Já se passaram dois dias, apenas dois que parecem milhões. Já imaginei infinitas possibilidades de dizer ao Jack que não consigo mais guardar seu segredo, ou melhor, nosso. Não consigo dormir direito, pois tenho pesadelos com Arthur me culpando de ajudar o Jack a enterra-lo.

Decidi hoje que irei a delegacia contar tudo, mesmo que ele nunca mais queira falar ou olhar em meu rosto. Fico pensando se devo dizer a ele antes ou depois de ir até lá. E ainda penso como Jack está com a morte de seu primo sem saber quem o tirou a vida.

No princípio, eu só queria morar em uma cidade pequena, trabalhar em um lugar calmo e terminar minha escola. Pensando bem, estou com muitas faltas, nunca mais fui. Esse assunto tinha que acabar o quanto antes para que eu possa continuar minha vida.

Saio de casa como um dia comum, coloquei meu uniforme do trabalho e passei na cafeteria. No caminho decidi falar primeiro para Jack que eu iria à delegacia, isso era assunto dele mesmo que eu estou no meio de tudo isso.

Chego na papelaria. "Mas o que e isso?" penso com muito medo disso estar acontecendo de novo.

—Jack? —Grito.

Ele aparece com um esfregão na mão. Pergunto a ele o que era isso no chão e ele fala que um pote de sangue falso da fantasia de halloween dele havia caído de sua sacola quando tinha chegado na papelaria. Suspiro, senti um grande alivio, eu não poderia cobrir mais um assassinato, sendo que vou a delegacia ainda hoje.

Entro na loja ignorando o que havia acontecido há alguns segundos atrás. Guardo minha coisas e vou até o caixa para poder abrir a loja para os clientes. Não sei como começar a falar isso para ele, como digo para ele que vou contar tudo para a policia? Me levanto do caixa e vou andando até ele fingindo "arrumar" algumas coisas que estavam nas prateleiras do caminho.

—É... então Jack, eu.. —Estou muito nervosa, mas mesmo assim continuo. Ele é meu amigo, acho q ele vai me entender.

Ele olha para mim como se estivesse falando para eu continuar a falar.

—Vou à delegacia hoje depois do trabalho. —Fico esperando uma reação ou qualquer palavra me apoiando.

—Você está brincando? —Pergunta sem acreditar, mas ainda calmo.

—Bom.. não. —Falo arrumando minha franja que havia caído em meus olhos.

—Não, você não vai. —Fala e continua a limpar o liquido do chão.

Será que ele acha que eu estou brincando? Ele não deu a mínima no que eu estava falando. Volto para o caixa sem entender direito. Será  que ele está achando que manda em mim ou algo assim? São tantas perguntas que fiz a mim mesma em um só minuto, que não sei nem como começar a responde-las. Pelo menos eu já tinha avisado para ele.

Quando chego no caixa escuto ele vindo, finjo que estou arrumando as notas de dinheiro.

—Victoria, você está pensando mesmo em fazer isso? —Ele pergunta preocupado. —Se estiver pensando nisso, esqueça. Não é uma boa ideia e além do mais, não sabemos se o assassino ainda está por essas regiões. Se ele acabar sabendo, você está morta!

Merda, tinha esquecido dessa parte. Se eu contar para a polícia, quem matou Arthur vai me matar também. E agora? O que eu faço? Eu precisava contar isso para alguém, esse assunto já estava me consumindo.

Depois de pensar bem no que iria fazer, digo a ele que vou pensar melhor, mas que não estava pronta para guardar esse segredo por muito tempo.

O trabalho terminou e o dia foi longo. Por algum motivo Jack se ofereceu para me levar até minha casa, ele parecia com medo de eu ir a delegacia.

Cheguei em casa e Shiki não estava aqui. Eu já estou me acostumando com sua presença e quando ele está ausente acho que foi para o seu dono verdadeiro.

Fazia um bom tempo que não conversava com minha amiga, na verdade eu não conversava com quase ninguém nesses dias. Chiara é minha amiga desde o jardim de infância, que foi onde nos conhecemos. A ultima vez que nós conversamos, ela tinha me ligado para falar sobre a Maggie, que alias, foi bem estranho encontra-la em uma outra cidade, e ainda conhecer meu chefe.

Conversamos muito sobre tudo que eu tinha perdido, quem estávamos gostando, e falei até um pouco sobre o Jack, mas não em um sentido bom, ele estava muito diferente de quando eu tinha conhecido ele. Me despedi dela e fui dormir.

Espero que amanhã seja um dia melhor e que eu não fique com isso na cabeça.

Presa por um amorOnde histórias criam vida. Descubra agora