Capitulo 1

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Capitulo 1

A rua tranquila, os postes sem luz. Deve ser cinco ou seis da tarde.

          É estranho caminhar por entre aqueles prédios, tenho a sensação de que alguém está me observando, se bem que já ficamos em um prédio por alguns dias, mas percebemos que não era uma boa ideia. As rotas de fugas são limitadas.

Não costumamos sair à noite, aliás, mal saímos de casa, mas as contrações estão ficando mais fortes. Eu prometi a ela que iria na farmácia que ficava no fim da esquina, mas já havia saqueada, não tinha nada que pudesse ser usado para amenizar suas dores.

Pedro e Daniel, eram nossos vizinhos, Jeniffer, engravidou de Daniel... ou seria de João, que abandonou a gente naquela situação, levando consigo boa parte de nossa água.

A gravidez, não foi por querer. Aliás, foi para salvar a vida dela, eu também deveria engravidar, isso acabaria com a menstruação, mas cá entre nós... não me parece ser algo muito inteligente. Um bebê faz muito barulho.

Olhei para o ponto de ônibus, recordando-me da noite em que meu pai nos levou para morar ali, a rua movimentada, os carros passando sem parar por conta do farol quebrado. Esperamos por mais de quinze minutos até que um carro de policial fez o trânsito parar para atravessarmos. Foi engraçado

     —Por que estou lembrando disso? — desliguei a lanterna e apressei meus passos, tinha uma longa caminhada pela frente. Não poderia desperdiçar meu tempo ali, Daniel havia saído no início da manhã para procurar comida na região, já Pedro ficou com minha irmã, ele é jovem, um pré-adolescente, meio burro, mas é útil para distrair Jeniffer, ela enxerga a imagem de seu filho nele... mesmo nunca o tendo conhecendo, havia o dado para a adoção

     —Corre — A voz de um homem atraiu minha atenção, ele estava vindo de trás de mim, eu engoli em seco e corri dele, temendo que fosse um dos estupradores que rondavam a região, ao menos segundo João, que pensando melhor, se encaixava no perfil de um estuprador, seu corpo tatuado reforçava minha opinião.

Dezenas de infectados apareceram no fim da esquina, me fazendo apressar ainda mais meus passos, o homem me alcançou, senti seu mal cheiro de imediato, uma barba malfeita. Cheirava a vomito

     —Se esconde — Ele falou em tom firme, ignorei as palavras dele e continuei a correr, ele me seguiu até o portão de minha casa, que já estava aberto, não quis deixa-lo entrar, mas ele me empurrou para dentro e retirou o tijolo do portão, o fechou com um estalo forte, segundos depois os infectados chegaram a frente do portão.

"De onde você veio?" pensei enquanto recuava com passos trêmulos, julgando-o como uma ameaça, ele afastou-se do portão e me fitou, abriu um sorriso de nervosismo, mostrando seus dentes amarelados

     —Me chamo Caio — A voz dele soou baixa, tinha medo dos infectados — Me desculpa — ele sorriu — eu — abaixou os olhos e veio em minha direção, recuei com dois passos, fazendo-o parar e mostrar as palmas para mim

     —O que você quer!?

     —Desculpa — Ele falou, o percebi olhando para trás, Daniel chegou em minha posição, era alto e forte, intimidador, aquele homem tinha uma barriga saliente, mas não era musculoso. Daniel projetou a lança improvisada com um cabo de vassoura para a frente, fazendo o homem chocar-se contra o portão brevemente, se não fosse as grades, os infectados teriam o pegado

     —O que você quer? — Daniel continuou a ir para a frente, o homem colocou a mão na lateral da lança e a pressionou contra a barriga de Daniel, que se curvou para trás, olhei para o homem e o vi sacar uma arma, a destravou e atirou para o alto, o que iria atrair mais infectados. Não demorou para Jennifer e Pedro saírem, fazendo o homem mostrar certo repulso ao ver a barriga dela

     —Pegue um pano — ele falou enquanto abaixava a arma, retirou seu pente e a colocou no chão, em seguida chutou em direção a Daniel, que a pegou com velocidade, mirou para o homem, Daniel tremia, mostrando medo

     —O que você quer? — Daniel estava disposto a atirar, queria proteger minha irmã, ele a ama, mesmo sabendo que o coração dela não pertence a ele

     —O portão é fraco — o homem falou em tom baixo, estava certo. Se os infectados se enfurecessem, eles iriam conseguir derrubar o portão com facilidade, e mata-los só iria apressar esse processo, fizemos com a lança uma vez. Por um milagre, eles não derrubaram o portão, aliás, milagre não. Foi assim que conhecer João. Ele matou todos que estavam de fora sorrateiramente, aproveitando-se de não estar sendo visto

      --Está vendo essas coisas? — sinalizou os infectados com a cabeça — podemos impedi-los de nos ver — sorriu — vai deixá-los mais tranquilos —Daniel atirou, o homem foi atingido na região de sua boca e tomou para frente, vi uma poça de sangue se formar no chão de imediato.

Daniel largou a arma, arrependido, mas era tarde. Com aquele sangue, sentindo o cheiro do sangue, os infectados ficariam bem mais insanos do que se houvéssemos matado um deles.

Infectados : O surto.Onde histórias criam vida. Descubra agora