Capítulo 3

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– Só vou passar em casa, trocar de roupa e trazer Helena comigo. Aí passo em sua casa e a gente sai, ok? – Falei com Camila antes dela tomar seu caminho para casa e eu esperava no ponto de ônibus.

– Tudo bem, qualquer coisa me liga – Mila me jogou um beijo e foi embora.

Assim que o ônibus chegou, me sentei num banco perto da janela e enquanto não chegava em casa, pensava em todos os problemas que estava passando. Na verdade, não estava com vontade nenhuma de sair hoje, só estava indo porque tinha prometido para Mila.

Diferente dos meus planos, não tinha conseguido falar com meus pais. Quarta-feira, o dia seguinte à minha discussão com minha mãe, foi pior que o anterior. Cheguei a conclusão que falar diretamente com meu pai seria a solução, já que minha mãe não queria abrir o jogo. Mas, então quando cheguei do trabalho para conversar, nenhum dos dois estavam em casa, só Helena. Até tentei esperar os dois, mas o sono me venceu e quando eles chegaram eu já estava dormindo.

Então a verdade bateu como um tapa bem forte na minha cara. Eles estavam me evitando. Foi só o que eu precisava para confirmar que sim, eles estavam escondendo algo. Algo importante. Uma tristeza que eu não nunca tinha sentido antes me acometeu durante esses dias, e tanto Helena como Mila perceberam, mas não tentaram arrancar nenhuma informação de mim.

Nos próximos dias eu saí cedo de casa e fazia horas extras no trabalho, chegava em casa só para comer e dormir, e a única pessoa que eu conversava era Helena. Infelizmente, enquanto todos esses segredos não fossem devidamente explicados, eu não teria paz.

Volta e meia, a carta e a "identidade" vinham na minha cabeça e me enchiam de dúvidas. Não conseguia imaginar um motivo para meu pai ter uma carta lacrada com o selo real e em sua identidade antiga ter outro nome.

Alef Andoni.

Meu pai era Alef Conrado Serrano. Não tinha nenhum Andoni no nome. Bom, pelos menos não até onde eu sei. Ou sabia.

Balanço a cabeça para parar de pensar nisso e decido checar minha caixa de e-mail. Entre e-mails de redes sociais e promoções de lojas de roupa, um me chama atenção.

"Prezada Maria Antonieta Ramoz Serrano, após avaliarmos seu currículo e carta de recomendação, é com prazer que a convidamos para um processo de seleção e avaliação para estagiários. Se interessada em fazer parte da avaliação, por favor, responda a este e-mail, com os dados da documentação pedida no anexo abaixo.

Dr. Michael Smith,

Departamento de Recursos Humanos da Pettersen Assistance®"

Pisquei e reli o e-mail algumas vezes até acreditar. Sorri e me segurei para não dar um grito de felicidade no meio do ônibus. Abri o anexo e rapidamente respondi o e-mail enviando os dados pedidos. Que presentão, finalmente uma notícia boa em um mar de frustações.

Entrei em casa tão feliz, que nem todos os segredos do mundo poderiam me desanimar agora. Estava prestes a chamar todos para sair comigo, quando olhei a casa completamente vazia depois de fechar a porta. Ué? Não é possível que tenham saído hoje sem mim, pelo amor de Deus é meu aniversário! Comecei a pensar na possibilidade de eles estarem fazendo uma festa surpresa para mim.

Se bem que isso explicaria muitas coisas, meus pais estarem sumidos e escondendo algo. Claro que não contariam para Helena, se não ela ia dar com a língua nos dentes. O nome falso e a carta ainda não batiam com o tema "festa surpresa", mas eles deviam ter alguma explicação para isso.

De repente, comecei a ouvir vozes, sussurros, e rapidamente descartei a ideia da festa, já que o sussurro vinha do quarto dos meus pais, e era impossível que a festa fosse lá. Como, provavelmente, não tinham percebido minha chegada, me aproximei aos poucos e colei o rosto lentamente na porta e tentei enxergar o que se passava lá dentro pelo espaço aberto. Podia não ser uma festa, mas com certeza foi uma surpresa ver meus pais e uma senhora, que nunca tinha visto antes, conversando.

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