VIII

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P.O.V Gabie:

- Que humor do cão é esse? A noite não foi boa?

- Aí Rafael cala a boca.

- Gente, o que eu fiz?
- Contratou a Meneghim.

- Vocês transam e a culpa é minha?

- Sim. Você não tinha nada que ter chamado a Thalita pra sair com a gente. Ou ter me levado pro aniversário da filha dela.

- Gabriela, eu não mando nesse fogo de vocês. Para de descontar sua frustração por ter se apaixonado em mim.

- Eu não estou apaixonada.

- Imagino.

- Ah não fode.

- Seguinte, sobre a viagem pra Rússia daqui duas semanas: eu não vou.

- Rafael!

- Desculpa amiga, mas tem um monte de coisa pra resolver aqui e a gente não pode deixar esse lugar sem um de nós presente.
- Isso é verdade... puta merda. O que eu vou fazer?

- Leva a Thalitinha.
- Ah não. Não mesmo.

- Ela não é sua assistente pessoal? Viajar a trabalho faz parte.

Ô merda viu.

P.O.V Thalita:

- Rússia? Sem chances.

- Thalitinha, por favor. A Gabie não pode ficar sozinha e vocês terão tantas reuniões e coisas profissionais para resolver que não vão nem ter tempo de falar sobre qualquer outra coisa.

- Tem a Laura, Rafinha.

- Eu ajudo a cuidar dela. Por favor, nunca te pedi nadinha, além de tudo que já pedi.

- Por que tu não vai?

- Odeio a Rússia.
- É um burguês safado mesmo.

Confesso que amei a ideia de ficar sozinha com a Gabie e conhecer um lugar novo, minha primeira viagem internacional.

Isso implica em muitas horas num avião.

Ô merda viu.

P.O.V Gabie:

O dia da viagem finalmente chegou e nesse meio tempo mal troquei palavras com a Meneghim.

Sempre que possível eu evitei um contato maior ou falar sobre coisas que não envolvessem o trabalho.

Rafa nos levou até o aeroporto e esperou o momento do embarque. Thalita e eu sozinhas num avião por pelo menos quinze horas.
Assim que o avião iniciou a decolagem, percebi que a Thalita estremeceu e se encolheu ao meu lado.

- Tudo bem aí?
- Eu odeio aviões.

- Hey, fica tranquila. Eu prometo que vai ficar tudo bem.

Estendi minha mão e ela agarrou feito  uma criança com a sua pelúcia favorita.

- Quinze horas.
- Ah pensa pelo lado bom: quinze horas na primeira classe.

- Sabe que se esse avião cair não vai fazer diferença alguma essa questão, né?

- Meu Deus, Thalita. O avião não vai cair. Vamos trocar o assunto.

- Tudo bem...

- Como está a Laura?
- Cada dia mais incrível. Sério. Às vezes nem acredito que fui capaz de fazer algo tão perfeito.

Os olhos dela sempre brilhavam muito quando falava da filha.

- Você realmente fez um excelente trabalho. Como foi?

- Sexo, Gabie.
- Eu sei, ô feiona. Quero saber como foi cuidar dela sozinha e tudo mais.

- Nada fácil, sabe Gabie, mas não me arrependo. Eu tinha dezessete, meus planos eram fazer faculdade, talvez escrever um livro ou ser cantora. Tive que largar o teatro, alguns "amigos" me viraram as costas, o idiota foi embora assim que soube da gravidez, mesmo que tenha sido insistência dele o sexo sem camisinha. Tudo de ruim foi embora quando vi o rostinho dela naquela tarde de quatro de outubro.

- Odeio esse dia.

P.O.V Thalita:

Ainda agarrada a mão da Gabie pude perceber o quanto o assunto "quatro de outubro" mexe com ela de uma forma ruim.

- Quer falar sobre?

- Bom, eu tinha dezesseis e um cara tinha terminado comigo por sms. Tava chovendo muito em Floripa. E eu tinha saído de casa pra ficar sozinha e curtir uma fossa. Mas eu fiquei ilhada num lugar meio perigoso, meus pais não pararam de me ligar e eu bancando a menina mimada, até que eles conseguiram descobrir onde eu tava e foram me buscar. Pista molhada. Pouca visibilidade. O motorista do caminhão não conseguiu parar a tempo e enfim. Tudo minha culpa.

- Nossa Gabie, eu sinto muito. Desculpa tocar no assunto. Mas não foi sua culpa, tem coisas que fogem do nosso controle. Sério. Eles não gostariam de te ver se culpando por algo inevitável.

Ela não me encarava, nem nada do tipo, só prendeu o lábio inferior entre os dentes, o mais forte que conseguiu. Tomei seu rosto entre minhas mãos, puxando delicadamente seu lábio que já começara a cortar.

- Eles têm muito orgulho de ti, estrelinha.

Lhe dei um selinho demorado antes que ela pudesse dizer qualquer coisa.

Just a Cosmic JokeOnde histórias criam vida. Descubra agora