1994
No meu terceiro dia de trabalho na casa de Courtney, como sua assistente, eu já havia recebido ao menos quatro caixas de drogas através da porta dos fundos. Nessa madrugada, não foi diferente. Sempre algum cara encapuzado tocava a campainha duas vezes às 1h44min da manhã, largava a caixa em meus braços sem dizer uma palavra e depois sumia em meio a escuridão. Muito bem treinado e discreto, sabia como evitar qualquer curioso que poderia estar ao redor em busca de uma pequena visão do casal do Rock: Courtney Love e...
Kurt Cobain. Um arrepio percorreu minhas costas.
Até o momento, Nirvana estava em tour pelo país. Não tive a oportunidade de conhecê-lo, nem a Dave ou Krist, porém ansiava por esse momento desde que fui contratada. A banda fazia valer a pena trabalhar para a megera que o vocalista chamava de esposa. Rapidamente me encantei pelas letras e melodias deles, havia algo de especial que me fez curiosa e apaixonada. Um misto de morte e vida, a linha tênue entre felicidade e tristeza.
Suspirei e abracei a caixa com força, mesmo tendo desgosto pelo seu interior. Caminhei em direção ao estúdio da casa e abri a porta com o cotovelo, quase não suportando mais o peso em meus braços.
"Evelyn." Courtney me tirou de meus pensamentos. Sua voz era seca, alta e rude. Afastei meus cabelos castanho-claros para melhor vê-la e larguei as drogas a sua frente, na mesa de centro. "Quero esse lugar limpo antes das 3h."
Apesar de ter sido contratada como sua assistente, cada vez mais me via como uma governanta. Eu não cuidava de sua agenda ou lia seus contratos. Eu fazia a porra do trabalho sujo dela e nem ao menos ganhava decentemente para isso.
Observei-a depositar as cinzas de seu cigarro sobre o veludo do sofá em vez do cinzeiro e expirei, controlando minha raiva para garantir o emprego. Havia objetivos maiores a serem alcançados.
"Claro, como quiser, madame." Um tom de sarcasmo deixou os meus lábios e ela me encarou com uma expressão fechada, mas logo levou sua mão esquerda ao copo de uísque e em seguida a boca. Love deveria estar bêbada e chapada demais para me repreender.
Eu ri, pensando que as coisas poderiam ser divertidas se continuarem assim. O sarcasmo seria destilado em plena paz e me faria sobreviver aos dias de faxineira, digo, assistente. O fato era que eu não só queria ver a banda. Precisava desse emprego para cuidar dos meus pais. Eles estavam em um asilo situado em uma cidade à 7km de Seattle (onde fica a residência de Kurt), e necessitam cuidados especiais. Portanto, mesmo que eu reclame da boca para fora, aceito qualquer condição imposta por Courtney, desde que meus pais fiquem bem.
Após jogar na lixeira a sujeira que lotava os 3 cinzeiros do local, me ajoelhei no chão de madeira e comecei a limpar um dos tapetes. As botas, que a cantora terminava de lustrar no estofado agora, haviam o marcado.
"Sabe por que te contratei, Evelyn?"
"Por que previu que eu sabia limpar muito bem?" Murmurei sem levantar o olhar.
"Não. Ugh, suas ironias me cansam." Sorri ao ouvir isso e ela levou o cigarro a boca, tragando profundamente, enquanto encarava com desejo a caixa que deixei ali mais cedo. "Somos tão opostas. Eu sou Love, você é Hate. Sou uma mulher, você uma garota. Sou ousada, você tímida. Uma tem beleza e atitude, anda envolta em couro e metais. Outra coloca qualquer camiseta e calça e acha que está ótimo." Courtney ri, jogando sua cabeça para trás.
Sou quieta e consciente, você sem-noção e soa como um alarme. Meus punhos se fecharam ainda mais ao redor do tapete, tão forte que estava me machucando.
"Preciso desse equilíbrio, se não eu morreria." Continuou, finalmente não resistindo mais e abrindo um dos pacotes do que imaginei ser cocaína. Courtney encheu as narinas com uma linha da droga e sorriu sadicamente. Sabia que estava se matando lentamente, e não era por causa de falta de "equilíbrio". Seus olhos brilhavam, Love queria morrer. Não hoje, nem amanhã, mas quando seu dinheiro acabasse, bem como seu controle sobre a vida dos dois. E devido aos boatos na imprensa, a mulher estava arrastando Kurt com ela.
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Salvando Kurt Cobain
ФанфикKurt Cobain jurou que não tinha uma arma, mas Evelyn Hate sabia que isso era uma mentira.