2033 [EM EDIÇÃO]

12/12/2030

Fi-nal-men-te!

De férias! Estou de férias!

Oh, bem. Estou de férias desde o dia primeiro, mas estava ocupado, esqueci de escrever (e não sei se eu realmente deveria me explicar para um papel que ninguém irá ler, mas é isso aí). 

Estava arrumando tudo para a viagem e, agora, no ônibus, estou aproveitando o tempinho para dar minha preciosa desanuviada. Não é que eu gostei de fazer isso? :)

Ganhei passagens para passar a virada em Salvador, tem algo mais incrível que isso?!  Claro, foi no sorteio do mercado do meu bairro, mas não é como se eu costumasse ganhar alguma coisa. Nem no bingo eu ganho, mas dessa vez foi uma sorte tremenda!

Tipo...Nossa, é Salvador! Sempre quis visitar essa cidade - apesar de que, sinto que estou indo no momento mais errado possível e isso tem me deixado ansioso, odeio profundamente bagunça e pessoas juntas. 

Talvez eu devesse ter trazido alguns remédios extras. Eu acabei não pegando porque a doutora Thalita disse que tudo bem, era normal ficar nervoso assim mesmo, especialmente por estar fazendo algo que odeio, essa coisa de Réveillon e tals. Não sou o tipo que gosta de praia e queima de fogos junto com todo mundo, isso me perturba e nem chegou o dia. O jeito vai ser "esquecer" os remédios e encher a cara. U-hul. 

....Voltando à seriedade, decidi ir algumas semanas mais cedo para encontrar minha família, passarmos o natal juntos pela primeira vez em anos.

Nós nunca nos demos muito bem desde que eu saí de casa. Meus pais voltaram para o Ceará com minhas irmãs sem nem me comunicar, logicamente. Depois de seis anos de silêncio mútuo, quem diria que estariam em Salvador, não? Foi uma surpresa agridoce quando minha mãe disse que eu não precisaria gastar dinheiro com hotel para ficar com ela... Dá até um medo, depois de tudo, encará-los de novo. Confesso que não queria ir, porém, o bolso gritou para aceitar essa proposta. Espero que eu não me arrependa, depois de tudo. Mas também, se ela fizer merda desta vez, foda-se. Eu saio de novo e não tô nem aí.

Não é como se eu tivesse esquecido a mágoa da homofobia de merda do meu pai e, sinceramente, se ele não tivesse sumido do mesmo jeito que o Michael, eu nunca ia aceitar pisar no mesmo recinto que a minha família. E nem chamaria de família, só pra começar.

Minha mãe diz que ele sumiu e a Dalila também. Dalila era minha irmã caçula que eu nem cheguei a conhecer, ela só tinha três anos. Três anos. Puta merda... Mamãe começou a chorar depois de me dizer isso, porque agora ela não pode mais ter nenhum filho. Ela disse que realmente queria me ver. No fim, acabei conseguindo adiantar as passagens do sorteio só que tinha apenas ônibus, adeus, classe executiva do avião.

E olá para passar um dia inteiro sentado. Que morte horrível.

Depois de falar com minha mãe, fiquei pensando em que tipo de lugar pessoas tão diferentes como o Michael, meu pai e minha irmã de três anos poderiam ter algo em comum? Não sei por que ainda teimo em pensar nisso, mas de vez em quando fica essa dúvida, esse vazio inexplicável, um "por quê?" que nunca tem resposta decente.

A Laura me mandou alguns trabalhos para fazer mesmo de férias ontem, para "aproveitar que vai pra Salvador", pode isso? Que mulherzinha chata, ela e aquela namorada metida dela...

Onde eu estava? Por que estou escrevendo isso? Que tipo de devaneio gostoso é esse de falar comigo mesmo que eu nunca descobri? Agora estou rindo disso e fiquei de bom humor até.

No fim, nem tem sentido reclamar, eu gosto de trabalhar, no fim das contas e estou até um pouco aliviado, seria muito entediante dormir o tempo todo ou ficar olhando para o nada.

Ai. Meu. Deus! Meu Deus! Que homem lindo que sentou aqui do meu lado! 

Ele está me olhando escrever! OMG! OMG! >_<

Espero que minha cara esteja de intelectual sexy e não de pinscher com ódio do mundo... Ok, ele leu alguma cois

                         
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