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Pouco antes de estacionar o carro, ela tinha lhe enviado uma mensagem. Era para tocar a campainha quando subisse. Estranhou a ordem. Estava acostumado com a porta destrancada ou tendo de abri-la com a chave que tinha recebido dela quando completara dois meses de submisso. Estava de calça jeans, sapatênis azul claro, blazer azul marinho e camisa social branca. Sob a calça vestia o cinto e uma cueca de fio dental.
Toda vez que entrava no apartamento dela vinha um misto de aflição, receio, medo, tesão, como se a vida estivesse a um fio e esse fio estivesse nas mãos dela. Tocou a campainha. Parecia vir de dentro o som de música.
A porta se abriu. Ele tomou um susto ao ver que não foi aberta por ela, mas por uma outra mulher alta, morena, cabelos longos lisos, lábios carnudos, que vestia uma calça jeans apertada e um top branco apertado que realçava os turbinados seios que pareciam de silicone. Ele ficou por um instante sem saber se tinha tocado no apartamento errado, se tinha havido algum engano, mas a morena à frente percebeu a hesitação e sorriu.
- Pode entrar, sua dona me pediu pra abrir a porta... – ela disse isso sorrindo o encarando.
Em um segundo, o rosto dele ficou roxo. Ele levou os olhos ao chão e colocou as mãos atrás das suas costas. Ela abriu mais a porta e deu espaço para que ele entrasse.
- Carla, prazer – disse ela com uma voz rouca, um timbre desafinado.
- Prazer, Augusto – disse com uma voz ofegante, nervosa.
Ele entrou e viu que a sala estava iluminada por luz indireta e a televisão estava ligada sem som em um filme qualquer. Havia um aroma de incenso no ambiente. Logo sua dona apareceu sorrindo para ele. Aproximou-se dele e deu um beijo longo e molhado de língua.
- Vi que você conheceu a Carla, né?
- Sim.
- Ela é uma amiga colorida que conheci dias desses e que abri meus segredinhos...
Ele olhou para ela com um misto de preocupação, medo, tesão. Ela sabia que ele não gostava de que ficassem sabendo o que poucos sabiam. Tinha medo. Ela entendeu o olhar.
- A Carla não é daqui, ela mora na Alemanha e os segredos só dizem respeito a nós, até porque a Carla também tem um segredo. E a festa vai ser só nós três. Ninguém mais, prometo.
As duas se entreolharam e riram. Ele se sentia ainda mais inseguro. Encarava os pés.
- Sabe o que eu quero?
Ele ficou em silêncio no início, depois falou baixinho:
- O quê?
- Primeiro, que você olhe nos meus olhos.
Ele levantou seu olhar e a encarou.
- Agora quero que você me deixe muito tesuda e sabe como?
- Como?
- Vai ao banheiro, tira sua roupa e venha para cá só de cueca.
Ele olhou para ela como dizendo que estava preocupado com a companhia que não conhecia, que não queria expor sua intimidade à estranha que ele mal sabia mais que o nome.
- Bebê, deixa disso, hoje é festa, festa de dez meses e pode ter um grande prêmio: o seu gozo. Não se preocupe com a Carla, ela não vai te filmar, gravar, nada disso.
- Não tenho nada a fazer com você, Augusto. Confia, eu também tenho meu segredo que você vai descobrir.
Maria se aproximou dele e beijou a boca dele. Pôs a mão sob a saia que vestia e trouxe dois dedos molhados à boca dele. Estava encharcada.
- Vai, bebê!
Ele foi ao banheiro. Demorou alguns minutos para sair de lá só de cueca e de cinto.
Quando chegou à sala, as duas sorriram.
- Meu Deus! É de verdade mesmo.
- Sim, te falei. Cinto de castidade moderno, não como o da idade média.
O rosto dele ficou todo roxo de novo. As mãos pinicavam.
- Vem, bebê, vem mais perto porque a Carla nunca viu um de perto, achou que era mentira.
Ele se aproximou das duas.
A parte frontal da cueca mal escondia o dispositivo de plástico e metal que impedia ereção.
- Ele usa sempre?
- Está em uso diário...desde quando, bebê?
- Dois meses.
- Ele não pode nem ficar de pau duro?
- Ele fica quando eu tiro pra limpar. Só nesses poucos minutos, alguns dias da semana.
- Há quanto tempo ele está sem gozar?
- Quanto tempo, bebê?
- Dois meses.
- Quanto tempo você está sem me penetrar, bebê?
- Três meses.
- Meu Deus, nunca tinha visto um cinto. Não sabia que isso era de verdade, que ele poderia ficar preso sem bater umazinha tanto tempo.
- É o tempo, é a dedicação, é o esforço, é a obediência, é a ordem, um conjunto de coisas. Ele sabe que ao ceder a liberdade ele se encontra, ele tem o que ele sempre quis, mas tentou evitar.
- Ele só goza quando você quer?
- Sim, quando se perde a liberdade das pequenas coisas é que se vê como a entrega é completa. Os homens são educados a se masturbarem quando querem, a mijar de pé, a fazer o que querem, então é preciso desconstruir.
- Nossa, é verdade, ele não pode mijar de pé no meio do banheiro masculino, né?
- Não pode, pode, bebê?
- Não.
- Por quê?
- Porque outros veriam que eu tenho cinto e eu preciso fazer xixi sentado pra evitar sujeira.
- Meu Deus! Que loucura.
- Quanto mais casto, mais obediente, mais disposto a servir e a acatar novidades, a explorar novas fronteiras.
- Onde essa loucura continua?
- Não somos loucos, não, Carla. Apenas não somos baunilhas. Se muitos gostam de amarelo, uns podem gostar de verde, né? Mas temos vários outros fetiches, por exemplo, tira a cueca, bebê.
Ele tirou a cueca fio dental e deixou-a cair ao chão. Ficou apenas com o cinto em que uma baba escorria pela parte frontal do dispositivo.
- Dá uma viradinha, dá.
Ele virou-se de costas para as duas.
- Viu essa bunda deliciosa que ele tem?
- Bem gostosa mesmo.
- Tenho aproveitado bem dela, sabe?
- Como?
- Como você acha? Comendo ela, adoro inverter ele, adoro fazer ele andar com plug por aí e ele sabe que na condição dele ele só pode gozar de um jeito.
- De um jeito?
- Qual jeito, bebê?
- Preenchido.
- Preenchido?
- Sim, se ele me penetra ou se ele goza, está sendo plugado ou sendo comido. O orgasmo dele mudou. Não vem mais apenas pelo pau, mas pelo cuzinho.
- Tá crescendo essa moda da inversão, né?
- Eu sempre fui adepta, Carla.
- Eu também, apesar de adorar dar.
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A máscara
General FictionEle tinha 41 anos, era empresário bem-sucedido, divorciado, parecia viver para o trabalho. Era o primeiro a chegar, o último a apagar as luzes. Ele parecia perfeito demais. Devia ter um segredo a esconder. Todos usavam máscaras. Talvez naquele bar e...