Capítulo Vinte e Um

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      As coisas foram agitadas após minha saída do labirinto,  ficamos esperando em expectativa a saída dos outros competidores, e depois de quase uma hora e meia da minha saída, Nefert Moreon atravessou a entrada do labirinto com múltiplos ematomas por seu corpo. Algum tempo depois Alastor anunciou algo que deixou parte das pessoas da plateia em puro choque: Dotron, herdeiro de Valka, tinha morrido no labirinto. A notícia é claro causou grande repercussão entre todos, e um verdadeiro caos se alastrou. Vendo que não tinha mais nada pra mim ali, e satisfeita pela competição ter diminuído, retornei - sozinha - aos meus aposentos no distrito de Pandora. Uma hora e sete minutos depois todos os outros descendentes da magia voltaram, e pude ouvir grande balbúrdia no andar inferior, que rapidamente foi ignorada. Por mais que eu odiasse admitir, aquela tarefa tinha me cansado veementemente e minha energia mágica estava quase esgotada, o que não fazia o menor sentido pois não me lembro de ter gasto nem mesmo trinta porcento da minha capacidade, o que me leva a crer que isso está relacionado a aquela maldita ilusão a qual fui presa e, aparentemente, salva pelo escolhido de Strix. Agora estou deitada em minha cama, refletindo sobre tudo o que aconteceu naquele labirinto. Aidan ainda não subiu, provavelmente está falando sobre a segunda tarefa com os outros.

     — Você realmente está acabada, não é?

     Me assusto com a repentina fala, porém não demonstro ficando completamente imóvel em minha cama.

     — Que lisonjeiro, Yuuhi — respondo ácida ao familiar. — E então, como foi lá? Você quase não enviou notícias — questiono ansiosa.
      — Digamos que eu tenho muita coisa pra te contar — ele pronúncia solene. 

       Finalmente olho em sua direção, ele está sentado no canto inteiror direito da minha cama, seu longo rabo balança pelo ar fazendo sua "textura de fumaça" se espalhar momentaneamente pelo ar e seu brilhantes olhos me encaravam fixamente.

        — Pois bem, sou todo ouvidos, gatinho.
        — Sua madrinha tem mantido contato constante com a família real de Strix, pelas informações que eu consegui no palácio real e na mansão Kastilio, ela, em sigilo até mesmo de seu marido, tem conspirado a retornar ao seu lugar legítimo no trono.
       — Espera, eu entendi certo? Ela quer voltar ao trono? — pergunto confusa, mas a ficha cai durante quando o familiar confirma com um aceno de cabeça. — Por que ela faria isso? Ela mesma recusou o trono!
       — É exatamente nessa parte que eu quero chegar. Aparentemente a irmã mais nova de Selene ficou subitamente doente, e você sabe o que o herdeiro de uma nação inválido significa...
       — Em caso da falta de existência de outros herdeiros que possam assumir o trono, a família real fica desprotegida contra revolta das possíveis família que querem assumir o trono.
       — Ao que tudo indica, sua madrinha está fazendo isso para proteger sua família, e não somente a realeza, mas também seu filho e seu marido, já que depois de massacrar a realeza...
       — Eles iriam atrás de Selene, que por direito poderia vir a querer assumir o trono com a família morta, o que colocaria a vida de sua verdadeira família em risco — completo a fala do familiar. — Eu sabia que tinha que ter algo a mais, minha madrinha não iria trair nossa confiança por um simples trono. Tudo faz sentido agora, ou quase tudo. Por que ela não pediu a minha ajuda? Eu poderia...
        — Fazer nada — o familiar me corta.
        — Como?
        — Você não poderia fazer nada, e existe mais de um motivo pra isso — ela fala soltando um suspiro no final. — Primeiramente: ela se culpa por não ter notado os abusos físicos e psicólogos de Nakamura a você, tudo que ela quer é que você tenha uma vida minimamente normal, e não acontece sendo uma arma, Katrina. Segundo: Você sabe bem como a intervenção de uma descendente da magia nos assuntos políticos de Strix poderiam gerar revolta, e em um caso mais extremo, guerra entre as nações.
      
        Suspiro diante da fala de Yuuhi. Infelizmente, ele está certo. 

         — Pelo menos agora eu posso ficar aliviada — digo a ele. — Falarei com ela. Ela precisa contar a verdade.
         — Fico feliz que tenha decidido isso...
         — Ah, Yuuhi...
         — Sim?
         — Não suma por tanto tempo sem dar notícias, eu fiquei preocupada seu familiar bobo.

          Ele parece ter ficado surpreso com minha fala, pois me encarava sem reação.

          — Yuuhi? — falo, e ele parece recobrar os sentidos abruptamente.
          — É claro... Pode deixar.

         Rapidamente vejo Yuuhi se desintegrar entre as sombras, e poucos segundos depois a parte e aberta lentamente por um certo mestiço.

        — Kat! Oi... — ele sorri ao ver meu olhar preso nele e se aproxima da minha cama, se jogando ao meu lado. — Achei que já estivesse dormindo, sabe, você saiu bem cansada do labirinto...
         — Tem razão... Estava pensando sobre umas coisas que aconteceram, acabei perdendo o sono.
         — Todos ficamos muito orgulhosos de você — ele comenta do nada. — Tem algo rolando entre você e o Peter? Além da missão.
         — Que? — pergunto me sentando no mesmo segundo.
         — Isso que você ouviu.
         — O que te leva a crer que esteja rolando algo a mais do que a missão?
          — Eu vi os olhares que vocês tem trocado... Você tinha que ver do meu ponto de vista, os olhinhos vermelhos dele brilham quando você entra no mesmo cômodo que ele! E você também olha assim pra ele, mesmo que não com tanta intensidade.
           — Que besteira, Ai.
           — Será mesmo? Eu nunca te vi tão solta em algum lugar que não fosse em casa, Trina. Você sempre tá tão fechado pro mundo, mas aqui... Por que logo aqui você parece mais... Você? Essas pessoas são especiais, você sabe, eu sei. A questão é, até quando você vai negar seus sentimentos?
           — Sabe que mesmo se eu quisesse, as coisas não são fáceis assim — acabo respondendo de forma ríspida a ele. — Desculpe — peço suspirando.
           — Tudo bem — ele responde de forma suave, seus olhos se fechavam sorrindo para mim. — Vai no seu tempo, okay? — ele diz.
           — Mas e se eles não forem as pessoas certas, Ai?
           — Pessoas certas não existem, somos todos errados procurando alguém que aceite nossas imperfeições, Kat. Só... pensa sobre isso, pensa no agora, e não no amanhã — Sua voz fluía suave em meus ouvidos. Ele se aproxima de mim depositando um selar em minha testa lentamente. — Durma bem, eu te amo — e assim, ele se foi para cama ao lado, lago se deitando e adormecendo.

         " Pessoas certas não existem, somos todos errados procurando alguém que aceite nossas imperfeições... " Suas palavras ressoam em minha mente como rugidos ferozes. Poderiam me aceitar mesmo estando tão... quebrada? Mas eu tenho tanto medo que eles me vejam da mesma forma que eu me vejo...  Por que iriam querer estar perto de alguém como eu? Alguém com mãos tão sujas de sangue e manchada por marcas que nunca me deixarão... O inferno em minha mente é tanto, os gritos desesperados que tanto clamam por ajuda seriam, enfim, ouvidos?

       

A Herdeira de MerlinOnde histórias criam vida. Descubra agora