15/01/2031

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É bem cedo agora, e a energia acabou de ser cortada de novo, por isso decidi aproveitar e escrever no sol da manhã. Apesar de ser um hábito medieval, é curiosamente inspirador sentar aqui na varanda e ficar olhando o sítio, os cachorros do meu lado e o som agradável dos pássaros nas árvores. É bonito. As vezes esse isolamento me faz questionar se realmente tem acontecido tanta coisa que o rádio nos passa. Sinto que preciso que colocar as ideias no lugar, tudo tem sido absurdamente surreal.

Primeiro, quero mencionar o que aconteceu esta noite: foi a primeira vez que a energia durou das 18h as 5h. Meu celular carregou depois de quase seis dias completamente morto, mas a rede que é bom, nada. Escrever tem se tornado a única coisa que me diverte. Não sei explicar esse efeito, talvez seja tédio o nome, porém, quanto mais escrevo, me sinto um pouco melhor para lidar com as situações ao meu redor. A única coisa ruim é a dor no pulso, mas acho que dá pra aguentar ou talvez quando tudo voltar ao normal, eu faça um blog, mas é tanta coisa que, sinceramente, tentar digerir tudo é bem complicado. Não sei qual é a ordem de importância e nem o que deveria ser registrado, não faço ideia de que rumo quero dar a isto aqui. Não sou um jornalista pra dar notícia, nem comentarista, nem nada. Mas contar faz bem, diz a terapeuta. 

Eu tava aqui olhando para as árvores e pensando no quanto eu não quero morrer, mas a vida é estupidamente frágil. Pessoas morreram num piscar de olhos, num momento feliz, com tanta esperança, cercadas de certeza e de normalidade. Ainda é surreal pensar que simplesmente várias cidades tão importantes não existem mais, sem falar o número tão alto de perdas. E isso afeta tantos pontos que eu nem tenho realmente noção de todos. A economia, a saúde, o turismo... Tudo vai embora. Tipo, hotéis, resorts, bancos, centros econômicos, mercados, portos! Cara, como que os países vão se reerguer?  Ontem assistimos o jornal juntos durante a noite. De algum jeito, essa determinação frívola e impessoal da imprensa de seguir dando notícias é estranhamente reconfortante. O governo diz que tem feito tudo o que está em suas forças para conter a calamidade pública, mas o país segue em estado de emergência e a maior parte das ajudas humanitárias nunca chegam onde precisa. São todos um bando de incompetentes. Mal tiramos aqueles radicais de extrema direita do poder e elegemos mais um inútil. No final da noite, recebemos a notícia que o presidente e o vice de mataram com um tiro na boca. Não foram só eles, muitos políticos lá de fora estão fazendo o mesmo com tanta crise nas mãos, é algo sem precedentes. Mas vou ser honesto, aqui no Brasil eu acho que se mataram por conta do escândalo da Cesta Básica, era isso ou o pessoal lá em Brasília ia matá-los com as próprias mãos. 

Ao menos uma boa notícia nisso tudo é que finalmente a ajuda internacional chegou e veio de Israel. Achei que depois do problema com a Palestina, os judeus iriam querer ver a gente queimando, mas parece que não. Eles estão bastante determinados a querer paz e harmonia com o resto do mundo, especialmente os muçulmanos. 
Aliás, agora pensando, é no mínimo curioso que o novo líder da ONU seja de Israel. Ele tem propostas que virão a calhar no momento e parece ter um plano de ação conciso para reestruturar o mundo. É reconfortante ouvi-lo falar e ele parece convicto do caminho certo a ser seguido politicamente, economicamente e humanitariamente. Nunca quis tanto acreditar em alguém da ONU como agora. Na realidade, todos nós estamos desesperados por um líder melhor que nossos presidentes. Em todos os países é bem óbvio que a democracia só tem elegido um pior que o outro. Depois do impeachment dos dois últimos presidentes dos Estados Unidos, está cada vez mais claro que o mundo precisa um líder que saiba o que está fazendo. Acho que já sofremos com barreiras o suficiente. Esse desastre apenas provou que somos todos um povo só e que esse isolamento dentro de fronteiras é uma perda de tempo.


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