15 | Armas e Rosas

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"N-não, tudo bem. Pode deixar que pego um táxi." Caminhei alguns metros, sem saber de fato como deixar o prédio. Eu estava desnorteada depois de tantas emoções em tão pouco tempo.

"Não vai nem me agradecer?" Axl gritou para mim, irônico.

"Te agradecer? Ah, claro." Parei, mantendo-me de costas. "Obrigada, senhor Rockstar, por me envolver em um acidente." Retribui a ironia e senti sua presença se aproximar.

"Ai, essa doeu... Com os nervos beirando a pele, voce não deveria sair por aí sozinha." Alisou meus cabelos, colocando-os para o lado. Neguei seu toque colocar nossos corpos frente à frente.

"Está enganado, Axl."

"Estou?" Seus olhos azuis pairavam um pouco acima dos meus. Não eram azuis como o céu de Kurt. Eram azuis como uma safira descoberta na toca de leões. Lindos, tentadores e extremamente perigosos. "Além dessa saída, quais são suas outras opções?" Ergueu o queixo, expondo seu maxilar afiado.

Olhei ao redor e tudo que consegui decifrar foi muro, portas, concreto. "Se eu entrar pela garagem, encontro a entrada principal rapidinho." Retruquei o mais súbito possível.

"Entrar pela garagem, Ev? Do estacionamento? Só se quiser ser atropelada. Chega de aventuras por hoje." Ele sussurrou a última frase em meu ouvido. "Vem comigo."

Suspirei e desviei meus olhos dos seus para a rua. "É Evelyn." Lembrei-o, dando-me por derrotada, já que nem consegui recordar que aquela porta específica da garagem servia apenas para a saída dos veículos.

"Se for boazinha, te dou passe para os bastidores do show de amanhã." Axl ofereceu sua mão, mas recusei e o vocalista levantou-a, em defesa.

Vocalista. Eu odiava que esse termo também servia para descrevê-lo.

A pequena jornada seguia em silêncio. Axl havia me esquecido ali, seus olhos nunca deixaram o horizonte. Além da música, dirigir também era sua arte. Deitada contra o vidro, o observei pelo canto do olho. Os antebraços bem definidos, expostos pela camiseta preta, terminavam em mãos médias com dedos longos e ossos demarcados, e formavam uma linha reta entre seu corpo e o volante. Ele dançava com a direção em cada curva. O carro parecia flutuar em seu comando, ao mesmo tempo que demonstrava a potência de um raio sobre o chão do deserto.

"A curiosidade matou o gato." Uma risada breve e maldosa escapou da sua boca.

"O quê?"

"Consigo sentir você me estudando." Me deu a confirmação de que eu não havia sido discreta. Cruzei as pernas e os braços, sentando com as costas contra a janela.

"Está fazendo o quê?" Proferiu, parecendo incomodado por eu estar olhando-o descaradamente agora.

"Quando eu disse meu nome por que ficou tão surpreso?"

"Você estava em choque. Eu esperava bem menos que isso." Soou vazio e simplório, focando em tudo menos em nossa conversa.

"Seja sincero."

Exalou profundamente. "Evelyn Hate. A garota do Kurt. Soube assim que te vi."

"Ex. Ex garota do Kurt..."

"Ah, sim. Amy é a atual, certo?"

"Como sabe?" Perguntei e o vocalista acendeu seu tabaco. A fumaça sumia com o vento, já que seu braço descansava para fora do veículo.

"As notícias correm, pequena gafanhoto."

"Espero que essa aqui não."

"Essa aqui?"

Salvando Kurt CobainOnde histórias criam vida. Descubra agora