Capítulo 25

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Weston Hall, Londres, Junho de 1878.


Ódio, raiva, desprezo, mesmo nos piores momentos da sua vida, esses nunca foram sentimentos que Emmaline chegara a sentir pelas pessoas que lhe causaram algum mal, mas enquanto ouvia as palavras ditas por James, ela podia jurar que odiava o pai, ou melhor, odiava Clifford.

Não se iludia, sabia que esteve muito perto de perder o marido, assistiu dia e noite enquanto a vida se esvaía de seu corpo e ele lutava para recuperá-la, rezou horas a fio pela sua sã recuperação e para que aqueles olhos verdes brilhantes que ela tanto amava se abrissem novamente, portanto, naquele momento enquanto segurava suas mãos quentes entrelaçadas nas deles temia que um dia essas cenas voltassem a se repetir. Não iria suportar. Não podia permitir.

"Clifford foi quem mandou me matar", podia ouvi-las como um eco cruel sem fim adicionando mais um pesadelo no que parecia ter sido uma semana infernal.

— Acredita em mim? — sentiu um aperto em sua mão a tirando de seus devaneios. Eram somente os dois naquele momento, o Sr. Russel, Henry e o duque já haviam partido deixando-os a sós — Emmaline?

— Sim, é claro que sim. Mas porque James? Por que agora? O que ele ganharia com sua morte?

— Não é o que ele ganharia, mas sim o que não viria a perder — a confusão que sentia por dentro transparecia em seu rosto, pois logo James desatou a explicar — Eu sempre soube que minha mãe costumava manter um diário, nos anos após os acontecimentos na cidade escrever furiosamente naquelas páginas parecia ser única coisa que a mantinha fora do seu estado usual de torpor. Alguns meses depois de sua morte enquanto recolhia seus pertences foi a primeira vez que eu li as palavras de dor através da tinta. Ali estava a história em detalhes, preenchendo os espaços em branco da minha memória, até mesmo as partes mais sórdidas — Emmaline podia ouvir o tom sombrio da voz do marido — E foi assim que eu chantageei Clifford a aceitar o casamento, ameacei de mostrar a toda sociedade um passado que ele fez questão de enterrar e esquecer, porque eu sabia o quanto ele preza pelo respeito e admiração dos pares, via com meus próprios olhos no Parlamento e aquilo me enojava, sentia-me prestes a explodir.

— Você faria isso? Mostraria provas do que ele fez com seu pai? Com sua mãe?

— Não há mais diário Emmaline. Eu o destruí. Era um blefe, um que ele caiu. Revelar quem ele é de verdade significaria expor Isabella e eu nunca poderia fazer isso, mas a vingança e o desejo de recuperar as posses de minha família cegaram-me para o que ele realmente é capaz de fazer. Logo depois de você ter partido para o Solar, a casa foi invadida e meu gabinete revirado, seja quem fosse procurava por algo. Suspeitei que fosse Clifford na época procurando pelo diário, agora ele aumentou as apostas enviando o Escoriador para fazer o trabalho sujo. Temo qual será seu próximo movimento, que sem a mim em seu caminho você ficará desprotegida novamente e só de pensar em Isabella...

— Ele deve ser impedido — um arrepio passou pelo corpo de Emmaline só de pensar no que podia ter acontecido se Clifford tivesse conseguido o que queria — Mas como?

— Eu preciso denunciá-lo ao Parlamento Emmaline, tenho certeza que com o incentivo certo posso fazer o Escoriador testemunhar ao meu favor — ela podia ver a resolução nos olhos de James.

— Se ele for condenado pode ser extirpado de seu título e ser condenado à prisão — no fundo ela sabia que era o certo a se fazer, mas algo dentro dela hesitava, a imagem do seu irmão mais novo surgiu como um clarão fazendo seu coração apertar, não o via há meses, lamentava a distância forçada entre eles, mas o amava tanto — E quanto a Peter? Ele mal tem dez anos. Se meu pai for preso o que será dele? Sua vida também será arruinada.

Cartas para um Visconde | LIVRO 1 | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora