas vendo que o espaço era mínimo para tanta gente, juntamos a cama de Aidan com a minha, o logo todos estávamos conversando e comendo algumas coisas que eles trouxeram com eles, junto a um chá de flor-do-mar, que pode curar todo tipo de dor de cabeça ou enjôo. Só falta você aqui, Serafin...
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Herdeira de Merlin
Fantasy❝ Antes de ferir um coração, tenha certeza que você não está dentro dele. ❞ Em um mundo onde o grande véu esconde as terras feéricas, os alunos da elite dão o sangue para responder as espectativas de suas futuras nações, mas a chegada de uma...