Capítulo Quinze

8.8K 711 225
                                    

      — Até que enfim, dia de cartas! — Arey comenta animada enquanto nós tomávamos café da manhã.

       Eu tenho que concordar, esperei muito por isso. Estheriam é uma escola exclusa do mundo exterior, e todas as notícias que vem dele são por meio de cartas de familiares e amigos que podem enviar cartas somente uma vez por mês. Embora eu tenha chegado em Estheriam já a quatro meses, que estão se passando demasiadamente rápidos, eu recebi somente duas cartas de Selene, que anda muito ocupada, ela diz ser com os negócios da família Kastilio mas eu sei que tem a ver com o que ela conversou com o Sacerdote no dia das Olimpíadas Feéricas; contudo, respeito seu silêncio e não a questiono. Mas a verdadeira razões pela qual almejo tanto a chegada dessas cartas surge da minha esperança de que chegue uma carta de Kristen, meu tio, que não dá notícias já a sete meses. Eu, por outro lado, envio cartas frequentemente para ele e minha madrinha, sempre os atualizando dos acontecimentos dentro da escola e também para me manter atenta ao mundo exterior, que é tragicamente evitado por esse escola pois " Tira o foco"  de seus alunos, e tudo que eles tem que se concentrar nesses oito anos que passam aqui é em se forjar ao máximo para serem governantes perfeitos. Patético, não é?

        Já fazem três semanas... Yuuhi não deu as caras novamente, mas sinto que isso não irá durar.

       — Vamos indo? Estou louco para saber o que se tem passado em Pandora — Ai me questiona me tirando dos meus pensamentos.

        — Ah! Vamos — respondo após raciocinar a sua pergunta. — Vocês vem? — Indago sorrindo para os descendentes da magia. — Serafin? — acabo por chamar especificamente a bruxa que comia uma espécie de mingau dourado...

        — Ah... É claro, obrigada — ela diz tímida. Nos últimos quinze dias tenho me dedicado em um aproximação da garota, procurando sinais de que ela trama contra Estheriam, mas eu nunca consigo achar nada! Cheguei a cogitar que ela finja ser essa garota tímida e insegura, mas teria ela um treinamento tão bom ao ponto de enganar uma mestre das mentiras?

        — Nós vamos também! — Kol fala passando seu braço esquerdo sobre meu pescoço.

        Maldito! Por alguma razão ele acha que somos amigos e que ele está no direito de me tocar... O pior é saber que não importa o quanto isso me incomode, demonstrar quaisquer sentimentos de repudia a eles estava fora de cogitação, já que minha missão é me aproximar deles - mas especificamente de Peter e Serafin — que são duas possíveis peças importantes para o conflito futuro. Kol e Kal foram descartados como suspeitos. Pelo que eu entendi a mãe deles estar trabalhando para Nakamura, e foi ela quem vazou a informação da aparente aliança das bruxas com os paladinos.

        — Kol, está muito calor hoje, pode me soltar por favor? — pergunto exibindo meu melhor sorriso tímido.
        — Solta ela, Kol... — Peter fala com a voz incomodada.
        — Credo, vocês que mandam! — ele fala me soltando enquanto bufa insatisfeito.
        — Ahhhh estou com tantas saudades da minha mãe — Ai comenta animado enquanto pula nas costas de Arey.
        — Sai de mim, seu gordo! Eu tô com dor nas costas! — Ela briga antes de aplicar um mata-leão no outro que foi totalmente pego de surpresa. — Pula em mim de novo e um mero mata-leão vai ser o menor dos seus problemas — ela avisa ameaçadora logo se virando e marchando firme a nossa frente. Todos, inclusive eu mesma, seguramos nossa risada enquanto olhamos para a cara de bobo de Aindan; Não durou, já que a seguir ele soltou a seguinte frase:
       — Aí, Papai... Apaixonei — ele murmura olhando a direção onde a garota caminhava a frente. Uma coisa que aprendi nesses meses aqui foi que Arey Belikov detesta ser pega de surpresa. Aidan parece esquecer constantemente desse fato. Explodimos em gargalhadas! Os gêmeos estavam jogados no chão rolando de tanto rir, Peter se apoiava em uma árvore, Serafin ria baixinho com as bochechas coradas e a mão em frente aos lábios, Eu tinha lágrimas sendo seguradas em meus olhos enquanto perdia meu ar.
       — Vamos... Logo... — falo pausadamente enquanto recupero meu fôlego.
      
