2 | Ultraviolência

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Meu corpo estava paralisado e deixando com que cada fagulha de calor fosse substituída pelo frio. Coloquei minhas mãos entre minhas pernas e curvei a coluna, não sendo mais capaz de suportar meus ossos eretos. Senti o desespero corroer minhas bochechas e torná-las vermelhas. Algumas lágrimas ameaçavam deixar meus olhos. Kurt estava distraído, preso em sua própria mente. Ele entrou molhado de chuva e pendurou seu casaco marrom de camurça no suporte atrás da porta, revelando seu suéter verde.

Em seguida, tirou seu All Star preto e o deixou em um canto. Observei-o puxar seus cabelos úmidos para trás e secar as mãos nas calças jeans claras. Procurei me distrair com seus olhos baixos e vazios, seu maxilar relaxado, a barba por fazer e os anéis que brilhavam em suas mãos, mas havia uma agonia crescente em meu peito e o aperto em meu pescoço se intensificou ainda mais quando ouvi o primeiro gemido de Courtney.

Mordi meu lábio inferior para não começar a chorar ou vomitar novamente. Outro gemido dela. Não era justo o que estava acontecendo, ele não merecia. Fechei os olhos com força e desejei estar tendo um pesadelo. Ouvi os passos de Kurt, ele seguiu para cozinha e abriu a geladeira. Respirei fundo, ficando propriamente de pé e olhei para o teto, forçando as lágrimas a manterem-se dentro de meus olhos. Assim que me recompus, meu cérebro exigiu com que eu tomasse uma decisão sobre o que fazer. Deveria avisá-la? Distraí-lo para que não chegasse ao estúdio? Me retirar? Indecisa, andava de um lado para o outro, ora me dirigindo a ele, parando, ora indo até ela, parando, indo até a porta para sair e parando. Estava ficando louca.

"Courtney?" A voz rouca do vocalista soou na base da escada, me fazendo parar bem no centro do corredor, incerta sobre qual direção seguir. Seus passos agora vinham para mim e cada um era como um soco em meu estômago.

"Você deve ser Evelyn." Ouvi por cima de meu ombro. Com meus braços cruzados e abraçando meu peito, virei lentamente para encará-lo. "Sou Kurt." Sorriu de forma doce e estendeu a mão para que eu a apertasse.

Quase não conseguindo fixar meus olhos nos seus, entreguei minha mão tremendo a sua. O vocalista a segurou e logo a cobriu também com sua mão esquerda. Uma expressão de preocupação preencheu seu rosto. "Você está bem?"

Não. Não estou.

Antes que pudesse responder, Courtney fez por mim. "Sim! Isso! Ah, Andy..." Gemeu com veemência.

"Que merda é essa?" Cobain tensionou seus ombros e elevou sua voz. Seu maxilar agora estava firme e seus punhos fechados.

"Não, não vá lá, por favor." Chorei, ficando entre seus braços e tentando segurá-los. Eu não queria que ele visse, não queria que fosse ferido dessa forma, embora já podia sentir sua tristeza. Havia um buraco em ambos os nossos corações. Kurt sabia que era Courtney.

"Evelyn, com licença. Você precisa sair do meu caminho." Apesar da situação, o vocalista manteve-se gentil. Segurou meus ombros e colocou meu corpo para o lado, contra a parede do corredor. Seus olhos não lutaram contra as lágrimas como os meus. Enquanto assistia ele se afastar, deslizei até o chão e escondi meu rosto em minhas pernas, finalmente me permitindo chorar. Meus soluços não conseguiram ser mais altos do que aconteceu no estúdio.

"Kurt!" A mulher gritou, surpresa.

"Por que?!" O vocalista vociferou, em meio ao seu choro, sem entender os motivos de Love. "Sai de cima dela!" Essa ordem foi seguida pelo som do equipamento caindo no chão. Talvez Andy tivesse sido jogado contra ele.

"Por favor, me ouça, amor. Posso explicar, mas você precisa ficar calmo." Courtney usou de sua voz mais meiga.

"Tire suas mãos de mim, Courtney. Que nojo, que nojo, que nojo..." Repetia, inconsolável e perdido. Havia raiva na voz de Kurt, mas principalmente mágoa. Ele já chorava como uma criança. "Dê o fora daqui, Andy. Suma, eu nunca mais quero te ver." E com isso, ouvi o que imaginei ser um soco e o resmungo do amante de Love. Eu estava certa. Ele saiu cambaleando e com a mão sobre o olho direito. Passou por mim sem me notar sentada ali e foi até seu carro.

Salvando Kurt CobainOnde histórias criam vida. Descubra agora