Huening Kai
Por um minuto, senti minha garganta se embolar antes mesmo que eu tentasse falar. Meus olhos se arregalaram e tudo que passou por minha cabeça foram inúmeras repetições da pergunta que ele havia feito.
"O que nós somos?"
O que nós somos?
— Kai? — com os dedos de Soobin sendo estalados em frente aos meus olhos, percebi que estava divagando. — Tudo bem?
Eu não soube novamente o que responder.
Quer dizer, eu estava bem. Estava tudo bem.
Por que eu não conseguia responder?
Talvez eu tenha perdido a capacidade da fala.
Talvez eu esteja sendo dramático.
Talvez.
— Não tem uma resposta, né? — ele desviou os olhos dos meus, encarando o chão por alguns segundos. — Ninguém nunca fez um pedido.
— O quê? — confuso e um pouco atordoado, eu questionei.
— O que nós somos. — repetiu a frase que parou meu raciocínio. — Não tem uma resposta. Porque nunca houve um pedido. — ele esboçou um sorriso fofo e segurou minha mão. — Sou asiático, precisa ter um pedido.
Sem que dissesse nada, ainda tentando racionar corretamente, fui puxado pelo garoto alto em minha frente até a porta que dava acesso à loja. Dei de cara com a minha mãe quando finalmente atravessamos a porta, que tomou um pequeno susto ao nos ver, mas depois sorriu calorosamente.
— Vai voltar para casa, filho? — ela perguntou.
— Sim. Acho que sim. — soou mais como uma pergunta, mas minha mãe apenas esboçou um sorriso novamente.
— Tenha cuidado, — foi o que ela disse ao acariciar meu rosto. — Até mais tarde. Tchau, Soobin. — se despediu e passou pela portinha, mas não sem antes olhar para baixo e flagrar minha mão atrelada à de Soobin.
⏩⏩
— Ataduras, algodões, esparadrapos, pontos falsos, curativos e água oxigenada. — o senhorzinho da farmácia dizia, ao apontar cada um dos produtos. — Mais alguma coisa?
— Não. — respondi, levantando o olhar para o rosto do senhor. — Obrigado, senhor. Quanto fica?
Antes que o senhor pudesse falar, Soobin, que até então permanecia quieto e brincando com uma das máquinas de doce no caixa interrompeu os movimentos das minhas mãos para pescar a carteira no bolso da frente da minha calça.
— Eu vou pagar. Não se preocupe. — tirou sua própria carteira de um dos bolsos. — Quanto, senhor?
E ele pagou. Mesmo sem ter dito uma palavra até aquele momento. Ele pagou, e ainda fez questão de me comprar balas.
Fácil assim.
Nem me perguntou nada.
Sem me dar escolha.
A audácia, meu pai.
— Na sua casa ou na minha? — perguntou, ao sairmos da farmácia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Unfilled Wishes • [csb + hnk]
Fanfiction[CONCLUÍDA.] Soobin acabara de se mudar para outro país com sua família por causa do emprego de seu pai. O garoto com dificuldade em inglês, acaba de sair da Coréia pela primeira vez, e se vê obrigado a se adaptar na nova vida. Por sorte, em seu pri...