XII

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P.O.V Gabie:

Só depois de transar na sala do apartamento da Thali eu me lembrei de um pequeno detalhe de oito anos.

- Thalita, cadê tua filha?
- Tu só lembra da criança depois de transar, Gabie?!

- Ah eu nunca tive uma criança. Ela não tá por aqui, né Thali?

- Claro que não! Ela foi pro futebol, inclusive tá quase na hora de buscá-la. Então levanta e vai tomar banho logo.

- Eu não posso só ficar dormindo aqui?
- Ah pronto, anjão. Levanta logo.

Ela praticamente me arrastou até o banheiro, tomei um banho demorado e quando sai, ela havia separado uma roupa, já que eu sai de pijama no meio da madrugada. Thalita já me esperava pronta na sala de casa.

- Oin vida.
- Que que foi, Thali?
- Você usando uma roupa minha: é muito lindo ou pouco lindo?

- Ah só vamos logo antes que eu desista.

Mas antes de sairmos, a puxei pra um beijo. É muito lindo.

Fomos no meu carro, com a Thali dirigindo é óbvio. Fiz vinte e oito aulas que não resolveram muita coisa, sou um pequeno desastre no trânsito.

P.O.V Thalita:

Deixei a Gabie esperando no carro enquanto fui buscar a Laurinha, que não parou de falar um segundo sobre o gol que ela fez.

- Ei mãe, tá maluquinha? Não é o seu carro. Eu não digo mesmo.

- É o carro da Gabie.
- Por que ela tá aqui? Eu ainda não sei se gosto dela.

- Mas eu gosto e podemos conversar sobre isso depois, ok?
- Acho que ok. - Entramos no carro e a Gabie disse estar com fome e sugeriu que saíssemos as três juntas. - Só se eu puder escolher o lugar.

- Olha, a Thalita concordando com isso, eu não vejo problema algum.

- Escolhe, mas lembra sempre que a mãe que paga a conta tá.

- Thali, vocês são minhas convidadas.
- Ah não Gabie, tu queres pagar tudo sempre.

- Tem problema?
- Sim.

- Me apresente argumentos plausíveis e eu paro de querer pagar tudo.

Laura queria McDonalds, mas é claro que eu não deixei e então ela escolheu ir pra qualquer lugar que ficasse perto do mar.
E a Gabriela me fez parar no restaurante mais caro possível, todo meu salário numa refeição.

Nos sentamos e a Laurinha passou a encarar a Gabie de forma quase maníaca.

- Filha, algum problema?
- Não, nenhum.

- Por que tá encarando a Gabie?
- Tô decidindo se gosto dela ou não.

A loira praticamente engasgou com a resposta nada discreta da criança.

P.O.V Gabie:

Sendo julgada por uma menina de oito anos. Nunca imaginei passar por isso na vida. E nunca torci tanto por uma aprovação.

Encarnei meu modo Gabriela Fernandes negociadora, poderosa e qualquer outra coisa que não me fizesse parecer intimidada por uma criança.

- Então, Laura Meneghim, me diz quais os meus pontos fracos?

- Você levou minha mãe pra longe por muitos dias. E ela nunca me deixou tanto tempo. E apareceu na minha casa de madrugada, tive que dividir a mamãe e a cama.

- Algo mais?
- Depois que eu pensar, eu falo mais.

- Ok. E os pontos fortes?
- Fizeste a minha mãe sorrir de um jeito bonito, me deu os livros mais legais e deixou eu escolher o lugar pra nós três.

- Certo. E se eu prometer não levar sua mãe pra muito longe por muito tempo ou da próxima vez se for uma viagem demorada e ela concordar, você pode ir junto.
- Sério? - Ela perguntou com os olhinhos brilhando, e a Thali tava prendendo o sorriso mediante nossa primeira interação real. - Obrigada, tia Gabie!

A gente não imagina a alegria de ser chamada de tia até conhecer uma coisinha dessa.

P.O.V Thalita:

Ai gente acho que é tpm, mas quase chorei com as duas conversando. Com o "tia Gabie" e com o fato das duas passarem o resto do almoço falando sobre bruxos, trouxas, elfos e feitiços estranhos.

Fomos passear pela orla, tomar sorvete e curtir a tarde. Eu tô feliz num grau que não tá descrito.

- No que tanto pensas, estrelinha?
- Em como vocês duas me fazem bem, sabe Gabie?

- Às vezes eu tenho vontade de te esmagar, Meneghim.

Ela deixou um beijo em minha bochecha e voltou a focar sua atenção na Laura, que tentava manter um projeto de castelo de pé.

Aproveitei pra verificar o celular, apesar do dia de folga, eu tenho uma agenda para manter em ordem. Mesmo que a dona da agenda esteja, como eu poderia dizer: cagando. É cagando pros compromissos da próxima semana.

Rafola:

Thalitinha?

Ei?

Tais por aí?

THALITA!

Oi migo! Quem morreu?

Mal aí, tô na praia com a Laura.

Ninguém sabe da Gabie! Tá desaparecida, tô ligando desde ontem e ela não atende, nem retorna, nem responde minhas mensagens.

Ela meio que tá comigo...

Como assim?! Me preocupei por nada? Manda a Gabriela me ligar assim que possível, quase coloquei a polícia atrás dela.

Aí Rafa Dias, cê tá bravo?

Idiota.

Também te amo migo.

Larguei o celular e falei pra Gabie do surto do Rafael e que por mais um pouquinho o exército não foi posto atrás dela.

Ela insistiu que Laura e eu ficássemos na casa dela, por pelo menos um pouquinho, que ia sentir saudade e que o Rafa ia brigar por ela ter sumido, então precisava de companhia pra bronca ser menor.

- Gabriela Fernandes, dá próxima vez que for tentar me enlouquecer avisa, eu só não vou brigar contigo porque estavas com a Thalitinha e minha criança preferida.

Adiantou nada proibir a besteira na hora do almoço, já que o meu querido amigo Rafa quis estragar a criança que eu educo há anos. A noite foi regada de besteiras e filmes de animação.
Uma noite cheinha de pessoas e coisas lindas.

Uma noite de bobagens que me deixou com o coração quentinho.

Gabie chegou mais perto e sussurrou no meu ouvido.

- Merak.

- Quê? Outra palavra intraduzível?

- Sim! É sérvia e indica um sentimento de profundo amor para o universo, que vem da capacidade de apreciar as pequenas coisas como a proximidade das pessoas que amamos.

- Agora quem quer te esmagar sou eu.

Just a Cosmic JokeOnde histórias criam vida. Descubra agora