Capítulo 12

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Capitulo 12

Caio olhava fixamente para a luz que estava a quilômetros de distância, se destacava no prédio, estava nos últimos andares. Continuávamos no carro

—O que você acha? — perguntei

—Quer ir lá? — ele sorriu — está de noite... é melhor esperarmos amanhecer — sorri de nervosismo — nem sabemos se são amigáveis — concordei balançando a cabeça negativamente, já estávamos parados naquela rua a algumas horas

—É longe... se esperamos amanhecer — falei — não teremos como saber qual prédio é sair — Observei sua figura

— Eu não vou sair daqui — sorri — Você trocou o absorvente lá atrás justamente pra isso... eu quero dormir de verdade, não ficar cercada por aquelas coisas de novo — ele fungou

—Pode ser eles —apelei para suas emoções, senti receio, mas não mudei de

— Se bem que não temos lanternas —ele sorriu e virou-se em minha direção, passei a observar sua figura —Você não sabe como as são aqui fora... ir atrás de uma luz em uma janela... pode muito bem ter sido deixada lá para — parou de falar quando a luz apagou-se — para distrair

—Um banheiro? — falei — Deve ser um banheiro — ele balançou a cabeça, sem querer concordar com minha opinião

—Se nós vemos... eles também vêm — falou, fazendo-me fechar os olhos, talvez ele tivesse razão, sair à noite é tolice. Estávamos em um carro, mas ainda assim era — Sei que é difícil para você, mas temos que continuar aqui

—E amanhã vamos até lá? — falei com deboche — o carro é blindado, eles não vão conseguir entrar — projetei-me para a frente — custa a gente se aproximar um pouco mais? — sorri — nos mostrarmos para eles com os faróis!?

—E se não forem eles? — perdi minhas palavras, sem saber o que dizer a ele

—Serão pessoas — falei com a voz tremula — podemos ajuda-los... nós — me calei e tornei a deitar no banco — temos que — suspirei e balancei a cabeça negativamente, o fazendo dar risada

—Só confia em mim — ele falou — está bem? — concordei com um som, apesar de ter ouvido em algum lugar que nunca devesse confiar em alguém que pedisse tal coisa, que era um jeito de manipular, mas concordei, afinal ele havia salvado minha vida

—Amanhã eu irei lá — Falei em tom baixo — está bem? — ele concordou com um som, mesmo sendo contra a minha ideia — boa noite —cruzei meus braços e virei-me para o lado esquerdo, ficando de costas para ele

—Boa noite — A voz dele soou baixa, continuei olhando o reflexo da luz no retrovisor, pensava se minha irmã estava lá, tive vontade de abrir a porta e correr com todas minhas forças para lá, mas o medo me impedia

Fechei os olhos e me concentrei em minha respiração, forçando-me a me distrair, estava com sono, mas a ideia de que minha irmã estaria a alguns quilômetros de mim, precisando de ajuda me incomodava.

"Se ela estiver lá" pensei "vou resgata-la" sorri, sendo atingida por dezenas de memorias, entre elas o dia em que nós duas saímos durante a madrugada, dispostas a sair daquele bairro

—Venha — ela dizia enquanto puxava meu braço, caminhávamos pela calçada com lentidão, vendo a rua tumultuada, disposto a seguir a grande massa de pessoas para a suposta zona de evacuação

—Temos que esperar o pai — Falei, resistindo a seu puxão de braço, o que a fez engolir em seco e olhar para mim, naquele ponto ela já havia aceitado que ele havia morrido, não retornava para casa desde de a semana passada

—Ei — Pedro gritou do carro esportivo, atraindo a atenção de boa parte das pessoas — Vocês também estão indo? — Jennifer assentiu, em seguida ele abriu a porta — venham — as pessoas olharam para ele com certa dúvida, imaginando que estavam sendo convidadas

—Eu disse que daria certo — ela falou com um sorriso

"O pneu vai furar" pensei, retornando ao momento atual em meio a um suspiro, balancei a cabeça negativamente e sorri, afastando aquela memoria, que parecia ter se passado a um século

—O que foi?

—Nada — falei em meio a um sorriso, virando-me em direção a ele, me esforcei para enxergar sua figura em meio a escuridão —Eu só... estava lembrando de uma coisa — ele respondeu com um som

—Amanhã vamos tentar encontrar uma casa — A voz dele soou calma — para estocar um pouco de comida — fez uma pausa — de preferência uma que tenha caixa d'agua... estou doido pra tomar um banho — funguei, passando a me incomodar com o cheiro de minha urina que estava em minha roupa

—Não é muito inteligente desperdiçar água tomando banho

—Você também precisa de um... estou sentindo seu cheiro daqui — funguei, era ele quem estava com o suor contaminando parte do carro, além do cheiro forte de suas axilas

—Se alguém está fedendo aqui. Admita que é você — ele continuou a sorrir, sem se importar com minhas palavras

—Minhas roupas estão sujas — ele falou — não sou eu — balancei a cabeça negativamente — Mas você está fedendo mesmo

—Qual foi a última vez que você tomou um banho?

—Depende — ele sorriu — semana passada eu limpei com corpo com lenços umedecidos, isso conta? — discordei com um som — tomei um banho de chuva a dois ou três meses atrás

—Uma eternidade — falei com deboche

—E você?

—Mês passado, também tomei banho de chuva — sorri — é o melhor chuveiro que podemos ter hoje em dia, temos certeza de que a água está limpa, ao menos mais limpa do que as águas que estão paradas

—Não está mais limpa do que eu — ele falou em tom baixo — toda semana eu costumava me limpar com lenços umedecidos, mas percebi que não é muito inteligente ficar gastando espaço com eles... mesmo que sirvam para outras coisas

—Outras coisas? — falei com deboche — está se referindo a substituir o papel higiênico — ele concordou com um som

—Ocupa menos espaço, ainda limpa melhor — sorriu — não é? — concordei com um som, me sentindo burra por nunca ter considerado aquela ideia, afinal a higienização seria muito melhor.

Ficamos em silencio depois de suas palavras, bocejei segundos depois, cedendo lentamente ao sono.

Acordei pela manhã com o sol em minha face, logo o barulho do motor do carro tomou conta de meus pensamentos, recordei dos dias em que meu pai me levava para o colégio, costumava dormir naquela mesma posição

—É engraçado que você sempre fica acordada até tarde — A voz de meu pai ecoou em minha cabeça — e nunca percebe o que acontece ao seu redor — sorri, lembrando de sua bronca, abri meus olhos e o enxerguei por um breve momento.

—Bom dia pra você também — falei, em seguida pisquei, A figura de meu pai sumiu ao abrir os olhos, percebi Caio dirigindo com os braços firmes no volante, de imediato me assustei, mas lembrei de tudo, ele parou o veículo e me fitou

—Está tudo bem?

Naquele momento perdi aconfiança que tinha nele

Infectados : O surto.Onde histórias criam vida. Descubra agora