18 - trust me.

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Huening Kai

Por um minuto, senti minha garganta se embolar antes mesmo que eu tentasse falar. Meus olhos se arregalaram e tudo que passou por minha cabeça foram inúmeras repetições da pergunta que ele havia feito.

"O que nós somos?"

O que nós somos?

— Kai? — com os dedos de Soobin sendo estalados em frente aos meus olhos, percebi que estava divagando. — Tudo bem?

Eu não soube novamente o que responder.

Quer dizer, eu estava bem. Estava tudo bem.

Por que eu não conseguia responder?

Talvez eu tenha perdido a capacidade da fala.

Talvez eu esteja sendo dramático.

Talvez.

— Não tem uma resposta, né? — ele desviou os olhos dos meus, encarando o chão por alguns segundos. — Ninguém nunca fez um pedido.

— O quê? — confuso e um pouco atordoado, eu questionei.

O que nós somos. — repetiu a frase que parou meu raciocínio. — Não tem uma resposta. Porque nunca houve um pedido. — ele esboçou um sorriso fofo e segurou minha mão. — Sou asiático, precisa ter um pedido.

Sem que dissesse nada, ainda tentando racionar corretamente, fui puxado pelo garoto alto em minha frente até a porta que dava acesso à loja. Dei de cara com a minha mãe quando finalmente atravessamos a porta, que tomou um pequeno susto ao nos ver, mas depois sorriu calorosamente.

— Vai voltar para casa, filho? — ela perguntou.

— Sim. Acho que sim. — soou mais como uma pergunta, mas minha mãe apenas esboçou um sorriso novamente.

— Tenha cuidado, — foi o que ela disse ao acariciar meu rosto. — Até mais tarde. Tchau, Soobin. — se despediu e passou pela portinha, mas não sem antes olhar para baixo e flagrar minha mão atrelada à de Soobin.

⏩⏩

— Ataduras, algodões, esparadrapos, pontos falsos, curativos e água oxigenada. — o senhorzinho da farmácia dizia, ao apontar cada um dos produtos. — Mais alguma coisa?

— Não. — respondi, levantando o olhar para o rosto do senhor. — Obrigado, senhor. Quanto fica?

Antes que o senhor pudesse falar, Soobin, que até então permanecia quieto e brincando com uma das máquinas de doce no caixa interrompeu os movimentos das minhas mãos para pescar a carteira no bolso da frente da minha calça.

— Eu vou pagar. Não se preocupe. — tirou sua própria carteira de um dos bolsos. — Quanto, senhor?

E ele pagou. Mesmo sem ter dito uma palavra até aquele momento. Ele pagou, e ainda fez questão de me comprar balas.

Fácil assim.

Nem me perguntou nada.

Sem me dar escolha.

A audácia, meu pai.

— Na sua casa ou na minha? — perguntou, ao sairmos da farmácia.

Unfilled Wishes • [csb + hnk]Onde histórias criam vida. Descubra agora