– Obrigada senhor, volte sempre – respondi sorrindo enquanto entregava um café e um pedaço de torta para viagem.
Estava trabalhando já quase o dia inteiro e não via a hora de acabar meu expediente e poder ir para casa. Eu trabalhava numa lanchonete barra cafeteria no centro da cidade de Crémart – minha cidade natal –, o que a tornava bastante visitada desde o café da manhã até a hora da janta.
– Acho ótimo ter feito faculdade de Serviço Social, e trabalhar como caixa em uma lanchonete. Isso porque eu amo matemática – comentei rindo para Camila, minha amiga e colega de trabalho que se aproximava de mim.
– Gata, imagina que contradição para mim que sou formada em Moda e obrigada a usar esse uniforme horrível – Camila respondeu olhando o próprio corpo com nojo, o que me fez rir.
Com a economia no país indo por ralo abaixo, o mercado de trabalho ia ficando mais acirrado e o número de desempregados só crescia. Tínhamos algum tipo de sorte por ter esse emprego, mesmo com os malefícios, que não são poucos.
– Mas enfim, Tony. Seu aniversário está chegando, a gente podia sair pra fazer alguma coisa – Camila disse olhando para suas unhas perfeitamente feitas. Embora Camila Bernard, pareça uma garota bem superficial, com seu corpo esbelto, cabelos ruivos e olhos incrivelmente verdes, na verdade sua personalidade é tão bela quanto sua aparência, sempre se preocupando com sua família e amigos e nunca poupou esforços para ajudar quem ama.
– Não sei Cami, estava pensando em poupar dinheiro – falei terminando de contar o dinheiro do caixa e vendo se batia com o valor total de compras.
– Tony, são 21 anos. Com certeza, daqui a pouco alguma empresa vai ver o seu currículo e vai dizer "Eu quero essa menina" e pronto, daqui uns cinco anos você tá rica e resolvendo problemas da sociedade – gargalhei perante a imaginação e certeza com que Camila falava essas coisas, mas parte de mim quis acreditar que seria verdade. Pelo menos a parte do currículo. – Mas, por favor Tony, não vamos perder nossas oportunidades de sermos felizes no presente.
Chequei as horas e já tinha acabado meu expediente, então o de Camila também. Fui em direção ao interior da cafeteria para pegar minhas coisas e trocar de roupa com ela me acompanhando de perto. Eu não ter dado uma resposta – na verdade, não ter dado a resposta que ela queria – estava a consumindo de ansiedade.
– Diante aquele seu texto magnífico de apoio e amor, tudo bem eu saio contigo – quando finalmente a respondi, já estávamos do lado de fora e andando em direção ao ponto de ônibus. Cami ficou tão animada com minha resposta que só faltou dar pulos de alegria no meio da rua – mas por favor algo que me agrade.
– Aff Tony, você fala como se eu fosse te levar para sei lá... uma boate. Sou tão pobre quanto você amiga – ela respondeu e rimos juntas.
Por Camila morar mais perto da lanchonete, ela ia para casa andando, enquanto eu ficava no ponto de ônibus esperando. Graças à Deus, hoje o ônibus passou rápido então não demorei muito para enfim chegar, mas reparei que já escurecia, e o sol brilhante estava dando lugar para as pequenas estrelas.
– Boa noite, boa noite – falei entrando em casa e reparando que estava faltando alguém. – Ué, cadê papai?
– Saiu para resolver alguns problemas – respondeu minha mãe da cozinha junto com Helena, enquanto ela cozinhava e minha irmã arrumava as coisas no lugar.
– Coisas da escola? – Perguntei pendurando minha bolsa no cabideiro atrás da porta.
– É, tipo isso – minha mãe respondeu de forma hesitante, o que me fez olhar para ela com uma sobrancelha arqueada, mas ela não me deu tempo de fazer mais perguntas – Querida, sua irmã teve que ficar na faculdade hoje o dia inteiro por causa de um projeto e não deu para a arrumar a casa. Eu sei que você está cansada, mas poderia passar um pano nos quartos? A sala a gente já limpou.
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