XIII

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Um outro desafio em minha vida se inicia.

Onde um detento esconde uma arma contrabandeada? Pelo que vi em filmes, series e documentários com o tema cadeia ou prisão, geralmente escondiam de baixo do colchão, mas no meu caso, isso não vai ser possível. Em baixo do meu colchão não tem uma base de cama feita de ferro, somente o chão duro. Esconder este objeto de baixo do colchão ou dentro dele seria muito obvio quando ele sentir falta do mesmo. Até tentaria esconder dentro do vaso, mas minha humilde cela não tem um, só um... balde.

Onde mais eu poderia esconder isso? Poderia ser em qualquer lugar que não fosse obvio para o homem horripilante ou dentro de mim.

Analisando mais todo o lugar, vi que tinha um pequeno buraco na parede perto chão, que teria o tamanho ideal somente para o canivete. Foi o tempo de colocar lá, que escuto alguém se aproximar. Arthur! Ufa, estava com medo de ser aquele homem procurando por seu canivete que deveria estar na gaveta de seu banheiro.

Ele abre a porta como se precisasse se esconder de alguém... estranho. Arruma a postura e parece fingir que está no controle da situação. Olho para ele alegre por vê-lo novamente. Talvez, dessa vez possa me explicar o que está acontecendo. Arthur se aproxima fazendo com que em seguida, me mostrasse o que havia em suas mãos.

Uma bolsa, que era bem familiar para mim.

–Trouxe sua bolsa que esqueceu no carro. Acho que você irá precisar. –Fala me entregando a mesma.

Fico pensativa. Como ele sabia que tinha esquecido uma bolsa no carro de Jack, e como teria tanta certeza de que era minha? Não dou tanta importância para o que ele disse. Não conseguindo me segurar, falo.

–Foi Jack que me trouxe pra cá? Me responda, por favor! –Pergunto esperando sua resposta, atenta. Eu já tinha quase certeza de que realmente Jack teria me trago pra cá, mas eu precisava de uma confirmação que eu pudesse acreditar.

–Eu... eu não sei se é uma boa ideia conversarmos sobre isso agora. –Tenta desviar o assunto. Estranhamente, ficava olhando para o teto e para a porta varias vezes depois que perguntei a ele.

Por que ele sempre da um desculpa esfarrapada quando o pergunto sobre esse assunto?

–Eu não aguento mais ficar aqui! Olha isso. –Mostro o lugar em minha volta e continuo –É desumano o que estão fazendo comigo. Eu tenho uma vida! Preciso trabalhar, estudar, tomar sol... viver uma vida de verdade e não isso, que nem ao menos tem uma explicação lógica de estar acontecendo.

Ele olha para mim com culpa e vergonha da situação. Mudando de assunto, ele me entrega uma bandeja com comida. Estava com muita fome, então não recusei e fui comer na mesma hora. Arthur está sentado no chão em minha frente, o que me faz sentir um pouco de vergonha, estar comendo na frente dele neste estado. Ele nem ao menos tentou me acalmar, não falou nenhuma palavra depois disso.

Depois de um tempo, termino de comer. Ele continua me olhando com uma cara estranha, como se estivesse culpado, mas ainda sim parece confiante no que estava fazendo. Uma porta bate, mas não foi aqui em baixo. Pelo susto que Arthur tomou, parecia que estava com mais medo de alguém vir, do que eu estou. Não entendo como ele pode estar no "comando", estar com as chaves e tudo mais, mas mesmo assim estar com tanto medo. Ele estaria com medo de ser um policial ou alguém com muito poder na cidade? Sei que seu tio não deixaria nenhum policial entrar, ainda mais por ele ser bruto do jeito que é. Tento ligar os pontos para chegar a uma conclusão, mas não chego em nada. Arthur parece estar encolhido de medo, o que me faz pensar que poderia ter alguma divida com alguém de alguma máfia ou algo do tipo. Tento me aproximar devagar.

–Arthur, por que você está assim? Eu posso te ajudar. É só você me contar o que está acontecendo, que eu te ajudo com o que for preciso. –Falo calma tentando ganhar sua confiança.

