18 | I'm not gonna crack

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Kurt Cobain's POV

Não sei por quanto tempo permaneci desacordado, mas quando acreditei finalmente estar partindo, a voz de Evelyn voltara a me assombrar. Era agridoce. "Kurt, por favor..." Conhecia aquele choro baixinho e resistente como a palma da mão. Não respondi aos meus devaneios pré-morte. "Por favor, salve a si mesmo." Implorava em minha mente rodopiante e confusa.

Meus pulmões estavam cada vez mais parados, o ar não lhes preenchia. Eu era uma rosa desfalecendo pétala por pétala. "Não vá sem se despedir de mim." Hate sussurrou, fazendo-me semi-abrir os olhos para procurá-la no cômodo. Nada, óbvio. Antes que pudesse fechá-los novamente, ouvi-a dizer "terrence loves you.", carregando consigo um tom desistente e depressivo que se afastava com lentidão, ficando sempre mais baixo até esvaziar-me de pensamentos.

O quarto se tornou mais nítido e minhas pálpebras não caíam mais. Igual a um soco na ferida da bala, percebi o que significava o sangue todo ao meu redor. Percebi que deveria estar morto há minutos, senão horas. Entretanto, eu retornava toda vez. E se retornava, era porque algo não fora completo em vida.

Apoiei meu punho fechado na cama e movi minhas pernas até estar abaixado, próximo de estar em pé. O movimento resultava em pressão naquele buraco estúpido que Amy fez, mas não podia parar agora. Iria reencontrar Evelyn, nem que fosse pela última vez, em um hospital, para dizer adeus. Enfim a livraria por completo do peso de me salvar, salvando a mim mesmo.

Gemi de dor ao fazer menção de levantar. Meu corpo era lavado agora por um suor frio que anunciava outro desmaio. Engoli saliva e fechei os olhos, buscando foco para continuar.

Uma jaqueta velha cobria agora meu ferimento, enquanto eu tentava dar passos pequenos em direção a saída, sem me deixar enganar pela náusea que obrigava as paredes e o chão a dançar. O corredor parecia infinitamente maior do que lembrava e mal tinha capacidade para levantar os joelhos e chegar ao fim dele. Por isso, arrastei-me até o topo da escada. Lá embaixo estava a cozinha, tão silenciosa e perturbadora quanto o local anterior. A estante de bebidas brilhava ao me chamar, mas não era motivação. Não sabia como descer aqueles degraus sem morrer no processo.

Só me restava tentar. Sentia cada degrau ao menos três vezes até ter total certeza de que poderia firmar meu peso nele. Logo, eu já estava na garagem, abrindo-a com o controle pendurado em um gancho próximo a estante de madeira. Ao lado, as chaves extras do meu carro, tentadoras sob falsa esperança de conseguir alcançar o hospital dirigindo. E essa seria minha opção de suicídio se caso, através do portão principal, uma ambulância não entrasse as pressas.

Sorri e meu físico desmoronou no chão de pedra. Uma horda de socorristas correu até mim, só que havia algo peculiar entre eles. Uma mulher atônita, despreparada, nada profissional.

Courtney Love.

Tentavam me fazer perguntas simples e ela gritava meu nome. Palavras soltas que pendiam no ar acima de mim, impossibilitadas de realizar conexões. Em um piscar de olhos, estava na maca, dentro do veículo.

"Ev...velyn Hate." Usei todo o resto de forças que tinha para encarar a socorrista ao meu lado e lhe dizer o nome. Seu olhar confuso viajou no meu e depois pousou no da vocalista, decidida a acompanhar tudo de perto.

"A ex dele..." Informou para a outra, magoada e com raiva, apesar de tentar esconder essas emoções. "Merda, Cobain!" Socou o couro verde do banco em que sentava. A guitarrista estava frustrada com minhas palavras depois de todo esforço que fez.

Salvando Kurt CobainOnde histórias criam vida. Descubra agora