Andirá - a deusa

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Caleb

Capitulo 35                      Andirá – a deusa

Ela adormeceu em meus braços e minha mente fervilhava com pensamentos que eu não conseguia controlar. Eu estava eufórico, nunca tinha me sentido daquele modo, pela primeira vez tive esperança de que ela ficaria comigo. Já nos imaginava vivendo na ilha com meu povo, podia vê-la dançar ao redor da fogueira, com seus olhos de estrela a brilhar para mim. Mas e Max? Me perguntei várias vezes, eu desejava a sua morte, mas ela sofreria... Não! Eu a faria esquecer o camponês, ela me amava também.

Não percebi o momento exato em que adormeci, mas quando acordei, Vic não estava ao meu lado e havia uma vibração no ar. Me levantei e contornei a grande coluna que nos serviu de local de descanso, segui em direção a luz que iluminava todo o salão principal e estaquei paralisado, não estava preparado para a visão que tive.

Vic pairava no ar, em frente a imagem de Andirá, seus cabelos se moviam com uma brisa incomum, assim como sua camisola, seus pés descalços pendiam frouxos. Contornei seu corpo para vê-la de frente, ela estava chorando e um sussurro reverberava na câmara de mármore branco. Andirá falava com ela, mas eu não podia compreender, então Vic abriu os braços e uma luz intensa a atingiu cegando-me momentaneamente. Logo depois Vic foi descendo lentamente até que seus pés tocaram o chão, seus cabelos acalmaram-se em suas costas e ombros e ela abriu os olhos e me encarou.

__Vic? – perguntei receoso, pois seus olhos brilhantes estavam sem emoção.

__Comandante. – a voz era de Vic, mas eu soube que não era ela quem falava, mas sim Andirá. __A jovem está adormecida no momento. – ela fez uma pausa e depois continuou. __Ela ficará bem, não se preocupe.

__Mas... e a criança? – perguntei ao notar a flutuação de energia ao seu redor, era algo que nem eu mesmo conseguiria suportar.

__Esperamos que sobreviva. – ela disse e se moveu pelo salão como se experimentasse o novo corpo. Me enfureci.

__Como assim espera que sobreviva? Que espécie de deusa é você? Agora é permitido matar inocentes? – tentei me aproximar, mas a força com que fui atingido fez-me chocar contra a parede. Ela flutuou até mim.

__Como ousa erguer a voz para mim? Você nunca teve escrúpulos em matar qualquer um que atravessasse seu caminho. Conheço você Caleb, comandante de Malie. – ela se afastou e caí no chão, me ergui sentindo a garganta arder. __O que importa se a criança vive ou morre? Não é seu filho!

__Mas é filho dela. – falei com a voz áspera enquanto segurava a garganta.

__A jovem está ciente dos riscos e concordou. Ela compreende o significado de sacrifício. – fiquei horrorizado com suas palavras. __Vamos comandante, precisamos ir, temos que expulsar os invasores de Atlantis. – ela estendeu a mão para mim e quando a toquei, fomos transportados para o centro da Vila.

Estava começando a escurecer quando surgimos diante do poço de pedras que fornecia água potável aos aldeões. As casas estavam fechadas e alguns guardas Handarianos faziam a ronda. Quando nos avistaram, se moveram em nossa direção. Andirá nem sequer ergueu a mão e eles tiveram suas armas transformadas em pedaços, que caíram no chão os deixando atônitos.

__Vão e avisem seu líder que o aguardo aqui. – ela disse e sua voz se sobressaiu mais alta que qualquer ser humano seria capaz de falar, atraindo a atenção dos moradores. Eu permanecia ao seu lado, um pouco sem saber o que fazer e porque me preocupava com Vic, aquele corpo era dela e era difícil não sentir necessidade de protegê-la.

A porta da casa do aldeão que nos recebeu, senhor Ernesto, se abriu e vi Celandine sair cautelosa. A criança que Vic protegia saiu de dentro de casa correndo a abraçou as pernas de Andirá.

__Senhora Vic! – ela exclamou. __Está de volta, eu sabia que voltaria. – Andirá se voltou para criança e seus olhos brilhavam intensamente.

__Criança, sua Senhora não está aqui. – a menina arregalou os olhos e soltou suas pernas dando um passo atrás.

__É a moça. – ela exclamou.

__Boa menina. – Andirá disse e se voltou para mim. – Leve-a para dentro e proteja os aldeões. – peguei a menina no colo e fui em direção a casa do senhor Ernesto, Celandine me encarou surpresa.

__O que Vic está fazendo? E onde vocês estavam? Sumiram por quase dois dias!

__Dois dias?! – perguntei aflito enquanto colocava a menina no chão.

__Sim. – ela voltou a afirmar __E Vic?

__Não é ela. – a menina disse com os olhos em lágrimas. __Não é ela. – Celandine me encarou interrogativamente.

__Aquela é Andirá. – falei e olhei mais uma vez a figura de Vic diante dos guardas ainda atônitos.

__A deusa?

__A própria.

__Mas como?

__Ela está possuindo o corpo de Vic. Estávamos no templo. – continuei __de alguma forma fomos levados até lá e Andirá tomou o corpo de Vic.

__Tem certeza? – Filipe, que estava no interior da casa, veio chegando apoiado em uma muleta improvisada, tinha o pé esquerdo enfaixado e várias escoriações no corpo e no rosto.

__Tenho sim, e se tiver a oportunidade de falar com ela, também perceberá a diferença. – apontei a criança que se encolhia sobre o sofá. Depois me voltei para ele. __O que fez? Tentou vencê-los lutando com as próprias mãos? – perguntei com ironia, mas notei por sua expressão que fora realmente o que fizera. __Não tem amor à vida?

__Eles levaram Alexandra.

__Sim, eu sei, também Max. – falei. __Sei que desejam resgatá-los, mas se matar não os trará de volta.

__E o que sugere que façamos?

__No momento estou confiando nela. – apontei a cena que se passava na praça central.

Os Handarianos se movendo como baratas tontas, deixando a Vila às pressas. Depois que escureceu, algumas casas acenderam velas e lampiões, mas havia uma luminosidade ao redor de Andirá, que permanecia parada, como se meditasse.

__Será que ela não vai entrar? - Celandine questionou ao olhar pela janela, talvez pela décima vez em trinta minutos.

__Não creio que o faça.

__Mas... será que ficará lá até quando?

__Acredito que até o líder dos Handarianos aparecer.

__E se formos falar com ela? Talvez oferecer algo para comer.

__Fique à vontade. – apontei a porta e Celandine me encarou com raiva e envolveu seu corpo com um manto, cobrindo os cabelos e foi até a praça, ficou por lá alguns poucos minutos e depois voltou.

__Então? – a questionei já sabendo a resposta.

__Ela agradeceu, mas recusou. – a anciã falou aborrecida. __Nem mesmo quando argumentei que o corpo de Vic precisava de comida e descanso, ela...

__Pareceu não se importar? – completei e Celandine só ergueu os olhos para mim. __Acredite, ela não se importa.

__Não pode dizer isso sobre a deusa. – a mulher de Ernesto falou temerosa, ela pode se aborrecer. – exalei exasperado, aquela espera me deixava nervoso, tenso e irritado. Não tinha paciência, mas me mantive calado.

Logo que amanheceu, acordei assustado com um tremor por toda a casa, as paredes vibraram e do teto caiu poeira. Todos se levantaram assustados, percebi que a pequena Tita estava dormindo em meu colo no sofá e minha expressão de espanto deve ter divertido Celandine, que veio em meu socorro.

__Ela se aproximou quando você adormeceu. – fiquei calado vendo a anciã pegá-la do meu colo sem acordá-la e colocá-la sobre o sofá quando me levantei. __Perguntei se ela não queria dormir na cama da Vic e ela disse que não, que você a protegeria. – Celandine contou com um sorriso gentil.

Deixamos a criança adormecida e saímos, Andirá permanecia no mesmo lugar e uma grande nave se aproximou da praça, vibrando todas as construções. Ela pairou sobre nós e em um feixe de luz, surgiram Max e Alexandra, acompanhados por dois guardas e um terceiro Handariano com um uniforme de comando, mas não era o líder com quem conversei em Sogni.

Andirá - o retorno a AtlantisOnde histórias criam vida. Descubra agora