Uma péssima decisão

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Vic

Capítulo 49                                   Uma péssima decisão

Era tarde e nem eu nem Ekualo havíamos dormido ainda. Rolei na cama e observei meu amigo Aiesh olhando para  o teto, deitado no chão, com os longos braços dobrados atrás da cabeça, tinha o olhar perdido em pensamentos.

__Perdeu uma esposa grávida! É por isso que está agindo assim comigo? – perguntei de supetão. Ekualo arregalou seus olhos grandes e amarelos e me observou, depois voltou a encarar o teto.

__Você deve ser mesmo uma espécie de deusa, se pode ler a mente de um Aiesh agora.

__Não li sua mente Ekualo. Eu só deduzi, depois de ouvir algumas coisas que seus amigos disseram.

__Eles não são meus amigos! – ele disse com desprezo.

__O que houve afinal? – eu perguntei e ele suspirou antes de responder.

__Eu fui casado, minha mulher esperava nosso primeiro filho, houve complicações e os dois morreram no parto.

__Isso não foi culpa sua.

__Em parte foi. Ela quis me acompanhar a Ogden, eu ia visitar Kailina e trocar mercadorias. Pedi a ela que ficasse, mas ela insistiu em ir comigo e me convenceu que ainda faltavam muitos dias para o parto. Mas ela se cansou demais no caminho. Voltamos para casa, mas... não pude ajudá-la.

__Vocês não são curandeiros? Não havia ninguém que pudesse ajudar sua mulher?

__Eles não nos queriam aqui, desde que ficamos do lado de Kailina quando ela decidiu se unir a um humano.

__É por isso que não quer me deixar ir a Megaron?

__Para ser sincero, acredito que o melhor é você ir para o mosteiro, mas não tenho coragem de ir só com você. Quero esperar pela anciã. – ele disse e eu assenti. Me virei para o lado e tentei contatar Celandine, mas meus poderes estavam oscilando muito, ora conseguia ora falhava.

__Vic, - ele me chamou em uma manhã quente. __vou ao vilarejo buscar mantimentos, talvez volte somente à noite.

__Está bem, não se preocupe, não tenho medo de ficar sozinha.

__Mas eu tenho. Quero que fique dentro de casa, com as portas e janelas fechadas.

__Ekualo! Não há necessidade, posso me cuidar. Esqueceu dos meus poderes? Posso me defender.

__Eu sei, mas prefiro ser precavido, e... – ele hesitou __seria bom se evitasse matar algum Aiesh por acidente.

__Ah! Entendo. Vou evitar matar quem quer que seja. – ele riu e saiu. Mantive a casa fechada, não por medo, mas porque prometi a ele. Por volta do meio dia decidi fazer algo para comer e percebi que o fogão precisava de mais lenha. Então saí para buscar, ao voltar para casa com os braços cheios de madeira, me deparei com um grupo de Aieshs. Meu primeiro pensamento foi tentar conversar, mas suas expressões não eram amigáveis. Decidi ignorá-los e caminhei em direção a porta, mas um deles me barrou o caminho. Ficamos alguns segundos olhando um para o outro sem nada dizer, até que ele falou.

__Vai embora! – sua voz saiu estranha, como um rosnado e a tentativa de falar o idioma conhecido por mim fez as palavras saírem assustadoras.

__Não posso ir agora, Ekualo me pediu para esperar.

__Você traz maldição! Não queremos gente como você aqui.

__Eu vou embora quando meus amigos chegarem.

__Vai agora! – uma mulher Aiesh de uns dois metros de altura me ameaçou com um bastão, sacudindo-o.

__Achei que fossem um povo amigável. – falei baixo. __Eu prometo que vou embora quando meus amigos vierem me buscar.

__Não! – ela gritou __Vai agora! – sacudiu mais uma vez o bastão e perdi a paciência. Arranquei o bastão de suas mãos e o atirei longe sem ao menos deixar a lenha que estava em meus braços cair. Eles ficaram assustados por alguns momentos, mas avançaram para mim rosnando. Eu já havia visto Ekualo e Kailina, sua irmã, lutarem, sabia da força dos Aieshs. Usei meus poderes para contê-los e corri para dentro de casa. Eles continuaram a atacar, batendo nas paredes da casa de madeira. Eu não queria feri-los, mas não podia permitir que me machucassem.

Peguei alguns pedaços de pão e coloquei em uma bolsa, procurei algo para deixar um bilhete a Ekualo, mas não encontrei. Escrevi com carvão na parede mesmo e abri a porta com força, assustando-os.

__Vou embora. – falei __Se me permitirem passar não os machucarei. – eles assentiram e desci as escadas e fui até o lago, onde peguei o pequeno barco. Quando estava distante da margem pude ouvi-los comemorando minha partida com ruídos estranhos.

Andirá - o retorno a AtlantisOnde histórias criam vida. Descubra agora