Capítulo 1

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Hill Park, Herefordshire, Dezembro de 1877

Lady Emmaline Hill aproveitou que seu pai havia saído em visita aos arrendatários retornando somente ao entardecer, e saiu em direção aos jardins. Conde de Clifford não se importava muito com Emmaline contanto que ela estivesse sempre comportada, bem vestida e não o envergonhasse na frente dos visitantes, logo, se sujar de terra não estava na lista permitida de afazeres para Emma.

Esses momentos de escapadas cuidando das flores a faziam se sentir conectada com sua mãe, as rosas amarelas sempre foram as favoritas da Condessa que havia morrido alguns anos antes na cama do parto dando luz ao herdeiro homem que o Conde tanto exigiu, aos nove anos Peter já estava em Eton aprendendo o necessário para ser o futuro Conde.

Os botões de rosas ainda não estavam prontas para serem colhidas, mas com o cuidado que Emmaline estava empregando certamente iriam vingar, estava fazendo exatamente como sua mãe havia lhe ensinado. A falecida Condessa era a única a lhe demonstrar afeto verdadeiro naquela casa, apesar de Tia Teodora viver com eles, não era muito afetuosa , vivia mais cochilando no quarto, o pai a tratava como uma peça de mobiliário qualquer, algo para somente se ver mas nunca para se ouvir, era somente mais uma de suas posses, Emmaline ansiava por alguém para conversar e tocar seus cabelos como a mãe fazia na hora de dormir.

Ultimamente o isolamento estava cobrando seu preço. Com vinte anos, Emma sabia que a maioria das moças de sua idade já haviam sido apresentadas à sociedade, estavam casadas e até mesmo com filhos, e ela ansiava por uma família própria para cuidar e amar, mas a relutância de seu pai em enviá-la a Londres para Temporada atrapalhava seus sonhos e estava começando a se resignar com a solidão eternamente.

Terminando de cuidar dos jardins, pegou o alicate e cortou delicadamente algumas dálias e fez um arranjo para pôr na mesa do jantar daquela noite. Emmaline limpou as mãos no vestido e entrou na casa, Hill Park era uma mansão no estilo jacobino em tijolo vermelho escuro que datava de 1679, suas torres imponentes certamente eram uma visão a serem contempladas das colinas de Herefordshire, quando a Condessa ainda vivia, convenceu o Conde a permitir que os moradores das proximidades pudessem visitar os jardins que cuidava com tanto amor, e os ecos sobre as formosas flores da Condessa circulam a região até os dias de hoje, mas desde que faleceu a ninguém mais foi permitido pôr os pés do lado de dentro.

Enquanto passava pela galeria de fotos, Emma sentia os olhos de todos os Condes de Clifford antecessores a julgando. Fraca. Inadequada. Solteirona. E logo apressava os passos.

Quando entrou na Sala Amarela Emmaline encontrou tia Teodora bordando, seu grande gato amarelo descansando ao seu lado, quando ouviu os passou de Emma, a viúva levantou os olhos e quando viu o estado do vestido da moça retorceu os lábios.

- Estava revirando o jardim novamente Emmaline? Clifford não vai gostar nada disso – Tia Teodora era na verdade era tia de sua falecida mãe, como a senhora não tinha mais nenhum parente, seu pai ofereceu estadia não por bondade, mas que ela pudesse ser acompanhante de Emma.

- Ele está visitando os arrendatários Tia Teodora, tenho tempo suficiente para me trocar antes que ele chegue – a moça respondeu fazendo carinho no gato arisco que não recebeu bem os afagos e tentou arranhar a mão de Emma.

- Emmaline, sente-se aqui. Precisamos conversar urgentemente. Recebi uma carta de uma antiga amiga em Londres disposta a te patrocinar esta Temporada, ela é muito influente no Bon Ton, precisamos convencer Clifford ou corremos o risco de você tornar-se uma solteirona – Teodora falou essa última palavra em um sussurro, como se a falando corresse o risco de torná-la realidade.

