Salvando Kurt Cobain

9 | And I love her

Kurt estacionou o carro em frente a uma enorme garagem, cuja porta de correr encontrava-se extremamente enferrujada. A casa a qual pertencia também parecia abandonada, com sua pintura em cor de lavanda já descascando sobre a frágil e velha madeira. Encarei o gramado pálido, alto e adornado com ervas daninhas que decorava a fachada do local.

"É a antiga casa dos pais do Krist." O vocalista falou ao me ver absorta e intrigada com os detalhes da casa. "Sempre achei que essa garagem tinha o melhor acústico do mundo." Em seguida, ele se espreguiçou no banco de couro bege, quase lutando contra sua jaqueta de couro, posta quando estávamos em seu quarto mais cedo. A peça reluzia sobre seu rosto, assim como seus anéis de prata quando acendeu um cigarro com o isqueiro branco. 

Eu vestia um vestido bem solto, com estampa de cerejas. Por cima dele, uma jaqueta jeans que o vocalista havia me emprestado. Encantada por toda sua glória, me aninhei no casaco e também deitei sobre o banco. Observei seus cabelos dourados caírem perfeitamente ao lado do rosto e seus olhos celestiais, livres e distraídos com o mundo ao nosso redor. 

Cobain tragou o mais fundo que pôde, enchendo seus pulmões por completo. Com a inspirada, seu peito subiu mais alto do que pensei que poderia, como se fosse rasgar sua fina e surrada camiseta, o que me causou certo pânico e agonia. Então, expirou a fumaça contra o espelho do veículo, preenchendo-o. Quando ela saiu pelas janelas, notei que ele me olhava fixamente pelo reflexo.

Eu ficaria corada se me importasse comigo mesma naquele momento. Entretanto, só tinha olhos para ele, que sorriu, quase tímido, mas ao mesmo tempo perplexo por adorá-lo tanto assim.

"Você não usa roupas caras. Você não sai por aí dizendo que é cheio de dinheiro, quase odeia sua fortuna." Exalei, sem tirar os olhos dele. "Fama, em grande parte do tempo, é tortura. Seu local de ensaio é simples, comum como qualquer outra garagem... Às vezes eu me pergunto se esquece de que é um rockstar ou se preferiria não ser." Eu queria entendê-lo. Queria saber mais sobre o vocalista do Nirvana, enchê-lo de perguntas até irritar-se comigo. Quis decifrá-lo, conhecer cada pedaço daquela alma que era claramente tão diferente das demais. Desejava  poder carregar sua essência dentro de mim.

"Eu prefiro o que é real, Ev. Aquilo que fica para sempre conosco, que nenhum dinheiro compra. Sabe o quão raro é um sorriso direcionado a mim que não vem pela a fama? Ou esse interesse genuíno que vem de você, mas que não vem de nenhum entrevistador?" Respirou fundo e encarou o teto aveludado. "E não é muito meu estilo gastar milhares de dólares por aí, você sabe. Tenho esse All Star faz sete anos, por exemplo."

"Esse All Star deve valer milhões só por estar nos seus pés."

"Ugh, é, odeio isso. É só a porra de um tênis." Ele virou-se e olhou para mim por cima do ombro. Ao sair e cerrar a entrada do carro, se apoiou na janela, ficando mais lindo do que jamais o vi, o que eu costumava considerar impossível. A fumaça do tabaco dançava em meu rosto e quase me sufocava, mas seus olhos eram como imãs para os meus.

"Vamos?" Kurt perguntou em tom inocente, como se não soubesse o que causava em mim. Assenti com a cabeça, mas permaneci imóvel, hipnotizada. Ele riu e tragou até o fim seu cigarro, dirigindo o olhar para o final da rua. "Ev, nós vamos entrar lá e cada música que tocarmos será para você. Cada linha, porra. Cada sílaba e cada nota... Eu amo você." Suas palavras me deixaram sem as minhas e senti meu coração afundando em uma areia movediça composta por amor verdadeiro, felicidade intensa e uma vontade de chorar reprimida. O vocalista contornou o carro e estendeu a sua mão. A peguei sem nem pensar e saí, me sentindo segura de forma instantânea.

"Meu coração é seu e você sabe. Te amar não é mais algo que sinto, Kurt. É algo que vivo." Falei com toda minha honestidade. Estar com ele era como estar no mar e cada onda era um sentimento diferente, na maioria das vezes incrível. Porém, a areia constante e interminável sobre meus pés era como o que vivíamos.