Capítulo 6 - A guerra se aproxima

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.•**•..•**•..•**•..•*ETHAN*•..•**•..•**•..•*

   Todo mundo saiu atordoado da sala. Minha mãe costumava contar histórias sobre os anjos para mim. Mas quando ela adoeceu, eu rezei para eles, o tempo inteiro, e, mesmo assim, ela se foi. Eu perdi a fé. Mas o que eu vi ali...

   —Ethan —Kaya me cutucou —, você acredita nisso?

   Era uma pergunta que eu também estava me fazendo. Foi muita informação para pouco tempo.

   —O único dom que eu tenho é fazer merda.

   Ela riu.

   Nós dois estávamos no pátio, em um banco de ferro que congelava nossas bundas. Ela viu o quão atordoado fiquei e resolveu ficar comigo.

   —Não pensei que se importasse comigo.

   Ela tirou os olhos do céu e os pôs em mim. Caralho... Acabei desviando os meus quando nossos olhares se cruzaram.

   —Você é minha responsabilidade, Ethan. Se sua cabeça não estiver bem, você não estará.

   Eu assenti e comecei a sacudir a perna.

   —E você acredita?

   —Eu vivi coisas suficiente para julgar.

   O banco inteiro sacudia junto com a minha perna. Ela pousou a mão sobre ela para que eu parasse. Não parei por conta do movimento mas, sim, porque senti uma agonia na região onde ela me tocou.

   —O velho pode ter razão —Falou, por fim.

   Voltou a olhar para cima. A lua dominava o céu ao lado de algumas estrelas. De repente, a cor do céu começou a se tornar azul claro, como se o dia estivesse começando.

   —Que porra é essa? —Olhei para o lado. Kaya sumiu.

   Na verdade, eu não estava mais nas redondezas do castelo. Eu estava no quintal da minha casa. Minha mãe estava lá com meu irmão. Eles estavam lavando roupa. Bem, Enrico tentava ajudar. Ele devia ter seis anos. Eu reconheci aquele dia. Droga.

   Eu estava na puberdade, período em que nossos hormônios explodem, as emoções ficam mais loucas e complicadas que são. Eu odiava ter que ajudar minha mãe enquanto todos estavam brincando na rua ou conversando na praça, mesmo que agisse como se não.

   —Sabe que precisa aprender a fazer as coisas, Ethan —Minha mãe falou.

   Colocou mais uma roupa no varal e tirou o sabão da mão do meu irmão. O eu do passado estava no canto do quintal, resmungando enquanto esfregava o chão. E, então, eles invadiram. Uma gangue atacava a cidade há mais de um mês e dois homens invadiram nossa casa naquele dia. Um dos piores dias da minha vida. E eu tive que assistir tudo de novo.

   Um deles segurou minha mãe e a arrastou para um quarto. Pude ouvir seus gritos de socorro e não pude fazer nada. Primeiro porque minhas emoções me fizeram travar. E, segundo, porque o outro idiota segurou meu irmãozinho, me ameaçando. Ele pressionava uma faca contra sua garganta. E eu chorava, me senti um completo inútil, tanto agora quanto no passado. Enquanto um monstro estuprava minha mãe, o outro ria de tudo, marcando o pescoço de Enrico com um corte superficial.

   Eu reagi. Peguei meu arco e mirei na cabeça do homem. Mas ele foi mais rápido e cortou o pescoço do meu irmão. Desta vez para matar. Soltei a corda e a flecha acertou seu olho. Mesmo tendo matado o homem e feito o outro fugir quando viu o amigo morto, ainda assim, meu irmão estava morto e minha mãe, inconsolável, em choque no quarto. Eu, agora, comecei a gritar, querendo que aquilo fosse embora, desejando acordar daquele sonho horrível, que eu não sabia nem porque apareceu agora. O medo, o ódio e o remorso me tomaram de novo, como naquele dia.

   E, então, eu comecei a sentir uma falta de ar enorme. Quanto mais eu tentava puxar, menos conseguia. Eu caí. Então, tudo mudou de cor novamente. Eu estava de volta no castelo, no pátio. Ainda não conseguia respirar direito. Eu já tremia, agonizando. Uma luz forte surgiu e, em seguida, duas imagens se formaram. Pareciam pessoas normais. Um homem e mulher. A diferença era que seus olhos estavam esbranquiçados.

   —Ethan Luzern —A mulher chamou e, com um pequeno gesto com a mão, me fez respirar novamente —, suas emoções podem te atrapalhar.

   Puxei o ar com força, ofegante.

   —Quem são vocês? —Perguntei, minha voz falhando.

   —Uziel e Amitiel —O homem falou, apontando primeiro para a mulher e depois para si.

   —Vocês são... —Não era possível.

   —Anjos —Ele completou, assentindo. —Viemos aqui apresentar-lhe seu dom.

   —Como esperam que eu acredite em vocês?

   —Estamos em seu sonho, não estamos? —A mulher sorriu.

   Fiquei alguns segundos tentando processar aquilo.

   —Espera —Fiquei de pé. —Por que...?

   Mesmo sem ter terminado a pergunta, eles entenderam como ela seria e Uziel - representado pela mulher - falou:

   —Sua rainha Eleanor nos pediu para abençoá-la, Ethan. Você ouviu a história. Ajudamos quem em nós tem fé.

   —Eu também pedi milagres —Não pude evitar o tom mais alto. — Vocês não me ajudaram.

   —Algumas coisas não podem ser desfeitas. Nem mesmo por nós —Amitiel falou.

   Uziel se aproximou, estendendo a mão, a palma virada para mim. Senti um ardor dentro de mim, algo que tomou meu peito e o encheu de certeza e paz.

   —Você já recebeu seu dom. Espero que saiba usá-lo bem —Disse.

   —Como pode ser um dom se eu não considero um presente? Eu não quero fazer isso! —Falei.

   —Demos a vocês o livre arbítrio, Ethan—Uziel falou. —Você não é exceção. Pode fugir, se quiser. Mas o dom não o abandonará e muito menos as pessoas que insistem que você o faça.

   Eu não sabia mais como contra-argumentar. Afinal, o anjo estava certo.

   —Agora, vá. A guerra se aproxima. Você precisa se preparar —Mais um gesto de Amitiel me fez acordar.

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Oi, meus xuxuzinhos,

    E aí, o que acharam?

   Ethan recebeu uma mensagem direta dos anjos. Que loucura! E ele e Kaya passaram minutos conversando sem brigar. Isso é um recorde!

    Até quinta! ❤️

    Espero que estejam gostando.

Obrigada a quem está acompanhando 💙

Não esqueçam de dar a estrelinha e comentar bastante! ✨

    Beijos de luz ✨,

     Anaaclarag 💙

Os Dons de Lithia: Entre o Amor e a Guerra Onde histórias criam vida. Descubra agora