XII

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—Como... —A pessoa diz.
—Eu vi... eu... te enterrei, não tem como você estar vivo.

  Minha vida pode estar sendo uma farsa, ninguém conta as verdades para mim, ou posso apenas estar sendo uma menininha ingênua.
  Contudo, Jack pode ter criado varias versões para essa falsa morte de Arthur Jones.

A bala passou perfeitamente no meio de seu cérebro, fazendo com que morresse na mesma hora, e assim Arthur nos deixou? Baboseira

  Se estou certa, Jack já saberia que seu primo não foi "assassinado", poderia ter me contado essa versão para que não precisasse explicar o porquê de seu primo ter fingido sua morte.

Mas e todo aquele sangue? Poderia ter tido algum erro e a bala disparada poderia ter o atingido, ou até mesmo o sangue falso que Jack derramou por acidente no chão da loja esses dias, não fosse para sua fantasia de Halloween.

E como ele estava inconsciente? Jack ou até mesmo o próprio Arthur poderia ter tomado algo para adormecer profundamente e deixar a "morte" mais realista.

Mas algumas perguntas específicas em minha minha mente não querem se calar. Por que eu e Arthur estamos aqui? Mesmo não sabendo o motivo de eu estar, por que Arthur depois de fingir sua própria morte estaria aqui? O objetivo que queria com sua morte teria dado errado? E qual seria ele?

  Um pensamento que parece ter demorado horas, só durou 5 segundos em minha mente.

—Que merda Victoria, era pra você estar dormindo! —Ele fala decepcionado e com raiva ao mesmo tempo.

—Por que você fingiria morrer? —Pergunto ainda tentando processar o que estava acontecendo.

Ele se levanta no mesmo momento em que escuta passos pesados num andar de cima. Por escutar isso, percebo que estamos em uma espécie de porão.

—Eu não posso falar disso agora, mas te explico depois. —Fala em um tom de voz mais baixo, seguindo até a saída do quarto que estamos no porão.

—Mas... Minha perna está doendo muito.

Arthur pega um molho de chaves que estava pendurado na traqueta de sua calça e retira apenas uma chave da argola que as mantida unidas, posteriormente a joga para mim. Em seguida tranca a porta e a grade, que me fazia agora presa.

Pego a chave que havia sido jogada e tento abrir a tranca da corrente que prendia minha perna. Consegui! Suspiro aliviada, essa corrente realmente estava me machucando.

*•*•*•*

Enquanto analisava o estado de minha perna, escuto algo, como se fosse uma conversa. Então esta seria minha chance? Gritar o mais alto que conseguir? Não posso deixar essa oportunidade passar. Vou até a porta do cômodo, respiro fundo e...

—SOCORROOOO, ESTOU AQUIII, ME AJUDEM POR FAVOR!!

A conversa parecia ainda muito calma mesmo depois de ter alguém gritando por socorro. Então decido gritar mais uma vez, mas dessa vez batendo na porta. Foi tão alto que no meio das palavras minha voz ficou rouca. Não consigo entender, não é possível eles não terem escutado, gritei o máximo que podia, até meus próprios ouvidos estrondaram por conta do barulho.

  Deu certo?! O barulho de passos se aproxima fazendo que o medo também se aproximasse a mim.

A porta abre...

—CALA A BOCA!! Seus gritinhos não vão dar para escutar lá fora, sua tola. —O homem grita e eu me encolho no mesmo momento.

—Mas o que... onde está sua corrente? — Pergunta olhando para os lados tentando acha-la.

—Ah... eu.. não sei, não lembro de estar com uma. — Tento dar uma desculpa, estou tremendo por dentro, morrendo de medo dele fazer alguma coisa comigo por ter tirado a corrente.

—Hum... tanto faz, só não grita de novo, estou ocupado. —Depois de ter dito isso, apenas vira de costas indo em direção a porta.

Não posso ficar aqui de jeito algum, pelo menos posso conseguir a confiança dele aos poucos.

—Espera! —Grito ele antes de sair do local. — Eu.. preciso ir ao banheiro, estou a muito tempo segurando e não consigo fazer naquele balde. —Ele olha para o balde.

Pareceu convincente para ele, pois ele me chama. Segura meus braços juntos para trás, e me empurra de leve para que eu possa andar mais rápido. Saindo do cômodo, vejo que tem mais um quartinho e algo que parecia ser uma sala, e mais para frente vejo uma escada. Subimos ela e já vejo o brilho do sol pela pequena parte aberta da janela. Ah que saudade do sol.

Passamos primeiro pela sala, que por sinal parece ter passado um pequeno furacão por todo o local, está uma bagunça imensa. Tem papéis, garrafas refrigerante, maços de cigarro, um cinzeiro lotado de cigarros já usados e uma caixa... espera, esta caixa é a caixa de entregas da loja, ele nem ao menos abriu a caixa, ela está intacta, aliás, ela é a única coisa "arrumadinha" de toda a sala. Olho para a tv, como pude ser tão burra, a conversa que ouvi era apenas a tv.

Ele me empurra um pouco mais forte para chagarmos até o banheiro mais rápido.

Me sento no vaso e penso no que poderia fazer, olho para trás e vejo que a janela é pequena de mais para que eu possa passar por lá. Se eu me trancasse no banheiro seria pior que o outro lugar, esse banheiro e minúsculo.

—Já terminou? —Bate na porta com e pergunta com desanimo.

—Estou quase terminando! só um minutinho —Falo.

Mesmo que eu já havia acabado alguns minutos antes, não queria voltar para aquele lugar novamente. Depois de analisar todo o banheiro, olhei para a pia e vejo que tinha um armário a baixo dele. Como não pensei nisso antes. Tento abrir uma das duas gavetas que havia no armário, mas...

*barulho da gaveta rangendo*

merda

—Que barulho foi esse, vou abrir a porta! —Grita e bate na porta.

Eu congelo, o que vou fazer?

Me sento no vaso novamente, pego o único rolo de papel higiênico que tinha visto no banheiro e jogo dentro do vaso. Foi o tempo dele girar a maçaneta.

Ele abre a porta de pressa

—Só estava procurando um papel higiênico, não tinha achado um. —Falo tampando minhas partes intimas olhando para ele com muito medo e vergonha dessa situação.

—Hum.. —Ele abre a gaveta com um pouco de força pois estava emperrada, pega o papel higiênico, me entrega e fecha a porta.

Esse pode ter sido o pior momento de minha vida até agora. Depois que me acalmo, subo minha calça e vejo que ele não tinha fechado a gaveta, tem tantas coisas aqui. Mexo com cuidado para não fazer barulho.

Não é possível

Meus olhos brilham, um canivete... um CANIVETE, meu Deus. É um canivete butterfly. Quando meu pai ainda era vivo, tinha visto um desses com ele.

—Já deve ter dado tempo né?! anda. —Ele abre a porta

Por muita sorte consegui colocar o canivete dentro da calça a tempo, mas coloquei com tanta pressa que acho que devo ter cortado minha coxa. Ele me leva para o porão do mesmo modo que me trouxe para cima. Ele sai do quarto sem ao menos falar nada, trancando a porta em seguida.

Pego o canivete e coloco dentro da fronha do travesseiro.

só preciso saber quando vou usa-lo.

Presa por um amorOnde histórias criam vida. Descubra agora