- Ele não quis ouvir da última vez, não sei por que seria diferente este ano – Emmaline falou resignada.

- Tem que tentar com mais empenho Lady Emmaline. Quer virar uma solteirona ou quer casar e ter sua própria família? Agora suba e troque-se, falaremos sobre isso no jantar – Teodora falou com ar austero.

O silêncio reinava na grande sala de jantar, o Conde como sempre sentado na cabeceira da mesa, Emmaline à sua direita, Teodorora à sua frente, os únicos sons eram dos talheres e dos pratos sendo trocados pelos lacaios posicionados às portas da gra...

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O silêncio reinava na grande sala de jantar, o Conde como sempre sentado na cabeceira da mesa, Emmaline à sua direita, Teodorora à sua frente, os únicos sons eram dos talheres e dos pratos sendo trocados pelos lacaios posicionados às portas da grande sala de jantar. Quando aparentemente todos tinham finalizados, Teodora se pronunciou.

- Clifford, a Temporada se aproxima e precisamos tratar sobre a apresentação de Lady Emmaline à sociedade. Uma amiga minha de Londres está disposta a patrociná-la e ela já está muito atrás das outras damas. – tia Teodora arriscou.

- Emmaline não precisa de Temporada, estive tratando do casamento dela com o Barão de Gowe – o Conde se pronunciou.

A notícia foi recebida por Emma como um balde água fria, ela viu todos os seus sonhos desaparecerem. O Barão tinha mais de sessenta anos, aparentava ser um grande buldogue inglês, gordo e com papadas, andava sempre com um lenço para limpar o suor que escorria por sua testa e quando falava sempre pigarreava como se houvesse algo preso em sua garganta, sem falar que a morte de sua última esposa havia sido um mistério não resolvido.

Teodora se compadeceu da situação e vendo a face horrorizada de Emmaline tentou intervir.

- Clifford, talvez seja melhor um pretendente mais adequado à idade de Emmaline, que possa lhe dar herdeiros saudáveis? – tentou argumentar.

- O que está falando mulher? Tenho certeza que Emmaline dará belos filhos a Gower. Sem falar que já estamos prestes a assinar o contrato – o Conde falou com ar de finalidade.

- Papa, for favor – Emmaline implorou.

- Clifford, se o contrato não está assinado, então porque não permite a Emmaline ser apresentada e ver o que a Temporada ter a oferecer em termos de divertimento e cultura, ela viveu a vida inteira no campo. Certamente o Barão não irá querer como esposa uma ignorante do campo, o que pensará de você como pai? Logo mais, o contrato será assinado, ela casa com o Barão, se retira novamente para o campo e será o final da conversa – Teodora contra-argumentou.

O Conde pensou durante um longo momento, finalmente notou o arranjo de flores na mesa e logo soube quem havia montado, não era um tolo, olhou longamente para a filha que olhava suplicantemente ao o pai.

- Muito bem. Faça os preparativos Teodora. Tenho que ir para Londres em Fevereiro para a abertura do Parlamento, suponho que vocês possam me acompanhar. Contanto que saiba Emmaline, você vai se casar ao final da Temporada – com essas palavras o Conde levantou e saiu da sala de jantar, fazendo todos soltarem o fôlego que estavam segurando.

- Obrigada, Tia Teodora, não tenho como lhe agradecer por intervir – Emmaline disse com lágrimas caindo pelo rosto.

- Ora criança, recomponha-se, temos muitos a fazer se quer ficar pronta. São vestidos, sapatos, laços, chapéus – a viúva saiu da sala fazendo listas deixando Emma sozinha na sala de jantar.

Emmaline decidiu que se aquela seria sua primeira e única Temporada, ela iria aproveitar ao máximo.

Cartas para um Visconde | LIVRO 1 | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora