Confissões

7 1 0
                                    


Vic

Capitulo 34                       Confissões

Eu me sentia flutuar, como se estivesse à deriva no mar. Tentei abrir meus olhos, mas não consegui, depois me vi na Terra, minha mãe estava costurando um vestido para mim.

__Fique quieta Vic, preciso ver onde prender os alfinetes. – me olhei no espelho grande da parede e eu estava com nove anos e ela fazia a roupa que eu usaria em uma apresentação da escola. Eu iria representar Sonho de uma noite de verão, seria uma fada. Então minha visão tremulou e eu estava novamente flutuando, me vi na escola, no pátio, era hora do recreio. Meus amigos estavam conversando sobre a festa daquele final de semana.

__Você vai Vic? – o garoto que eu gostava me perguntou e eu fiquei corada, senti meu rosto arder. Ele tinha quinze anos e eu estava com treze.

__Não sei, - respondi timidamente __tenho que pedir meus pais.

__Se você for, quer ficar comigo? – nem cheguei a responder. Sua face tremulou e me vi em outra situação. Dessa vez eu estava com dezesseis anos e estava na praça do meu bairro com meus amigos.

__Então está combinado, o Carlos leva o fogareiro e o Henrique, as bebidas. – disse Rodrigo.

__Eu levo a carne. – Gustavo falou erguendo a mão.

__Pensei que as meninas fossem levar os refrigerantes. – Cidinha falou e os meninos riram dela.

__O Cidinha, - Rodrigo falou com calma __o Henrique vai levar as bebidas alcoólicas. – os meninos riram de novo dela e eu me mantive calada, estava envergonhada de admitir que meu pai nunca me deixaria ir acampar no lago.

__E a Vic, vai levar o que? – Cidinha perguntou fazendo com que Rodrigo olhasse para mim, corei.

__Você vai Vic?

__Eu ainda não falei lá em casa. – o olhar de tristeza e decepção de Rodrigo me fez ficar triste.

A visão mudou mais uma vez, eu me encontrava em Atlantis, no deck do lago Meiavi e Max vinha em minha direção. Senti meu coração acelerar, ele me ofereceu a mão e quando estendi a minha para tocá-lo flutuei novamente na bruma nevoenta até encontrar-me com Caleb na floresta de Ogden. Sua face me aterrorizava, ainda marcada com as tatuagens geométricas, seu olhar de superioridade me irritou, eu queria gritar e dizer que ele podia mudar, que eu o havia visto mudar, mas não conseguia, então uma confusão de imagens dançou em minha mente, me deixando atordoada.

A família de Caleb, feliz em compartilhar sua música e sua comida, vi Max, Filipe, Alexandra e Ekualo, meu amigo Aiesh, me resgatando. Vi a batalha de Zorah, as mortes e todo o horror da cidade em chamas. Vi Bianor morrer, me vi sugar a energia de Caleb. Vi a minha morte na Terra e a batalha na Vila dos mineiros e Max sendo levado para a nave, tentei correr para ele, mas Caleb me impediu me segurando com força.

__Acorde Vic, acorde. – sua voz calma, porém firme me trouxe à consciência. Acordei em seus braços, eu estava chorando e meus olhos demoraram para focalizar o espaço ao redor.

__Onde estamos? – perguntei me pondo ereta. Estávamos sentados no chão, Caleb mantinha-me presa em seus braços, bem próxima ao seu corpo. Ao meu redor tudo era branco e limpo e percebi que estávamos em um grande salão de mármore branco com colunas altas em um círculo. Eu já estivera ali em um sonho.

__No Templo de Andirá. – ele disse quando o encarei.

__Como viemos parar aqui? – olhei ao redor, nós estávamos encostados em uma das colunas, fora do círculo.

__Não sei, eu só tentei segurá-la para que não fizesse nada precipitado e... – não deixei que ele terminasse de falar, me levantei tropegamente, tentei falar.

__Precisamos salvar Max e Alexandra... – senti-me tonta e Caleb me amparou colocando-me de volta no chão.

__Sim, nós precisamos, mas você precisa melhorar primeiro.

__Estou com tanto medo e com tanta raiva. Eu deveria tê-los destruído.

__Vic, acalme-se. – Caleb falou com ternura __Controle-se, seus olhos... – respirei fundo e fechei meus olhos, eles estavam cintilando, eu podia sentir o calor. __Nós vamos salvá-los.

__E se Max morrer, o que vou fazer? Não posso me imaginar sozinha, não mais.

__Você jamais estará sozinha. Tantas pessoas a amam. Acredita mesmo que se ele morrer, seus amigos a deixariam sozinha? E você tem a mim, eu nunca a deixarei. – ele falou com emoção e me calei surpreendida __E ele não vai morrer. – assenti querendo acreditar que aquela era uma previsão de Caleb e não seu desejo de me consolar. __Fique aqui, vou ver se consigo construir uma jangada para nos tirar daqui. – ele disse se preparando para levantar.

__Não, não me deixe, por favor. – segurei em sua camisa __Fica comigo, eu... eu estou com medo. – Caleb não disse nada, deitou-se ao meu lado e me puxou para seu peito. Fiquei um tempo ouvindo seu coração bater e comecei a me acalmar.

__Sente-se melhor? – sua voz acabou me tirando dos meus pensamentos, estava me lembrando de quando sentia horror ao toque dele e agora, senti-lo tão perto era reconfortante. Sua mão envolvia meu corpo e repousava em minhas costas.

__Sim, obrigada.

__Vic, quando eu voltar a Zorah, serei condenado e talvez não a veja nunca mais. – ele começou a dizer e me movi para olhar em seu rosto, Caleb também se moveu e se apoiou em seu braço, tocou de leve meu rosto com a outra mão. __Eu sei que já lhe disse isso uma vez, mas vou repetir, acho que não terei outra oportunidade.

__Eu vou interceder por você. – falei com medo de ouvir sua declaração de amor, eu não sabia o que faria se o ouvisse dizer que me amava. __Direi que nos ajudou, direi que você mudou. Todos nós podemos testemunhar. – ele sorriu __Não precisa se deixar ser preso. Pode voltar a ser o comandante de Malie.

__Não, não quero mais comandar. Só gostaria de viver com minha gente na ilha. Na verdade, eu só desejo uma coisa e não posso ter. – senti meu coração bater mais rápido. __Eu queria você Vic, mas vou ficar feliz se você estiver feliz. Não me importo de ser preso, desde que você esteja bem.

__Caleb, eu... – mordi minha boca na tentativa de conter minhas palavras, mas elas acabaram saindo. __eu também quero que fique bem, não quero que seja preso. Você mudou, você merece uma outra oportunidade.

__Me enche de felicidade ouvi-la dizer essas palavras. Isso prova que não me odeia mais.

__Eu não o odeio, não odeio. Eu... eu gosto de você e me preocupo com você. – falei rápido, tentando convencê-lo a atropelei as palavras. Ele parecia emocionado e então me beijou. Caleb havia me beijado antes em outras ocasiões, mas sempre o repeli. Mas hoje não, eu podia sentir seu coração batendo forte, eu podia sentir sua energia me envolver e me senti amada. Seus lábios deixaram os meus e percorreu meu rosto com beijos quentes, na face, olhos, nariz e minha boca novamente. __Caleb! – exclamei sem fôlego quando ele me abraçou com força.

__Não diga nada. – ele disse de encontro ao meu rosto. __Descanse, vou pensar em uma maneira de nos tirarmos daqui.

Andirá - o retorno a AtlantisOnde histórias criam vida. Descubra agora