Capítulo 16

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Capitulo 16

Acordei com o som de um resmungo vindo de Caio, abri meus olhos, tive dificuldade para ajusta-los a luz, fechando-os por um longo momento, seu cheiro forte ainda continuava a chamar minha atenção, minha cabeça estava posicionada em seu pescoço, permitindo que o calor de nossos corpos se espalhasse.

A mão direita dele atravessava minha costa e seus dedos chegavam a lateral da minha cintura em uma espécie de abraço lateral, havíamos ficado naquela posição a noite inteira, o movimento era limitado e queríamos preservar o calor corporal.

A princípio eu não gostei, mas agora a sensação era ótima, me sentia protegida, resolvi continuar sem acorda-lo, querendo aproveitar o momento o máximo possível, talvez seja tolice, mas queria continuar naquela posição, poderia ser Pedro ou Daniel, ou qualquer outra pessoa, eu só queria me sentir segura por mais alguns momentos

—Caio — Falei ao perceber certo volume em sua calça, ele abriu os olhos rapidamente, me olhou e assentiu, sabendo que teríamos de ir — Eles ainda estão passando — menti, afim de continuar naquela posição por mais alguns instantes

—Você está acordada a muito tempo? — Ele mostrou desconforto, tentando recuar levemente em direção ao outro banco, discordei com um som, apesar disso já havia desfrutado daquele momento por mais de meia hora

—Eu não sei — falei em tom baixo, fazendo-o sorrir e fechar seus olhos novamente, continuava com seus braços em minhas costas — Percebi que estava acordada agora — ele concordou com um som, imaginando se meu corpo havia feito contato com seu pênis, continuou com seus olhos fechados

—Preciso usar o banheiro — A voz dele soou calma, concordei com um som, precisava tanto quanto ele, reparei no volume de sua calça brevemente, fechei meus olhos, esforçando-me para não pensar naquilo, me convencendo de que era só curiosidade, não me sentia atraído por ele e nem queria ver seu pênis.

—Vamos — falei em tom baixo, ele concordou com um som, em seguida abriu os olhos e abriu a porta do carro, senti o vento em meu corpo, sai do carro com dificuldade e olhei para ele, que se levantou de forma estranha, tentando disfarçar sua ereção

—Vou mijar — ele falou enquanto andava em direção ao portão de uma casa, assenti e desviei o olhar, prestando atenção na rua deserta, questionando minhas lembranças sobre o dia anterior, havia mesmo passados tantos infectados assim?

O som de sua urina no portão de metal atraiu minha atenção, virei levemente para o lado, o vendo de costas para mim, tratei de desviar o olhar para dentro do carro, vendo a cesta entre os bancos, peguei a embalagem aberta de absorvente

—Vigia esse lado daí — falei em tom alto, em seguida caminhei para o outro lado do carro, escondendo-me dele, não queria urinar, mas tratei de me livrar do pouco que tinha em minha urina, aproveitando para retirar o absorvente interno, que não deveria ficar mais que quatro horas, mas entre morrer e continuar com ele durante a noite, preferi arriscar uma infecção a perder a vida.

—Vamos — falei ao terminar de urinar e trocar o absorvente, o jogando para baixo da camionete, Caio estava encostado do outro lado do portão, mantinha seus braços cruzados, olhou para mim e assentiu, foi para o carro e pegou a cesta, em seguida veio em minha direção, sinalizando o fim da rua com a cabeça

—Quer parar por aqui? — dei de ombros — podemos pular um desses muros — sorri — se você quiser — senti um rápido aperto no peito, apesar de ser tentador, balancei a cabeça negativamente ao lembrar que haviam milhares de infectados naquela região

—É melhor ficar longe daqui... de preferência o máximo que conseguirmos — ele assentiu, aceitando minhas palavras, reparei naquele bairro, boa parte dos muros estavam pichados, com a mesma coisa:

"O governo está provocando #Fomedesangue"

—Acham que foi o governo — Falei em tom baixo, fazendo-o assentir

—Ouvi coisas bem bizarras lá em minas, você não faz ideia das coisas que comentavam... diziam que passaram a doença em vacinas, já ouvi dizer que foi espalhada na água

—Se fosse, a situação seria pior —falei em tom baixo, dispensando aquela suposição — mas quem sabe. Se foi espalhada primeiro em uma cidade pequena — ele assentiu e sinalizou o fim da rua com a cabeça, revelando um beco que estava cheio de sacolas de lixo

—A gente pode espalhar essas coisas por onde ficarmos — sorriu — tirar a água que ficar no chão e dar um jeito de jogar neles, vai ser bom para conseguirmos um tempo quando precisamos fugir

—Tenho uma ideia melhor — falei, atraindo a atenção dele — A gente não faz besteira e deixa essas coisas longe da gente. Ficamos vivos e não corremos riscos — ele fungou, achando que falei com ignorância

—Vamos andar até o sol ficar no meio do céu — ele falou em tom baixo — não deve ser bom pegar um carro daqui... deve estar cheio de problemas — eu assenti, naquele mesmo momento pensei na razão daquela SUV estar em bom estado. Alguém estava utilizando-a. a deixou ali, mas a quanto tempo?

—Podemos achar bicicletas — ele balançou a cabeça negativamente

—Uma virada errada e já era, caímos, cortamos nossa pele e pronto. Somos um alvo a céu aberto. Isolados de qualquer lugar seguro —sorri, discordando dele

—Quem é burro de cair com uma bicicleta —ele não me respondeu —você não sabe andar de bicicleta? — ele não me respondeu, continuou a andar, virando a esquina, vimos que a rua estava bloqueada com alguns veículos, que haviam se usados propositalmente para isso, mas a rua não estava totalmente bloqueada, havia espaço entre os carros, que eram suficiente para passarmos, Caio mostrou receio, mas acabou me seguindo pelo caminho, assim que atravessamos vimos dezenas de ratoeiras espalhas pelo chão, algumas tinham restos de ratos

—Estou achando que esse trem não vai dar certo — ele falou em tom baixo — criaram esta rua pra ser uma espécie de distração — sinalizou uma ratoeira que estava abastecida com algo, balancei a cabeça negativamente, achando seu medo engraçado

—Contornamos elas — Falei em tom baixo — tem carros lá na frente — sinalizei o fim da rua — deixaram daquele jeito para conter infectados — ele fungou e passou a andar em meu lado, pisando ao lado das ratoeiras.

Atravessamos a rua e passamos pelos carros, que deixavam um espaço mínimo, provavelmente para prender os infectados o máximo possível naquela rua, os vidros estavam quebrados, pisávamos em alguns cacos, que estavam praticamente moídos

—Parece que passaram milhares deles por aqui — olhei para um caco de vidro que tinha um pedaço de pele esbranquiçada — Alguns se feriram — Caio assentiu, mas não quis dar atenção aos cacos que tinham restos de pele

—Vamos achar uma casa — A voz dele soou calma — não estou gostando deste lugar — sorriu — e eu estou afim de usar o banheiro — olhou brevemente para trás — usar de verdade — concordei assentindo, precisava tanto quanto ele.

Caminhávamos lado a lado, Caio mostrava tranquilidade certa tranquilidade, apesar de se mover de forma estranha, necessitando mesmo ir ao banheiro.

As ruas eram desertas, sem lixo, haviam algumasfolhagens na lateral das calçadas, boa parte das casas estavam com suas janelase portões fechados, os que estavam abertos não pareciam muito convidativos.

Infectados : O surto.Onde histórias criam vida. Descubra agora