Capitulo 2
Estávamos os cinco no último quarto, que ficava fechado com o apoio do armário e da geladeira, que havia sido enchida de tralhas para aumentar seu peso. Caio gemia de dor de tempos em tempos, mantinha a camisa azul na parte de trás de sua nuca.
O quarto era iluminado por dezenas de velas, que haviam sido arrastadas para lá. A água havia ficado do lado de fora, mal conseguimos entrar em casa antes dos infectados derrubarem o portão. Se não fosse por Caio, que nos arrastou para dentro, estaríamos mortos
—Me desculpa — Daniel repetiu, ele segurava a mão de Jennifer, que estava deitada no chão, ambos derramavam lagrimas depressa, Pedro estava no canto do quarto, com seu ouvido encostado na parede, ouvindo os infectados através dos buracos que havíamos feito e enchido de papel, não era maior que uma bola de tênis, mas os mantínhamos cheios de papel por segurança
—Vocês... precisam de — Caio arriscou falar, mas o ferimento o fez ficar quieto, cuspiu sangue na própria roupa, ele balançou a cabeça negativamente antes de encostar na parede, mostrava certo receio.
O observei com certo receio, a arma havia ficado lá fora, eu era a única que acreditava que ele não era uma ameaça, pelo contrário, seu sotaque indicava que ele havia vindo de longe... muito longe. A não ser que já morasse em São Paulo antes.
Retirei a mochila ao lembrar dos analgésicos e do álcool, a abri com certa pressa, fazendo Caio temer por um instante, mostrou alivio quando eu derramei tudo no chão, revelando os frascos de álcool
—Pega — falei, ele obedeceu e pegou um frasco, retirou a camisa do ferimento e despejou o álcool ali, estava encharcada com o sangue dele, que parecia estar controlando seus gemidos, ao menos tentou ao colocar o álcool, que o fez projetar-se para a frente e afastar o pano depressa, sem pensar, retirei minha blusa e ofereci a ele — Morde — eu fui em sua direção e tomei a camisa dele sem dizer nada a pressionei contra seu ferimento, o fazendo curvar-se para a frente e colocar a minha blusa em sua boca, a mordeu com certa força, pude observar o ferimento da bala, era pequeno, mas escorria um bom tanto de sangue
— Bruna — A voz de Pedro soou alta, parecia estar com medo daquele homem, mesmo depois dele ter nos salvado dos infectados, eu assenti, mostrando que não me importava, afinal ele poderia ter passado por mim com sua corrida, me derrubado no chão ou mesmo atirado em mim. Mas não fez.
—Eu... — Caio falou em tom baixo — Sei — parou de falar, queria se comunicar, mas o ferimento o fazia se arrepender, aproveitei aquele momento para observa-lo, parecia estar na faixa dos vinte e cinco anos
—Tudo bem — falei em tom baixo, afim de tranquiliza-lo, ele retirou a blusa da boca rapidamente, cuspiu um bom tanto de sangue na blusa, e a largou no chão, colocou a mão para frente e pegou algumas cartelas de remédios, as olhou rapidamente, abriu uma e despejou algumas pílulas em sua mão, em seguida levantou sua blusa e retirou uma bolsa que estava presa em seu pescoço, mostrando que sua barriga saliente na verdade era falsa.
A abriu com dificuldade e deixou as pílulas dentro de um copo, pegou uma garrafa d'agua e despejou seu liquido no copo, mas era pinga que estava ali, percebi pelo cheiro ao retirar a camisa do ferimento, ele gemeu de dor ao engolir. Em seguida passou a procurar algo na bolsa, pegou um isqueiro e uma colher, com as mãos tremulas, passou a esquentar a colher, entendi de imediato o que ele estava querendo fazer, tomei a colher e o isqueiro de sua mão, disposto a ajuda-lo com aquilo.
—Valeu — ele falou antes de colocar a blusa na boca novamente, continuei a esquentar a colher, os outros olhavam com certa pena, principalmente Daniel, que havia causado aquilo.
A parte inferior da colher passou a escurecer, me fazendo recuar com passos curtos
—No três — Falei em tom baixo, continuei a esquentar a colher —Um — desliguei o isqueiro — Dois —o surpreendi, fixando a colher com força contra seu corpo, me aproveitei da camisa para pressionar com minhas mãos, fazendo-o projetar-se para a frente e gemer de dor.
Mantive a colher por alguns momentos antes de retira-la e ver que o ferimento ainda não havia se fechado por completo, sangue escorria por um buraco curto.
Não precisei dizer nada, pois Caio sabia o que estava em jogo.

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Infectados : O surto.
TerrorAcompanhe a historia de uma garota em um mundo tomado por criaturas sanguinarias.