Depois de um longo tempo em silêncio, o que me fez perder ainda mais a paciência, Emma volta a falar.
— Bom, para começar eu sei o que você está fazendo. — Me seguro para não revirar os olhos, mas, a expressão de tédio em meu rosto é inevitável.
— E o que seria?
— Você está usando esse jogo de menina boazinha, como uma santa, mas, sei que por baixo de toda essa casca bonita tem um ser desprezível.
— Bom, penso o mesmo de você. — Percebo o momento que o rosto da princesa fica vermelho de raiva. Só faltou sair fumaça dos ouvidos.
— Eu sou muito diferente de você. Melhor.
— Não acho. Está me julgando sem nem me conhecer. Afinal, com base em que?
— Oras, não seja sonsa Maria Antonieta. — Qualquer um conseguiria perceber a repugnância com que Emma falou meu nome. — Você é filha dos seus pais. Corre no seu sangue.
— Ah, tinha que ser. Se seus problemas são com meus pais, te peço, por favor, que dirija seu ódio a eles. Não respondo por seus erros.
— Não acredito. Tá fazendo o que aqui então?
— Estou, exatamente, tentando corrigir o erro deles. Uma responsabilidade que foi colocada em minhas costas.
— E, com certeza, aceitar um título nobre e se casar com o príncipe herdeiro foi muito difícil. — Emma faz gestos debochados enquanto fala, e me esforço em manter a compostura.
— Para falar a verdade, não. Foi difícil sim saber que meus pais mentiram para mim durante toda minha vida. Mas, subir na vida, o que me impediria? — Vejo que Emma faz questão de me interromper, porém, não permito. — Até porque, mesmo sabendo que o dinheiro que você gasta vem do seu próprio esforço, não vejo você renunciando às suas roupas caras e riqueza e dar tudo para os pobres.
Percebo que o que disse de certa forma pegou Emma desprevenida. Ela desvia o olhar, mas, quando volta a me encarar, vejo ódio brilhando neles, e sei que as ofensas estão só começando.
— Está bem.
— Está? — pergunto com uma sobrancelha arqueada, estranhando a resposta. Emma acena lentamente a cabeça confirmando. — Ótimo — falo dando as costas, e volto meus pensamentos para Nicholas que me espera em algum lugar desse jardim.
— Era de se esperar isso de você, se promover em cima do esforço dos outros. Como sua mãe.
Se a princesa estava com raiva antes, eu agora estou furiosa, e certa de que não vou conseguir me segurar por muito mais tempo. Me volto para ela devagar, encarando sua expressão de triunfo ao ver que sua resposta me afetou.
— O que você disse?
— Isso mesmo que você ouviu, linda. Tenho que admitir que Inês, é o nome da sua mãe, não é? Sim, ela foi muito esperta, pescando um duque. Uma simples empregada, quem diria?
— Eles se apaixonaram, minha mãe não fez nada premeditado — falo sentindo raiva em cada poro do meu corpo.
— Ah, claro que não, se envolveu com um homem comprometido, inocentemente. Muito comum.
— Meu pai estava preso em um casamento arranjado, que ele não queria. Não foi culpa deles.
Emma da uma risada alta, e encara as unhas grandes pintadas de vermelho sangue. Combinam com ela, embora pareçam quentes e convidativas são frias e calculistas.
— Foi isso que eles contaram para você, querida? Minha tia, infelizmente, era apaixonada pelo seu pai. E era correspondida. — Balanço a cabeça negativamente não acreditando. — Não se iluda, Maria. Se mentiram tanto para você como você diz, é claro que iam querer aliviar a barra deles. Seu pai e minha tia namoravam. Tinham um relacionamento, embora, não reconhecido socialmente, quase todos da corte sabiam. E sua mãe não descansou até ter seu pai na palma da mão dela.
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