Epílogo

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Solar St. Davids, 22 de Dezembro de 1878.

Para Emmaline: minha Rosa,

Encontro-me aqui sentado em um lugar que já estive muitas vezes antes, e enquanto transformo meus pensamentos em tinta admiro através da janela os mesmos vales e colinas desta terra que tomamos como lar, terra que meus antepassados pisaram e que os que virão depois de mim herdarão. Ainda assim, eu não sou o mesmo.

Cresci achando que o valor de um homem estava somente nas lutas que ele conseguia vencer, mas era solitário e frio no topo. Que tolo eu era, hoje sei que tão melhor é segurar sua mão e te ter ao meu lado na escuridão que andar sozinho em plena luz do dia.

Você me chamaria de cético dado que nunca acreditei em destino, mas talvez algumas coisas simplesmente estivessem escritas para acontecer, porque em um dia comum nossos olhos se cruzaram, nós podíamos ainda não ter nos dado conta, mas nossos corações sabiam que já pertencíamos um ao outro.

Eternamente,

Seu Visconde,

Tinha levado algum tempo, mas James finalmente tinha conseguido se libertar do sentimento estranho que sempre pareceu persegui-lo e da angústia que às noites ameaçava-lhe tomar o ar e comprimir o coração

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Tinha levado algum tempo, mas James finalmente tinha conseguido se libertar do sentimento estranho que sempre pareceu persegui-lo e da angústia que às noites ameaçava-lhe tomar o ar e comprimir o coração. Não havia mais pesadelos, os fantasmas tinham sumidos e levado todas as sombras do passado com eles. Russel já o tinha convidado a retornar ao clube, mas não mais sentia aquela ânsia de lutar como antigamente.

Estava finalmente feliz, absurdamente feliz, pela primeira vez na vida, tinha conseguido forjar um caminho que não achava que precisar ou querer até estar em vias de perdê-lo de vistas para sempre e o protegeria com todas as suas forças até o último de seus dias.

O inverno se aproximava a passos lentos naquele ano, nenhum floco de neve ainda a cair no chão e James assistia a crescente expectativa crescer nas crianças que começavam a ficar ansiosas. Sabendo o perigo da excitação de dois meninos confinados à casa no frio do Solar, afinal ele mesmo fora um, prometeu um dia de pescaria antes que o lago congelasse. Peter e Tommy tinham se tornado tão próximos como só dois pequenos podem em um curto espaço de tempo, o irmão de Emmaline passava as férias de Eton no Solar, surpreendendo a todos com sua resiliência em relação aos anos submetido à Clifford, o tímido e sério garoto cada dia mais se abria para o amor que sua irmã e nova família tão avidamente queriam lhe dar.

Para James era um sentimento nostálgico, uma cena que tantas vezes foi seu imaginário perfeito com o velho visconde e uma de suas únicas boas lembranças de infância curiosamente se repetindo, mesmo que antes fosse improvável e sentiu que era hora de realmente perdoar o pai pelos erros que cometeu no passado.

— Acho que eu peguei um! — Tommy gritou enquanto puxava a vara com algum esforço.

— Eu estou vendo! — Peter saiu de seu posto e foi animado ajudar o mais novo a puxar também.

— E aqui está!— a James parecia ser um dos menores peixes do lago, mas pela alegria dos meninos e a forma como estufavam o peito podiam muito bem ter capturado o maior, a maior das realizações.

— Teremos que comer? — Tommy não parecia muito satisfeito com a ideia.

— Que tal devolvê-lo ao lago? Às vezes simplesmente temos que deixar algumas as coisas irem... — no fundo ele sabia que não estava falando somente do pequeno peixe. Apagar o antes e abraçar o depois, tinha feito isso meses atrás e nunca voltaria.

— Lorde St. Davids — estava prestes a chamar os meninos para retornarem à casa quando a voz um tanto eufórica de Maisy atravessou os campos — Está na hora! Já começou!

E foi o que bastou para que seu coração saltasse umas batidas e então começasse a acelerar freneticamente. Sabia o que significava aquele momento, a hora que tanto tinham esperado por todos aqueles meses enquanto lentamente assistiam à vida que crescia na barriga e a luz que emanava de Emmaline.

Deixando os meninos aos cuidados de Maisy, correndo pelos vales de Hampshire à passos acelerados sob o risco de tropeçar nos próprios pés James chegou justo quando um choro agudo, que mais parecia música em seus ouvidos, ecoava pelos corredores do Solar.

Abriu a porta do quarto que agora compartilhavam bem a tempo de ver Teodora, que tinha ido passar as festividades no Solar, depositar um pequeno bebê enrolado em um lençol nos braços da esposa. Emmaline parecia cansada, faces rosadas, olhos avermelhados, os cachos desalinhados longe de seu penteado usual, mas em seus olhos um novo brilho e o maior sorriso nos lábios, a James ela nunca pareceu tão sublime.

— Um bebê bem a tempo do Natal! Somos realmente abençoados — a Senhora Cobb admirava o que acreditava ser o milagre natalino enquanto rapidamente trocava os lençóis.

Ele podia sentir uma certa expectativa no ar e aproximando-se lentamente foi tomando nota de cada detalhe, os ralos tufos de cabelos negros, o nariz mais parecido com um botão de rosa, os pequenos dedos, era perfeição.

— O nome dela é Grace — pode ouvir a própria voz rouca e suspendeu os olhos a tempo de ver um resquício de preocupação desvanecer dos olhos de Emmaline.

— O nome de minha mãe. Como? — ele podia ver a confusão naqueles olhos que amava tanto, provavelmente ainda esperando que ele quisesse um herdeiro.

— Eu sempre soube que seria uma menina, uma exatamente como você e desejei-a por todos esses meses.

— Não pensei que fosse possível te amar mais que ontem, mas provou-me errado marido. Isso é tudo que eu sempre sonhei.

— E porque você sonhou se tornou meu sonho — e ele prometeu realizá-lo todos os dias.

Cartas para um Visconde | LIVRO 1 | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora