12 | Blandest.mp3

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"Estou muito orgulhosa de você, Kurt." Eu disse e segurei com mais força sua mão. Passei um dos braços ao redor de sua cintura e o abracei de lado, fazendo-o soltar uma risada. Seu sorriso, então, iluminou o saguão do hospital e sua barba dourada reluziu, contrastando com o azul do céu que habitava além da janela.

Continuei andando até a porta de saída, mas isso ainda não estava nos planos dele, que me parou e agarrou meu rosto, acariciando-o com os polegares. Algumas pessoas que estavam esperando ali lançaram olhares de admiração e suspiraram.

"Que fofos." Ouvi alguém sussurrar, e estava certo. Éramos fofos, mesmo cansados devido a longa manhã de exames e receitas médicas. Éramos fofos, mesmo com o vocalista vestido com a roupa branca do hospital e seu Vans, e eu com um jeans todo rasgado. Éramos fofos porque irradiávamos sentimento.

Até o silêncio que Kurt fazia agora de sua felicidade era motivo para minha boca extinguir a união melancólica dos meus lábios. Entre suas mãos, olhando-o de baixo, eu era sua garotinha.

Ele analisou cada detalhe meu com o amor estampado em sua expressão. "Não foi nem de longe tão intenso quanto eu pensei que seria."

"Você tem colocado as outras pessoas em primeiro lugar sua vida inteira e fez cuidar de si algo muito grandioso, assustador...

"Impensável." Falamos em uníssono.

"Isso." Ri, baixando o olhar. "Mas hoje você percebeu que não é. Hoje, você me deixou orgulhosa porque descobriu e aceitou que merece uma vida melhor do que as drogas podem oferecer." Uma lágrima, do tamanho desse pequeno início da recuperação de Cobain, cobriu minha bochecha. Ele rapidamente a limpou.

"Ah, Evelyn..." A fala foi suave, derretida, mas seu olhar passava seriedade e convicção. "Se você não tivesse escolhido lutar por mim, eu nunca teria visto o lado mais próximo do paraíso. A escuridão seria para sempre familiar." Beijou minha testa e me segurou contra seu corpo. Meu leve choro pintava manchas em formato de nuvens no tecido que vestia e apesar dele, causado pelas palavras do vocalista, até cegos notariam o quão feliz eu estava. "Dos meus salvadores, você é minha favorita." Kurt prosseguiu, ao me acalmar.

"Um dia, serei a única. Sem mais drogas. Sem mais dor."

"Amém."

Até o momento, a crescente agitação daquela anormal "platéia" não havia nos incomodado e seu ruído pouco importava para mim, tornando-se distante e alheia à nossa conversa. Entretanto, alguns flashes de câmeras, passos rápidos e vozes curiosas chamando pelo nome dele fizeram com que corrêssemos ao estacionamento do hospital. Encontramos meu carro, agora convenientemente escondido em uma vaga no meio de uma vã azul e uma ambulância.

Kurt, ofegante, parou e encostou-se na lataria. Ele jogou minhas chaves e em troca, joguei seu maço e isqueiro.

"Você é boa." Riu, observando eu pegar o objeto no ar. Depois, contraditório à sua falta de oxigênio, acendeu um cigarro.

"Apenas saudades de estar no volante." Pisquei para o vocalista, admirando o brilho do molho de chaves. Desde que Dave e Krist recuperaram meu carro da posse de Courtney, o veículo ficou na garagem de Kurt. Ele tem o próprio, que usamos pouco, já que devido aos shows, estamos sempre com a banda. Eu realmente senti falta dele. "E olha quem fala, você pegou os dois ao mesmo tempo. Belos reflexos." Ri.

"Reflexos? Ah é?" Respondeu, jogando no asfalto o tabaco e pisando sobre ele.

"Uhum..." Ignorei seu tom debochado, me alertando de que ele possuía intenções. Abri a porta e mal meus dedos relaram no couro quente do volante, suas mãos agarraram minha cintura, pressionando-me onde antes se escorara.

Salvando Kurt CobainOnde histórias criam vida. Descubra agora