XVI

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P.O.V Gabie:

Oodal, tâmil. Falsa raiva após uma briga.

Do que adianta conhecer palavras intraduzíveis de amor, se eu não aprendi a lidar com ele de fato?

Dor, romeno. A saudade sentida quando se está separado de quem se ama.

Saudade é pouco para definir o que eu estou sentindo aqui dentro.

Merda.
É tudo uma grande merda.

Meu celular tocou e como sempre, esperei que fosse ela.

Mas era só o Rafa.

Ligação on:

Gabie, pelo amor de Deus, onde você se enfiou?

Em casa.

Mentira, eu estou aqui no seu quarto, que por sinal está uma zona.

Não Rafa, eu estou em casa.

Em casa, casa?

Amigo, tô falando grego?

Só fiquei surpreso, queres companhia?

Na verdade, acho que não.

Tudo bem, chego em dez minutos.

Ligação off.

Já era de se esperar.

Menos de dez minutos depois e ele já estava ao meu lado.

- Tá, pode começar a me explicar.

- O quê?

- Não banca a sonsa, Gabriela. Você praticamente desapareceu por duas semanas, se enfiou em São Paulo por um século. Não aparece mais na editora.

- Apareço sim.

- Quando a Thali vai embora.
- Tenho outras coisas para resolver.

- Me diz logo o que aconteceu entre vocês duas.

- Nada.
- Gabie, sou eu, o Rafa. Teu irmão, pode falar comigo.

- No fundo eu sabia que meu relacionamento com a Meneghim não daria certo, somos pessoas diferentes, com propósitos diferentes. Só isso.

- Não me enganas, Gabriela. Tais com medo?

- Que bobagem.
- Tais sim. Medo do amor que sentes pela Thalitinha.

- Não, isso é besteira.
- Vocês brigaram?

- Mais ou menos.
- Porra Gabie fala direito.

- A gente voltou do México e tava tudo lindo sabe? Só que ela me viu com alguém.
- Oi?!

- Não fiz nada, Rafael. Ela só entendeu tudo errado e nem deixou que eu me explicasse.
- Se explica.

- Eu estava fechando alguns contratos com a Mari e você a conhece, Rafola.
- Vocês têm uma história, Gabie.
- Eu sei, mas eu não correspondi nem nada, eu juro por você que é a única coisa boa que eu ainda tenho.

- Gabriela, se eu sair daqui e morrer...
- Idiota. É sério, eu a afastei assim que ela tentou me beijar e a Thali entrou com a papelada bem na hora e tudo ficou uma merda. Por isso escolhi passar um tempo em SP, ela não queria me ver mesmo, até pediu demissão, mas eu não aceitei, mandei ela falar contigo pra trocar de cargo sei lá.

- Custava ficar e lutar por ela?
- Eu não sei o que fazer, tá? Eu nunca amei alguém como eu amo a Thalita. Eu queria ela perto para sempre, essas duas semanas foram as piores possíveis. Eu sinto falta de tudo nela, sinto fala da Laurinha. Já me sentia com uma mini família.

- Por que veio pra cá? Tu não entras aqui desde o acidente.

- Acho que precisava sentir "uma família" para não me perder. Não quero me afundar de novo. Aqui tá tudo tão igual. Parece que voltei para os dezesseis e meus pais vão entrar a qualquer momento, inventando comidas mirabolantes, ouvindo músicas francesas e treinando palavras em várias línguas.

Rafa me abraçou e afagou meus cabelos, nossos olhos banhados em lágrimas. Como eu sinto falta de tudo. Como queria voltar no tempo e nunca ter feito aquela ligação, como queria apresentar a Thalita e a Laura para eles. Só queria a minha família.

- Ei Gabie, vou te ajudar com a Thali. Você vai ter sua mini família de volta.

P.O.V Thalita:

- Mãe, eu quero ver a tia Gabie. Sinto falta dela.

Eu também.

- Ela tá viajando, filha. Já te disse isso.
- E não te levou?

- Coisa de adulto, Laura.
- Ah não mãe, você consegue uma namorada legal e termina com ela?

- Laura!
- Tá bom, eu vou parar de falar, mas eu tenho razão.

Rafola:

Ei

Oi
Não sei da Gabriela

Nem perguntei nada

Desculpa é que todo mundo resolveu perguntar dela hoje

Pode me encontrar num lugar? Aconteceu algo sério.

Posso
Que horas?

Agora

Rafa me enviou o endereço e eu tive que perguntar depois o quão séria era a situação, se envolvesse ele pelado no meio da rua infelizmente não poderia ajudar, já que ninguém pode ficar com a Laurinha pra mim.

Segui o endereço até chegar numa senhora mansão. Nunca imaginei um lugar assim em Floripa.

- Tens certeza que é aqui, mãe?
- Acho que sim. Vou ligar pro Rafa.

Bom, o lugar é esse mesmo. Tô me sentindo naqueles filmes onde a casa é tão grande e a pessoa vai sozinha e morre.

- Tia Gabie! Senti saudades de ti.

Tia Gabie? Posso matar o Rafa?

Elas se abraçaram, parecia que não se viam por anos.

- Lauvers, vamos conhecer a casa humilde da Gabie e deixar as duas conversarem?

Ela concordou com a ideia do Rafa, mas antes veio sussurrar no meu ouvido.

- Faz as pazes com ela, ok?

Observei os dois saírem da casinha humilde e fiquei esperando a Gabie se pronunciar.

- Oi Thali.
- Oi Gabriela.

- Senta, fica à vontade. Quer beber alguma coisa?
- Não precisamos disso, fala logo o que tem a dizer e não vem com "Não é nada que estás pensando".

Ela me explicou toda a história da guria e pode ser sim que eu tenha visto algo errado e fui uma boba sem querer ouvir o que ela tinha a dizer, mas uma coisa que a Gabie não sabe fazer é mentir. Seu olhar e seu jeito entregam logo.

- Thali, diz alguma coisa, por favor.

- Eu acredito em ti. Me desculpa por não te ouvir antes.
- Me desculpa por fugir.

- Só se você arrumar uma palavra intraduzível para esse momento.

- Retrouvailles, francesa. A alegria de reencontrar quem se ama depois de uma longa separação.

- Foram duas semanas, amor.
- Muito, muito longa separação.

- Eu te amo, Gabie Fernandes.
- Eu te amo em todas as línguas, Thalita.



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