Ele olha devagar ficando cada vez mais calmo. Parece que as pessoas são muito grossas e insensíveis com ele no dia a dia, então parecia mais calmo com minha presença.

–Você mataria ele por mim? –As palavras pareciam ter saído sem querer. Ele arregala os olhos com uma expressão de surpresa. Ele não estava com medo dos policias, mas sim de uma pessoa, eu só não sei se seria um homem perigoso ou um policial bom apenas querendo o prender por ter feito coisas ruins. –Você está tentando entrar na minha mente, é isso que todos estão tentando fazer o tempo todo para ganhar em minhas custas. –Ele se levanta do chão e vai em direção a saída.

–Arthur, você está entendendo errado, eu não quero seu mal, espera. –Tento faze-lo voltar, mas não consigo. Ele tranca a porta e a grade, saindo em seguida sem fazer nenhum barulho.

Como sou burra! Já tentei de tudo para sair daqui ou tentar ganhar sua confiança. Penso em gritar como fiz da ultima vez, para que ele possa me deixar usar o banheiro, mas tenho medo de que ele se irrite e me faça algum mal.

Me deito no colchão de barriga para cima e olho para o teto pensativa. Está um silencio tão calmo e sonolento, o clima está mais frio e o "quarto" em penumbra, o que me fez pegar no sono facilmente. Luto contra o sono, não queria dormir essa hora da tarde. Olho para os lados, consigo enxergar alguém, uma sombra... Jack?

Acordo em um susto tremendo, olho para os lados e percebo que poderia ter sido só  um sonho. A campainha está sendo tocada com rapidez, o que me faz pensar que seria a pessoa de que Arthur temia tanto. Encosto o ouvido na porta para poder escutar melhor. É a voz de uma mulher nervosa.

–O que te faz pensar que poderia estar em minha propriedade? –Pergunta. É a voz do tio de Arthur.

–O que aconteceu com Arthur? Ele não me responde, liguei para ele mais de cem vezes, mas nenhuma foi atendida. –Pergunta preocupada.

–Maggie, é melhor você ir embora, não quero te explicar nada, além de não ser assunto seu. –Ele diz calmo, mas impaciente.

Maggie? Ela não sabe da suposta morte de Arthur, por isso veio. Mas se ela estava no meu lugar, por que voltou aqui só para ter noticias do namorado? Não tem medo de voltar a ficar presa neste lugar horrendo?

–Eu exijo respostas, espero que responda antes da policia chegar. –Fala com autoridade.

–Então quer saber? Não vou mentir pra você sua merdinha, ele está morto! se matou em minha frente. Agora vá embora! –Depois que diz isso, Maggie fica calada, em choque. Ele bate a porta e ela vai embora em seguida.

Por que ele não disse a verdade para ela? Ele queria a ver sofrer com a "morte" de Arthur?

Tomo um susto quando alguém coloca a chave na fechadura da porta. Me afasto e vejo que era Arthur.

–Arthur! graças a Deus, você escutou? por que ele não contou que você está vivo? Ela deve estar desmoronando com a notícia. –Falo preocupada.

Ele parece fingir que não ouviu o que eu disse. Se senta no chão e fica pensativo.

–Arthur?! –Tento chamar sua atenção.

–Victoria, eu não posso falar disso agora. Não até tudo se estabilizar. –Fala colocando a mão em seu rosto.

Já era esperado de que iria fazer isso, não tenho nada mais a perder. Olho com raiva e me aproximo dele.

–Se você não me contar tudo o que eu quiser saber, vou gritar que você está aqui. –Depois que falo, ele percebe que eu já estava sabendo que havia algo de errado com sua presença. –Ah, fala serio, eu não sou burra! Você sempre entra aqui parecendo que está se escondendo de alguém.

Ele olha preocupado com a situação. Olho para os olho dele, roubando toda a sua atenção.

–Arthur, seu tio não sabe que você está vivo né?!

Presa por um amorOnde histórias criam vida. Descubra agora