         Aos poucos os outros foram se acalmando e começando a seguir caminho em direção a torre de envio e recepção de cartas.

         " Katrina... " Ouço a voz me chamando. Aparentemente só eu.  Yuuhi? Questiono em pensamento.
         " Na floresta " Tiro meu anel prata com uma pequena jóia esmeralda da mão e o coloco dentro do meu bolso da calça.

          — Pessoal, deixei meu anel cair enquanto vínhamos pra cá. Vou voltar para tentar acha-lo.
          — Eu posso ir com você... Sabe, pra te ajudar... — Peter diz olhando em meus olhos. Desde o ocorrido na floresta ele vem tentado se aproximar cada vez mais de mim. E como se o próprio Caos zombasse dele, essa chance nunca aparece. Até mesmo eu tenho tido dificuldades com isso.
          — Ah, não precisa! Eu realmente não quero incomodar... pode ir na frente, eu posso demorar, entende? As nuvens estão bonitas — minha fala deixa Aidan alerta.
          — Vamos indo, Peter — Ai fala ao passar seu braço direito sobre o ombro do mago e sorri para o mesmo. — A Kat é assim mesmo, vive perdendo as coisas! E eu quero te perguntar uma coisa importante...
          — Ah... Tudo bem. Vamos indo — Peter tenta sorrir simpático de volta mas parece meio triste.

           Aceno rapidamente quando eu os vejo se virar para seguir o caminho. Viro e começo a caminha pela estrada em que viemos, mas assim que sinto a energia mágica deles longe o suficiente para não me terem mais no campo de visão corro floresta a dentro. Você gosta mesmo de Valirianos, não é, Yuuhi?

          " Foi nas terras de Valka que meu povo surgiu " ele comenta sutilmente em minha mente. Eu não sabia dessa informação, acho que poucos sabem, já que além de raros a existência de registros dessa raça é quase nula.

           Eu começo a procurar a energia mágica de Yuuhi em meio a floresta, o localizando a aproximadamente sete metros de onde estou. Essa era uma das habilidades do meu arsenal. Eu sou uma rastreadora sensitiva, sendo capaz de sentir qualquer criatura em um raio de 70 metros pela sua energia mágica. A energia que corre pelo corpo de todas as criaturas de Elfhergar como sangue, o núcleo de seus poderes e habilidades. Essa é provavelmente uma das únicas habilidades que eu herdei de minha mãe.

          — Olá, Yuuhi — saúdo o meu recém adquirido familiar. Ele está sentado em cima de uma rocha não muito grande — Por onde esteve?
          — Estou bem, Katrina. Obrigado por perguntar! — ele diz debochado.
          — Não me venha com esse seu caráter infame, Yuuhi! Você formou um contrato familiar comigo para sumir logo após, eu nem achava que isso era possível! Você não deveria obedecer completamente a mim?
           — Eu sou um familiar especial. Deveria se sentir honrada — ele rebate com diversão.
           — Com certeza, muito especial! Tão especial que abandona a própria mestre. — eu digo irritada.
           — Ora, as vezes coisas que não podemos explicar acontecem. O que há de mal nisso? — ele fala pulando da pedra em que se encontrava e passando ao meu lado, somente para mim sentir seu rabo chicotear levemente meu rosto.
            — Maldito...
            — Eu ouvi isso!
            — Era para ouvir mesmo!
            — Quanta crueldade, Katrina!
            — Crueldade vai ser quanto eu tosar seu rabo!
            — Eu sou formado de escuridão, eu não posso ser cortado!
             — Pelo Caos — digo frustada. — Pelo menos tem alguma informação de útil? Eu sei que quando nosso laço se formou você teve acesso a muitas das minhas memórias...
             — Nada que você já não saiba, os Paladinos estão cautelosos com qualquer forma de vida que se aproxime de Peridium. Soube que o rei de Peridium faleceu a aproximadamente seis meses, mas a informação foi mantida guardada a sete chaves...
             — O que significa que a essa altura já existe um novo paladino no trono. Mas... Quem? O rei não tinha herdeiros e a rainha estava absurdamente doente, o que aconteceu com ela?
             — Eu não tenho certeza — ele fala negando com a cabeça. — Poucos boatos dizem que ela está vivendo confinada no palácio Sul.
              — Entendo... Vamos indo para a torre, você me conta o que sabe no caminho.

               E assim, nossa caminhada se iniciou em direção a grande torre que residia ao lado da mansão principal.

      
         

         
    
 

A Herdeira de MerlinOnde histórias criam vida. Descubra agora