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AVISO: o capítulo abaixo pode ser um gatilho. se você não está bem, peço encarecidamente que não siga com a leitura neste momento. sua saúde mental é sempre o mais importante. se cuidem!

Huening Kai

Seus olhos agora encaravam fixamente os meus. Sequer piscavam.

A sensação que senti foi de segurança, mas ao mesmo tempo, tive medo.

Medo de contar tudo. De mostrar um lado meu que ele não conhecia.

Medo de que ele se afastasse. Que se assustasse e, consequentemente, fosse embora.

Eu não queria ter que ver a decepção em seus olhos, a decepção que eu sabia que existiria.

Eu não queria perdê-lo.

Não queria, mas sabia que era errado não contar. Sabia que eu estaria sendo infiel à toda confiança que ele depositou em mim.

Eu precisava ser honesto.

Lentamente, tomei a liberdade de me sentar confortavelmente em sua cama. Minha mão atravessou os fios grandes do meu cabelo, repuxando-o para trás, na mesma velocidade em que respirava o mais fundo que poderia.

— Antes de te contar, — encarei seus olhos, finalmente. — eu quero que você saiba que é livre para ir. Sinceramente não quero que você fique por dó ou qualquer coisa.

Ele assentiu. Sem fazer som algum.

— Quando meu pai foi assassinado, eu desencadeei um quadro de insônia muito forte. Eu era dopado para dormir nos primeiros dias. — desviei o olhar para minhas próprias mãos, apertando os dedos logo em seguida. Era a primeira vez que eu falava no assunto em anos. — Depois de um tempo, eles pararam de me dopar e me deram uns remédios mais fracos. Disseram que iria ajudar. Na primeira noite, eu fiz como me mandaram fazer, tomando uma pílula só antes de tentar dormir, nessa mesma noite, um pouco mais tarde, eu vi meu pai morrer de novo no sonho, e eu não pude fazer nada mais uma vez.

Aquela altura, eu já podia visualizar as lágrimas de Soobin caírem sobre sua camisa, já que eu não olhava diretamente para seu rosto.

— Na outra noite, eu fiz a mesma coisa, e aconteceu outra vez. A partir da terceira noite, eu comecei a tomar mais de um comprimido. No começo eram só dois, mas os pesadelos continuavam voltando, cada vez mais insuportáveis. — respirei fundo. — Cheguei ao ponto deplorável de tomar uma cartela inteira, às vezes uma cartela e meia, só para não acordar. E eu sou um idiota, me avisaram do perigo de vício, me avisaram mais de uma vez, e eu disse que não ia me descontrolar nem fazer nada, mas eu... Eu já não conseguia mais fechar os olhos sem me drogar. É óbvio que a minha mãe descobriu, vendo o filho se esforçar para ficar acordado no enterro do pai, porque ainda estava drogado da noite anterior... Por Deus, eu me arrependo tanto.

E ele soluçou, pela primeira vez, eu o vi chorar a ponto de soluçar.

— O olhar de decepção dela quando eu disse tudo que acabei de te dizer. Ela fingiu não estar extremamente decepcionada, mas eu sentia. Era perceptível no olhar enquanto ela me dizia que tudo ficaria bem e dos diversos tratamentos que eu faria. Eu fiz cada um deles, eu ia até na missa de domingo, porque eu queria ser perdoado, perdoado pela minha mãe, pela minha irmã, pelo meu pai... Não me despedi dele, porque estava drogado. Nunca mais tive coragem de visitá-lo no cemitério. — olhei seu rosto, que agora estava vermelho e com uma das mãos cobrindo a boca. — Não preciso mais usar remédios por não ter pesadelos frequentemente, é bem raro acontecer, os tratamentos realmente me ajudaram nessa parte, mas isso é o de menos. A pior parte é a culpa de ser um viciado e a decepção da minha família, meu pai não merecia um filho assim, com certeza não. Sou um verdadeiro covarde e eu vou entender completamente se você não me quiser mais perto de você. Desculpa, de verdade.

Unfilled Wishes • [csb + hnk]Onde histórias criam vida. Descubra agora