Capítulo 4

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James havia chegado essa semana de viagem, não via Isabella há mais de seis meses e com as a aproximação da Temporada iria ficar mais difícil visitá-la. Com apenas dezoito anos, sua irmã caçula frequentava a Escola para Senhoritas da Sra. Granville em Bath, Isabella continuava com a inocência da juventude, sempre vivaz e curiosa, sua fome pela vida sempre aqueciam o coração de James quando a visitava.

A irmã permanecia alheia a seus planos e se dependesse dele assim permaneceria, protegeu Isabella a vida inteira, não iria falhar agora. Tinha apenas doze anos quando a irmã nasceu, apaixonou-se imediatamente pelo bebê assim que a viu. Até hoje ela não sabia sobre as disparidades das datas do seu nascimento. James só podia culpar a fraqueza dos pais, mas isso era passado, o que importava era proteger Isabella e recuperar o que tinham direito por nascimento.

As sessões do Parlamento eram difíceis, encontrar o Conde de Clifford e agir como se aquele homem não tivesse feito mal algum a sua família, embrulhava-lhe o estômago ver como os pares do reino o respeitavam quando falava, sem saber da sujeira que havia feito como havia destruído uma família, sua vontade era de gritar para todos e desmascará-lo. Mas não podia, tinha de ter paciência para recuperar o que era seu. Por isso resolveu sair da cidade e visitar a irmã, os ares e águas termais de Bath lhe fizeram bem e voltava mais revigorado, pronto para pôr seus planos em prática.

Estava em seu gabinete lendo algumas cartas do administrador da propriedade do campo que se acumularam durante sua viagem, mas não se surpreendeu com o conteúdo, era uma repetição das anteriores.

O Solar Saint Davids estava mais uma vez próximo à ruína, dessa vez era a ala leste que tinha inundado com as chuvas do inverno, o estábulo também havia desabado devido a uma tempestade, algum dos cavalos tiveram de ser transferidos para a propriedade de um dos arrendatários, já estes reclamavam da falta de melhoria nas casas. A lista era interminável. Havia negligenciado suas obrigações por tempo demais, mas não conseguia pensar em uma solução em longo prazo para conseguir fundos para restaurar a propriedade, o Solar era um buraco negro que sugava todas as moedas que conseguia juntar.

James fechou os olhos e soltou o fôlego que prendia, já podia sentir uma dor de cabeça vindo. Levantou-se e logo se dirigiu a ao carrinho de bebidas, encheu uma taça de whiskey até a borda e sorveu de uma só vez, a sensação quente que descia pela garganta era bem vinda.

O pai de James, o antigo Visconde de St. David's era um bom homem, mas mesmos bons homens possuem falhas e infelizmente para a família Weston a falha de caráter do antigo Visconde era uma que levou infortúnio para todos. A princípio, seu vício em jogos era manejável, afinal eram ricos, que mal podia acometê-los? Tinham terras e ouro para durar gerações, mas com o passar dos anos o vício foi ficando incontrolável. O Visconde estava se afogando rapidamente, talvez uma mão amiga pudesse levá-lo de volta à superfície, mas o Conde de Clifford o arrastou definitivamente para o fundo do oceano.

Quando tinha doze anos, James viu-se com um título sem valor, uma mãe na cama quase em estado catatônico e um bebê recém-nascido sob sua responsabilidade. Somente não perdeu Solar Saint Davids porque era vinculado ao título, todo o resto das riquezas da família foi perdida, a maioria diretamente para as mãos do Conde de Clifford.

A porta do gabinete abrindo-se clareou as lembranças do passado e trouxe James ao presente a tempo de ver Henry Croft, o Barão de Dormer adentrar o cômodo.

- Henry, não veio na hora do café da manhã, uma evolução – o Visconde gracejou.

- Como não gosta de comer sozinho, farei companhia para você no jantar, não se preocupe. Onde estava? Não apareceu no clube essa semana – perguntou curioso e sentando-se na poltrona à frente da mesa.

Cartas para um Visconde | LIVRO 1 | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora