Desesperança

3 1 0
                                    


Max

Capítulo 39                          Desesperança

Tão logo eles despareceram no círculo de luz, Celandine veio até mim e tocou em meu ombro.

__Max, vai ficar tudo bem. – ela tentou me consolar, mas meu coração estava cheio de raiva e ressentimento e me afastei dela. Como Vic pode aceitar arriscar a vida de nosso filho desse jeito? Como ela pode tomar a decisão sozinha?

__Não, não vai Celandine. – falei e sai de perto dela.

Na manhã seguinte, conversei com Jordan e alguns soldados de Zorah e os enviei com Celandine, Filipe e Alexandra até Sogni para que pegassem a embarcação de capitão Skipp. Me encontrei com Michel e saímos para Porto Eirel em seguida.

Os prisioneiros estavam amarrados de forma que pudessem caminhar em formação. Só paramos ao entardecer do primeiro dia, foi servida uma ração de água e pão aos prisioneiros, quanto aos soldados ainda mantinham alguma reserva de mantimentos da viagem e fizeram uma grande sopa.

__Tome, precisa comer. – Michel me entregou uma caneca fumegante com a sopa.

__Obrigado, não tenho fome. – recusei e voltei a amolar a lâmina da minha espada. Michel colocou a caneca no chão próximo a mim e saiu. Quando a madrugada estava alta, ele voltou até mim e viu que a caneca estava vazia, percebi seu sorriso satisfeito. __Obrigado. – falei reconhecendo sua gentileza.

__Não tem o que agradecer. – ele disse ao se sentar. __Na verdade, o comandante me pediu que o servisse como se fosse a ele mesmo. – aquilo me incomodou e Michel percebeu. __Olha, não compreendo a relação entre vocês, mas sei que o Comandante não quer o seu mal ou o senhor já estaria morto.

__Imagino que sim. – respondi sem vontade.

__O motivo dessa indisposição entre vocês é a jovem deusa. – ele afirmou receoso.

__Indisposição é uma palavra leve para o que realmente sentimos um pelo outro. – falei sarcástico e Michel meio que sorriu.

__Acredito que a jovem deusa deva valer a pena. Com todo respeito. – ele completou ao ver minha expressão nada amigável. __Quando ela esteve em Malie, nosso Comandante mudou.

__Mudou?! – perguntei como uma provocação, mas ele não se importou e continuou sua explicação.

__Sim, ele se tornou... como posso dizer... mais humano, se é que me entende?

__Perfeitamente. – continuei com minha ironia.

__Ele por vezes chegou a sorrir, todos nós ficamos preocupados que ela o havia enfeitiçado. – ele me olhou de soslaio. __Houve uma vez que ele liberou alguns de nós para as festividades do Beltane. Ele nunca havia feito nada parecido, mas de tudo isso, o que mais me impressionou foi ele ter ido às festividades com ela, até dançou com ela. – me ergui de súbito diante da revelação. Imaginar os dois juntos dançando, se divertindo enquanto eu estava quase louco de preocupação, só me fez sentir mais raiva de Vic. __Perdoe-me se disse algo inconveniente. – Michel percebeu meu desconforto __Deveria dormir Senhor, eu fico de guarda.

__Não vou conseguir dormir, descanse você.

Logo que amanheceu retomamos à estrada e Michel cavalgou ao meu lado por todo o dia, e continuou contando sobre sua vida em Malie, porém evitou falar em Caleb ou mencionar a época em que Vic esteve lá.

__Quando voltar a Malie, vou pedir minha garota em casamento. – ele disse com ar sonhador __Ela é uma menina especial. Antes de sair de Malie, ela estava preocupada, chegou a chorar. Prometi a ela que ao voltar, nos casaríamos.

__Fico feliz por você poder cumprir com a promessa.

__Ela conheceu a jovem deusa. – ele olhou para mim avaliando minha reação. __Pâmela trabalha na casa do Ancião de Malie. – me lembrei da jovem de cabelos cor de mel que me levou ao meu quarto quando estive em Malie e que falava em Caleb com veneração. Talvez ele tivesse algum poder oculto sobre as mulheres, que as deixasse cegas para o que era de verdade, um monstro egoísta com sede de poder.

__Acho que a conheci quando estive lá. – falei para não deixá-lo constrangido com meu silêncio __É uma moça bonita.

__Terei belos filhos. – ele completou orgulhoso e senti meu peito se fechar. Me fechei novamente e Michel se calou, depois de algum tempo resolvi perguntar algo que me passou pela cabeça.

__Michel, você sabe onde vive a família de Caleb? – ele me olhou surpreso.

__O Comandante não tem família. O Ancião de Malie o adotou quando era criança.

__Entendo.

__Por que pensou que ele tivesse família?

__Todos temos família, não? Fiquei imaginando onde morava a dele.

__Ele não tem ninguém. Talvez por isso seja tão...bem, como ele é. Se bem que agora, ele está mudado. – assenti com um mover de cabeça e fiz minha montaria andar mais rápido, me distanciando de Michel. Me perguntava se Caleb apagava a memória de todos que de alguma forma tiveram contato com sua família, ou se simplesmente nunca os deixou sequer se aproximarem de seu povo.

Fizemos o percurso até Porto Eirel bem mais rápido dessa vez, apesar de estarmos levando os prisioneiros Handarianos. Parávamos bem menos, o que nos fez chegar ao porto antes dos navios que vinham de Sogni e tivemos que esperar.

Andirá - o retorno a AtlantisOnde histórias criam vida. Descubra agora