.•**•..•**•..•**•..•*KAYA*•..•**•..•**•..•**•.
Dor nas costas, chutes e empurrões. Contrações cada vez mais presentes. Desejos repentinos e extremamente aleatórios.
—Estou começando a achar que você não gosta de mim —Falei para o bebê.
Senti outro chute como resposta. Sorri comigo mesma e acariciei minha barriga. Eu estava enorme: fora a barriga, meus seios estavam inchados, já vazavam algo parecido com leite materno. Conversava com ele(a) todos os dias, especialmente agora. Rainara me ajudava com massagens e conselhos. Eu me preparava para o parto, ouvia Rainara me explicar sobre as contrações e a respiração. Ela me disse que já engravidou uma vez, teve a gestação completa mas a criança morreu durante o parto. Eu não conseguia imaginar tamanha dor. Sei que se meu bebê não nascesse, eu morreria por dentro. Paul quis me demitir quando percebeu que eu estava grávida porém Rainara, como sempre, conseguiu convencê-lo a me deixar ficar. Ethan passava muito tempo fora. Neste momento, estava no sul. Eu não me importava muito já que faria o mesmo. Depois que pedi para que ele fosse o segundo pai da criança, Ethan passou a ser ainda mais atencioso e carinhoso, comprou roupinhas, lençóis e um berço. Ele me tratava bem mas tinha dias que eu só queria chorar e socar a cara dele. Arthur aparecia para conversar e me presentear de vez em quando.
Eu estava na banca com Rainara quando ouvimos o sino da torre na praça, indicando que estávamos sendo invadidos. Tarde demais, notei, pois um soldado matou um cidadão à nossa frente. Rainara soltou um grito. Voltei-me para ela, para dizer que se calasse mas me detive quando uma onda de terror me tomou ao ver Paul cair. Foi atingido por uma flecha na cabeça. Um líquido quente escorreu entre minhas pernas e eu soube que estávamos ferradas. Era sangue. Rainara estava em choque enquanto o mundo se acabava ao nosso redor. Segurei-a pelo braço.
—Rainara, olha pra mim!
—Paul! Eu preciso ajudá-lo.
Puxei-a para nos escondermos atrás da banca. Gritos tomavam o som local.
—Eu vou parir, Rainara, preciso da sua ajuda, precisamos sair daqui —Falei, de forma incisiva e lenta para que ela entendesse.
Ela ainda olhava para o cadáver de Paul. Puxei seu rosto em direção ao meu.
—Vamos pegar minha espada na casa e você vai me ajudar no parto.
Ela não chorava, não gritava ou falava. Olhou para Paul mais uma vez antes de anuir. Segurei sua mão e seguimos rumo à casa de Ethan. Senti uma contração. Tentei contar o tempo que passava. Abri a porta, peguei minha espada e Rainara pegou lençóis e começou a arrumar a casa.
—Não vou conseguir fazer isso aqui. Estão nos atacando. Precisamos nos afastar —Eu disse.
Uma ansiedade me tomou. Eu vou parir. Vou dar à luz. Meu bebê está chegando. Meu coração acelerou tanto que senti meu peito pular. Respirei fundo. Estamos sendo atacados, precisamos manter a calma, pensei. Demos de cara com três soldados quando saímos. Empunhei a espada, colocando Rainara atrás de mim. Olharam para minha barriga e deram um sorriso de deboche. Calculei meus passos. Eu ainda sei me defender. Fingi que atacaria um mas me abaixei para pegar minha adaga. Arremessei na soldada mais atrás. O mais próximo avançou sobre mim e me deu um soco; desviei, agarrei seu braço e usei-o como escudo e seu companheiro acabou o esfaqueando. Peguei minha espada e usei contra o último, o que não deu muito certo já que eu não tinha a mesma agilidade de antes. Mesmo assim, consegui evitar ser atacada e Rainara o distraiu, assim eu consegui rasgar sua perna.
—Vamos! —Puxei seu braço para continuarmos.
Desviávamos de soldados e flechas. Eu não sabia para onde ir. Eu estava com contrações regulares e tinha uma mulher em choque como meu amparo. O que devo fazer?, me perguntava. Corri ao lado oposto da direção em que os soldados lithianos que surgiam. Eu precisava de um lugar onde não nos encontrariam. Ou qualquer lugar. Por favor, me ajudem, por favor, pedi aos anjos. Passamos por corpos caídos, cabeças arrancadas, poças de sangue, ouvimos gritos que eu não podia atender. Contração. Cacete. Encostei-me na parede da casa mais próxima e respirei fundo. Rainara pôs a mão em meu ventre.
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Os Dons de Lithia: Entre o Amor e a Guerra
RomanceDe quantos recomeços é feita a vida? O que é mais difícil: a guerra do coração ou da nação? Kaya Dagenhart é uma soldada do Exército de Lithia, um reino rico e cheio de histórias envolvendo anjos e nefilins. Sempre teve certezas sobre tudo na vida...