Prologo

729 39 2
                                    


          Às vezes eu tenho saudade do barulho de São Paulo. Os ônibus, as buzinas dos motoristas apressados... o som das sirenes que passavam de hora em hora a frente de minha casa.

Mas depois do surto, o pior lado foi ter centenas de infectados a três quarteirões de casa. Lembro de minha avó, ela não conseguia andar, pernas fracas devido a osteoporose, mas foi infectada e estava andando no hospital.

Bom, no dia de minha visita, Josefa, a enfermeira chefe, fez vista grossa, esperei um momento para que nenhum outro enfermeiro me visse, minha avô correu até mim e não está afim de mostrar afeto.

Eu corri de minha avó, indo em direção a uma escada, algumas pessoas aguardavam o elevador com certa tensão, quando minha avó saiu do quarto.

Se bem, que aquela não era minha avó. Seu sorriso gentil havia sido transformado em um rosnado aterrorizador, não tinha muitos dentes da boca, mas ainda assim arriscou-se a atacar um homem negro, cravou seus dentes no pescoço dele, que conseguiu se safar dela ao chocar-se na parede, ela caiu em minha direção, o homem a empurrou escada abaixo

               —Você viu — ele falou enquanto me olhava —foi ela quem me atacou! —ele caminhou com passos rápidos para dentro do elevador, me deixando ali, enxergando a figura de minha avó contra a parede, parecia estar morto

Me lembro de ter ido até ela, seu corpo estava fervendo, assustado, eu corri pelo corredor, chamei alguns médicos, um deles tinha uma ferida no braço, um arranhão

          —Avise os seguranças — o médico falou — diga que — ele se calou ao ver minha avó se mexendo, ela o atacou, eu engoli em seco e recuei com alguns passos, estava com medo

          —Tire essa garota daqui — outro médico falou enquanto me apontava, eu fui arrastado por um senhor, que usava um jaleco com mancha de café, fui levada ao corredor, onde alguns pacientes estavam amordaçados e presos a suas camas, olhei para uma gravida, sua barriga estava grande, mas estava algemada, sua boca escorria sangue dos próprios lábios, que haviam sido devorados por ela mesmo

          —Bruna? — meu pai, chamou minha atenção com um berro, ele foi até mim e segurou meu braço com força, em arrastou pelo corredor, me impedindo de prestar atenção nas outras pessoas, me levou a uma sala com medicamentos — O que você está fazendo aqui?

          —Vim buscar analgésicos, esparadrapos e álcool — Falei, acordando de meus pensamentos, sorri, meu pai se orgulharia de mim. Já estou vivendo a quase um ano e meio nesse maldito mundo. Tem sido difícil, mas estou indo bem.

A lanterna tornou a falhar, me fazendo andar em direção a sala, que tinha dezenas de cartelas espalhadas pelo chão, retirei a mochila de minha costa e passei a colocar aquelas pílulas, sem saber para que a maioria daqueles remédios serviria, por fim peguei luvas e álcool, não encontrei esparadrapo ali, o que aumentou ainda mais minha preocupação.

Não bastava a minha menstruação, que chegaria naquela semana, atraindo centenas de infectados novamente, ainda teria de me preocupar o parto de minha irmã.

Infectados : O surto.Onde histórias criam vida. Descubra agora